Neli Valkanova, Secretária Geral da ARAN – Associação Nacional do Ramo Automóvel
A pandemia COVID-19 trouxe, para além da problemática relacionada com a crise sanitária, uma profunda alteração dos hábitos da sociedade a nível mundial. Em simultâneo, instalou-se uma crise económica global comparável só com a crise de Grande Depressão de 1929. Os especialistas estão a analisar os dados económicos, mas uma coisa é certa – a recuperação será lenta e difícil, com uma grande mudança em todos os setores de atividade, da economia e nos comportamentos das pessoas.
“É importante fazer uma reflexão sobre as consequências ambientais da pandemia, como as comprovadas reduções de CO2 nas cidades, o ar mais limpo que se respira. Poderemos dizer que a COVID-19 foi também uma espécie de alarme nas consciências das populações.”
Durante os últimos meses falou-se muito sobre o impacto enorme da crise sobre o setor automóvel, com quebra nas vendas até 90% e na resiliência do pós-venda, com forte motivação e otimismo das pessoas do setor na recuperação da economia. Por isso não irei abordar este tema. Todos sabemos que o setor automóvel esteve na primeira linha de combate de pandemia, com serviço público exemplar, forte e firme.
Reinvenção da vida normal
Mas vamos falar de mobilidade. Que tipo de mobilidade teremos, então, no pós-pandemia?
Com a volta gradual à nova realidade, depois de um período de muitas restrições, está, agora, a procurar-se a reinvenção da vida normal, do modo como irão ser feitas as deslocações e os meios escolhidos. Não há dúvidas de que a mobilidade vai mudar substancialmente. No âmbito desta ‘nova normalidade’, a prioridade cai no espaço e o meio de deslocação. O uso de veículo automóvel será, provavelmente, a prioridade nos próximos tempos. Além disso, no uso dos transportes públicos, além das medidas de higienização e limpeza dos meios, a prioridade passa pelo uso de máscara e pelo distanciamento físico. Não esquecer também a revolução digital, com conceitos de big data e de carpooling e carsharing a serem vitais para criar mobilidade de alto rendimento.
A mobilidade urbana está perante um enorme desafio de criar soluções para conglomerados de pessoas que vivem em grandes cidades. É aqui que entra o já referido big data com capacidade de analisar os movimentos de veículos, de pessoas, os semáforos, sempre com o objetivo de criar uma organização de mobilidade com maior eficiência. É necessário melhorar substancialmente as redes de mobilidade e desenvolver os espaços públicos para contribuir para maior nível de qualidade de vida.
A procura de mobilidade é cada vez mais diversificada. Os padrões são moldados para conveniência e capacidade de viajar de forma independente. A mobilidade individual é de tal forma importante que não irá ser abandonada e nas próximas décadas, com o automóvel a continuar a ser, previsivelmente, a forma de transporte que garante flexibilidade de tempo e localização.
Construtores automóveis e mobilidade
A preocupação dos principais fabricantes de automóveis já não é apenas vender carros. Estes grupos têm a clara noção de que é necessário repensar as suas atividades para criação de valor acrescentado para sociedade em termos de criar melhor qualidade de vida para futuras gerações.
Por outro lado, temos a mobilidade inteligente que, gradualmente, irá alterar o conceito do carro como o conhecemos. O futuro do automóvel tem de ser inteligente e acompanhar as exigências ambientais.
Automóvel sem condutor, mobilidade sustentável, energias renováveis, como eletricidade, sinistralidade zero, foco nas preocupações para preservar o ambiente… Estes são os pilares de evolução da mobilidade, que deverão ser prioritários. Cabe ao Governo a encontrar equilíbrio na implementação dos programas de reconversão e de apoio à transição do setor automóvel e da mobilidade de uma forma integrada para que a transição seja gradual, definitiva e de sucesso.
Neli Valkanova é Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas com Pós-graduação em Direcção Comercial e Marketing. Foi Directora de Marketing de um Grupo de Concessionários e actualmente é Secretária-Geral da ARAN – Associação Nacional do Ramo Automóvel