Apesar de haver uma conjuntura adversa na generalidade da indústria e de isso se sentir com especial incidência no setor da mobilidade, a fileira das duas rodas portuguesa apresenta-se como um caso de estudo, capaz de crescer a contraciclo.
Hoje em dia são vários os desafios que os empresários nacionais têm que superar. A escassez de algumas matérias-primas e componentes, os preços que dispararam, juntamente com os transportes e a energia, obrigam a aceitar prazos de entrega longos e enfrentar a natural subida de preços.
No entanto, o setor das duas rodas e mobilidade suave português, apesar de manter um crescimento constante e sustentado há mais de duas décadas, de ter sido o maior exportador de bicicletas em 2019 e 2020, prepara-se para fechar mais um ano com crescimento positivo. Prevê-se que, face a 2020, o setor cresça mais de 30 por cento.
Os números que Portugal regista não acontecem por acaso.
Um novo paradigma de mobilidade, mais responsável, menos poluente e saudável, encontrou na bicicleta, nas suas várias formas, o meio ideal de transporte. As duas rodas conseguiram assim ganhar cada vez maior expressão, que por sua vez foi acelerando com a pandemia e a subsequente busca de um meio de transporte que também permitisse o isolamento social.
Os fatores, os motores da procura, estão identificados, mas de nada serviriam se a fileira portuguesa não se tivesse preparado. As tendências do mercado há já vários anos que são seguidas pelos empresários, com a ABIMOTA à cabeça, mas há um momento fundamental, em 2015, quando o setor se dá a conhecer ao mundo.
O programa Portugal Bike Value foi esse fator. A criação de uma marca ‘guarda-chuva’ para a fileira nacional permitiu que o coletivo partisse em busca e, sobretudo, se afirmasse em novos mercados, e dessa forma é mais fácil encarar os tempos adversos que a Europa atravessa.
É também um sentimento generalizado no velho continente de que é necessário encurtar as cadeias de distribuição, de promover a reindustrialização e, dessa forma, diminuir a dependência de mercados externos e, muitas vezes, longínquos. Além disso, essas cadeias mais curtas reduzem também substancialmente a pegada ecológica do produto, pois menos transportes significam menos emissões.
Este é, portanto, mais um ano ‘dourado’ para a mobilidade suave portuguesa, mas isso não acontece por acaso e os mais 30 por cento de crescimento são disso exemplo.