Uma equipa de investigadores de várias universidades americanas analisou a relação entre a percentagem de veículos elétricos e o tipo de fontes de energia utilizadas na rede, por um lado, e o número de mortes prematuras relacionadas com a qualidade do ar, por outro.
O estudo, liderado por Daniel Peters, da Universidade Northwestern, examinou múltiplos cenários, com diferentes combinações de geração de energia e adoção de VE, nos Estados Unidos. Os resultados mostram que, mesmo com a rede atual, a mudança para VE traria benefícios significativos.
Os investigadores usaram simulações dos índices de qualidade do ar com base em dados de veículos de todo o país, juntamente com os dados de emissões das centrais de produção de energia. Estes dados foram integrados num modelo climático – sendo 2014 o ano de referência –, que simulou também as reações químicas e as emissões de compostos que interagem com os poluentes, com efeitos a nível da qualidade do ar. As simulações resultantes foram aplicadas a um modelo de saúde pública da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (Environmental Protection Agency – EPA), de forma a tirar conclusões sobre o impacto na saúde das populações.
As simulações substituíram respetivamente 25% e 75% dos veículos ligeiros com motores de combustão interna por veículos elétricos, em três cenários para a rede elétrica: a situação-base, real; um cenário ‘limpo’, em que a parcela de energia obtida de fontes renováveis duplica face à situação real; e um cenário extremo em que toda a energia utilizada nos VE é obtida a partir de combustíveis fósseis.
O setor dos transportes é responsável por cerca de um terço das emissões de CO2 nos Estados Unidos. Em todos os cenários analisados neste estudo, as emissões foram reduzidas, com quebras entre 217 milhões e 796 milhões de toneladas por ano. Até mesmo os VE carregados por eletricidade produzida em centrais a carvão produzem menos CO2 do que os veículos de combustão interna. Naturalmente, uma maior percentagem de VE e uma rede mais limpa significam menores emissões.
Qualidade do ar e mortes prematuras
A nível dos índices de qualidade do ar, uma das duas categorias examinadas foi a categoria PM2.5 – partículas pequenas, com 2,5 mícrons ou menos. O tipo de fontes de energia utilizadas na rede é particularmente importante para esta categoria, uma vez que as emissões de enxofre das centrais a carvão são uma das principais fontes deste tipo de partículas.
Para o caso extremo em que a energia utilizada nos VE é totalmente produzida em centrais que utilizam combustíveis fóssil, alguns estados no Nordeste dos Estados Unidos apresentam até menores níveis de poluição por PM2.5. Mas em grande parte do Sul e do Centro-Oeste, os níveis de partículas pequenas foi superior, neste cenário. Combinando apenas os estados do Texas, Flórida, Carolina do Norte e Minnesota, mesmo com 75% de veículos elétricos, ocorreriam mais 130 mortes prematuras por ano em virtude dos níveis de PM2.5. Mas no cenário de uma rede mais limpa do que a atual, estes estados teriam menos 330 mortes por ano.
Para a totalidade dos EUA, a adoção de VE produz uma redução no número mortes prematuras associadas à categoria PM2.5. Se apenas 25% dos veículos nas estradas americanas fossem elétricos, e mesmo no cenário extremo em que a totalidade da energia da rede é produzida por centrais de combustíveis fósseis, as simulações estimam uma redução de 360 mortes prematuras por ano. Para uma conversão de 75%, e no cenário mais otimista, em que a percentagem de energia obtida de fontes renováveis é o dobro da situação atual, haveria menos 2 900 mortes prematuras por ano, nos EUA.
Os investigadores ressalvam que estes números se baseiam numa estimativa conservadora do impacto das partículas pequenas na saúde, havendo outras estimativas que duplicam estes números.
A outra categoria analisada foi o índice de ozono de superfície, produzido por reações entre óxidos de nitrogénio e compostos orgânicos voláteis, e responsável por problemas respiratórios. Nesta categoria, o nível de adoção de VE assume mais importância, já que mesmo as centrais de energia que queimam combustíveis fósseis não produzem e distribuem tanto ozono de superfície como os veículos com motores de combustão interna.
Novamente para uma estimativa conservadora do impacto na saúde pública, a substituição de 25% e 75% dos veículos por VE resultaria em menos 100 a 370 mortes prematuras nos EUA, por ano. Em geral, substituir veículos com motores de combustão interna por VE, ao mesmo tempo que se descarboniza a produção de energia na rede, produz grandes benefícios para a saúde pública e no nível de emissões de gases de efeito estufa.
O estudo apenas produz estimativas para mortes prematuras, mas naturalmente os benefícios de saúde pública estendem-se além disso. Os investigadores utilizam uma estimativa do custo social do carbono – o impacto financeiro da emissão de CO2 – para quantificar os benefícios de ordem económica produzidos por índices mais elevados de saúde pública, utilizando as métricas da EPA. Para um nível de adoção de VE de 25%, e com a rede elétrica atual, a redução de custos é de cerca de 16,8 mil milhões de dólares, chegando até 70 mil milhões quando um nível de 75% de veículos elétricos é combinado com o cenário mais limpo para a rede elétrica.