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Green Future-AutoMagazine

O novo portal que leva até si artigos de opinião, crónicas, novidades e estreias do mundo da mobilidade sustentável

Mobilidade Inclusiva

Opinião de Stefan Carsten

As nossas sociedades são diversas e únicas, mas as necessidades de mobilidade daí resultantes ainda não se refletem no planeamento urbano e dos transportes. O resultado: muitas pessoas experimentam restrições à sua mobilidade. Pessoas com deficiência física, mental ou cognitiva têm requisitos especiais no que diz respeito ao acesso a transportes públicos e espaços públicos. Isto também se aplica a migrantes e membros de minorias religiosas e sexuais, que têm necessidades especiais relacionadas com a sua segurança pessoal. As crianças e os idosos precisam que o trânsito seja mais lento, nas cidades, para que se possam movimentar em segurança. As mulheres, que desempenham muito mais o papel de cuidadoras do que os homens e, por conseguinte, estão envolvidas de forma diferente no mundo do trabalho, têm percursos de viagem mais complexos e necessitam de bons transportes públicos e novos conceitos de veículos para garantir a sua qualidade de vida, mesmo fora das clássicas horas de ponta.

A mobilidade inclusiva é um tópico importante mas é recorrentemente esquecido. São necessários exemplos? Milhares de pessoas viajaram para ver o Mundial de Futebol no Catar – de avião. De acordo com as estimativas, cerca de 6.500 pessoas do Nepal, Bangladesh e outros países morreram durante a construção dos estádios construídos para o torneio. A braçadeira One Love revela uma tentativa de mobilização de valores sociais.

34.000 delegados de todo o mundo viajaram até Sharm el Sheik para a conferência das Nações Unidas sobre o clima. Entre outras coisas, discutiram pagamentos compensatórios aos países mais pobres, que são mais afetados pelas consequências catastróficas das alterações climáticas, pelos países que são largamente responsáveis por essas alterações.

Atualmente temos essencialmente uma mobilidade feita para homens em espaços urbanos feitos para homens. As estradas que moldam as nossas vidas foram construídas para levar o trabalhador masculino até à fábrica, de manhã, e conduzi-lo a casa no final do dia. Apesar de praticamente tudo se ter alterado nos últimos 60 anos, as ruas são essencialmente as mesmas. Novas perspectivas sobre mobilidade, sobre sustentabilidade e sobre as necessidades de todos os grupos sociais estão a alterar isto.

No futuro, a mobilidade será mais fácil para as pessoas com deficiência, mas o progresso tem sido lento. Estão disponíveis cada vez mais produtos e serviços para estes utilizadores. Pessoas com deficiências motoras terão mais alternativas graças a novos conceitos de bicicletas e de micromobilidade, muitas vezes assistidos eletricamente.

Nos Países Baixos, graças a ciclovias suficientemente largas e a percursos velocipédicos seguros, idosos e pessoas com deficiências motoras podem movimentar-se de forma independente. O governo encoraja a compra de veículos adaptados como triciclos, bicicletas tandem, bicicletas de mão ou bicicletas tipo scooter, muitas vezes com assistência elétrica. Bicicletas como estas fazem parte natural da paisagem urbana dos Países Baixos, o que permite que muitas pessoas, de outra forma dependentes do apoio de terceiros, possam viajar de maneira independente e experimentar o prazer de andar de bicicleta.

Ao mesmo tempo, as barreiras físicas nos transportes públicos estão continuamente a ser desmanteladas – mesmo que esta conversão aconteça muito devagar. Existem cada vez mais plataformas elevatórias e as aplicações móveis podem conduzir o utente diretamente ao seu lugar através de sinais sonoros ou sistemas de navegação especiais.

No entanto, existe muitas vezes falta de espaço para cadeiras de rodas ou para pessoas com deficiência, em comboios e autocarros que estão pouco preparados para as receber. O transporte público, em particular, é mais um meio de transporte de massas do que uma oferta para pessoas com necessidades especiais. O bilhete de 9 euros na Alemanha é um triste exemplo disso: ao mesmo tempo que as multidões estavam felizes e contentes com a nova abordagem à mobilidade e os autocarros e os comboios estavam cheios, pessoas em cadeiras de rodas tiveram de ser excluídas. Simplesmente não havia espaço para elas.

Contudo, no futuro, o mais importante meio de transporte será provavelmente o veículo autónomo. Pessoas que não vêem bem ou que têm perturbações físicas ou psicológicas e que, por isso, não podem conduzir em segurança, estão dependentes de terceiros, numa perspetiva pessoal ou organizacional. Como, por exemplo, a Irene, que vive num condomínio fechado na Flórida. A Irene é dependente do marido para a sua mobilidade diária: se ele não está disponível, ela já não pode executar tarefas, encontrar-se com amigos ou ir ao médico, uma vez que é cega. Mas daqui a alguns anos, a Irene já não precisará do seu ‘motorista pessoal’ porque já existem veículos autónomos que ela pode usar para se movimentar pelas redondezas. Estes veículos estarão disponíveis com frequência cada vez maior, no futuro, ao mesmo tempo que os avanços da Inteligência Artificial asseguram que aprendem a compreender novas formas de interação; comunicam com o seu ambiente e com as pessoas. Desta forma, os veículos e os serviços podem adaptar-se às capacidades e necessidades de cada utilizador individual. 

Os veículos autónomos transformar-se-ão portanto no mais importante meio de transporte inclusivo do futuro. Podem ser reservados e solicitados sempre que necessário. Não existem tarifas nem horários que regulam a sua utilização. Serão em geral mais baratos de usar do que as variantes atuais. Podem ser tudo: transporte público, fornecedor de serviços privados ou até o veículo cooperativo de um grupo ou associação.

Mesmo se a sociedade inclusiva e a mobilidade inclusiva são ainda uma realidade distante, devemos hoje continuar no caminho de melhorar significativamente a participação social das pessoas com deficiência. Vamos olhar para este futuro juntos, porque é mais justo do que o sistema atual.

Stefan Carsten, consultor e especialista na área do Futuro das Cidades e Mobilidade, vive o futuro há mais de vinte anos. É um dos responsáveis pelo início da transição da indústria automóvel de um setor centrado no veículo para um setor centrado na mobilidade. Vive e trabalha em Berlim.

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