A Comissão Europeia divulgou no passado dia 8 de Julho a muito aguardada Estratégia para o Hidrogénio, na qual são revelados os planos do executivo comunitário para aumentar a capacidade de produção de hidrogénio da União para 6 GW em 2024 e 40 GW em 2030, a partir dos atuais 1 GW. Será dada prioridade ao chamado ‘hidrogénio verde’, produzido em eletrolisadores alimentados por eletricidade de fontes renováveis.
Frans Timmermans, vice-presidente da Comissão, afirmou que o plano “reforça o Pacto Ecológico Europeu e a recuperação verde”, que perspetiva uma União com zero emissões líquidas em 2050. “A nova economia do hidrogénio pode ser um mecanismo de crescimento para ajudar a superar os danos económicos causados pela COVID-19. Ao desenvolver e implementar uma cadeia de valor de hidrogénio limpo, a Europa tornará-se-á num pioneiro global e manterá sua liderança nas tecnologias limpas”.
A tecnologia do hidrogénio é encarada como uma das mais promissoras estratégias de descarbonização, sobretudo nos setores em que é particularmente difícil reduzir as emissões de CO2, como a indústria química, a indústria siderúrgica e o setor dos transportes, nomeadamente os transportes pesados.
No entanto, é necessário que os custos associados à tecnologia se reduzam substancialmente, em particular o custo dos eletrolisadores, de forma a que esta seja economicamente viável e se possa assim explorar todo o seu potencial ecológico. Atualmente, apenas 1% da energia consumida na União Europeia provém do hidrogénio. Por outro lado, a descarbonização da própria produção é também um desafio: 96% da hidrogénio produzido no mundo é obtido com recurso a eletricidade gerada por combustíveis fósseis – ‘hidrogénio azul’.
Na estratégia agora apresentada, a Comissão Europeia argumenta contudo que existe potencial para uma expansão acelerada do setor, prevendo que a instalação de eletrolisadores alimentados com eletricidade renovável e com uma capacidade total de 6 GW, se traduza em cerca de um milhão de toneladas de hidrogénio produzidos até 2024. Até 2030, com 40 GW de capacidade instalada, a União poderá produzir até 10 milhões de toneladas de H2.
De acordo com a Comissão, a maturidade das tecnologias de produção de hidrogénio através de eletricidade renovável atingirá a sua maturidade entre 2030 e 2050, podendo ser então implantada em larga escala, sobretudo em setores de difícil descarbonização.
A identificação dos projetos a serem financiados no âmbito desta estratégia será efetuada pela Aliança Europeia para o Hidrogénio Verde, que reúne o Banco Europeu de Investimento, autoridades locais e regionais, e representantes de empresas do setor e da sociedade civil. Estão previstos investimentos cumulativos entre 180 e 470 mil milhões de euros em projetos relacionados com hidrogénio verde, e entre 3 e 18 mil milhões para o hidrogénio azul.
Esta última dimensão do plano ligada à produção de hidrogénio azul motivou críticas por parte de vários grupos ambientalistas. William Todts, diretor executivo da Federação Europeia de Transportes e Ambiente, afirma que, apesar de este ser “o plano certo na altura certa (…), o hidrogénio é tão limpo como a energia usada para o produzir, e a utilização de gás fóssil apenas atrasa a descarbonização da economia, com a qual a Comissão se comprometeu”.