As emissões globais de gases de efeito de estufa estão a recuperar rapidamente depois da quebra drástica verificada durante os últimos meses, à medida que os países põem em prática os seus planos de desconfinamento e levantam as restrições introduzidas para combater a pandemia de COVID-19.
No início de Abril, as emissões diárias a nível global eram cerca de 17% mais baixas do que a média de 2019, de acordo com o estudo publicado em Maio na revista científica Nature Climate Change. Contudo, os dados obtidos posteriormente, em meados de Junho, revelam um nível de emissões somente 5% abaixo da média do ano anterior. A China, responsável por um quarto das emissões de carbono do mundo, parece ter retornado já aos níveis pré-pandemia.
No início de Abril, o setor dos transportes, excluindo a aviação, registou uma redução das emissões de 36%, sendo o maior contribuinte para a quebra verificada globalmente. O setor energético e a indústria contribuíram com quebras de 7,4% e 19%, respetivamente. Em conjunto, estes três setores foram responsáveis por 86% da variação registada face a 2019.
O setor da aviação civil foi aquele que registou a maior descida de emissões de CO2 – 60% –, mas representa apenas 10% do total da variação.
Como seria expectável, o recolhimento das pessoas nas suas casas produziu um aumento das emissões residenciais, mas o acréscimo foi somente de 2,8%.
De acordo com o estudo, a redução estimada de 17% nas emissões diárias de CO2 em virtude do confinamento severo e forçado das populações mundiais é extrema e, provavelmente, nunca antes vista. Ainda assim, correspondem apenas ao nível de emissões em 2006. A diminuição anual associada será muito menor – entre 4,2 e 7,5% –, mas comparável às taxas de redução anuais necessárias nas próximas décadas para limitar o aquecimento global a 1,5°C.
O números colocam em perspectiva o grande crescimento das emissões globais observado nos últimos 14 anos, e a dimensão do desafio para limitar as mudanças climáticas, de acordo com os Acordos de Paris. Por outro lado, a redução observada em 2020 será provavelmente transitória, uma vez que não reflete uma mudança estrutural nos sistemas económico, de transportes e de energia.
Ainda assim, existem oportunidades para dar início a estas mudanças estruturais. Segundo os autores, o estudo revela como as emissões do setor dos transportes de superfície respondem a mudanças de políticas e mudanças económicas. O transporte de superfície é responsável por quase metade da redução de emissões durante o confinamento, e as viagens ativas – a pé e de bicicleta, incluíndo as bicicletas elétricas – têm características que permitem manter o distanciamento social, que provavelmente será norma durante algum tempo, e podem ajudar a reduzir as emissões de CO2 e o poluição atmosférica. Por exemplo, cidades como Nova York, Paris, Milão e Berlim estão a salvaguardar espaço público nas ruas para peões e ciclistas, de forma a permitir uma mobilidade individual segura, com algumas mudanças que provavelmente se tornarão permanentes.