Green Future-AutoMagazine

Entrevista: Maria Couto, professora de yoga, terapeuta e blogger

Por Carolina Caixinha

O Green Future AutoMagazine esteve à conversa com a Maria Couto, fundadora do projeto ‘Mãe Guru’, que conta no Instagram com mais de 33 mil seguidores.

Para além de blogger, é igualmente professora de yoga e meditação, terapeuta e “dona de uma luz que a rodeia”.

Maria e Zaya, a sua filha, são “almas livres” que nos inspiram a termos já hoje consciência das nossas ações e do seu impacto no amanhã do planeta.

É usual ouvirmos dizer que após a pandemia o mundo não será igual ao que era antes. Quais as principais alterações e quais as melhores lições que tirou deste período completamente atípico para todos nós?

A principal alteração no meu dia-a-dia foi sem dúvida o abraço, esse cumprimento tão caloroso que teve de ficar em stand by. Acho que uma das maiores lições foi sem dúvida mostrar nos a nossa vulnerabilidade.

Quantas vezes adiamos sonhos e sonhos, para um lá distante que pode nem existir. Chateamo-nos por coisas insignificantes, não dizemos o quanto amamos quem amamos. Isto tudo e muito mais porque simplesmente não trazemos a morte para perto de nós.

Temos a sorte de morar neste cantinho priveligiado no mundo onde podemos dar nos ao luxo de nos aborrecermos com coisas insignificantes … como se fossemos viver para sempre… Como se os que amassemos fossem viver para sempre… Mas não. A verdade é que a única coisa que eu que te escrevo e tu que me lês temos em comum é que vamos um dia ou outro partir. Parece que ás vezes nos esquecemos disso…

Esta frase acompanha-me há muito: “vivo como se fosse o último dia, planeio com se fosse viver mais 100 anos”.

Outra grande lição foi, sem dúvida, mostrar-nos que, por muito que nos achemos independentes, estamos todos e a todo o momento conectados e somos todos interdependentes. Fomos sobrevivendo ao longo dos tempos devido a estas colaborações que antigamente eram tão evidentes mas que hoje em dia parecem quase invisíveis… E veio então um vírus invisível relembrar-nos de tantas coisas…

Do ponto de vista psicológico, certamente as pessoas mais fortes e melhor preparadas ultrapassaram as dificuldades que esta pandemia nos causou. Qual a importância do yoga para o equilíbrio e para aumentar a nosso nível resiliência a todas estas adversidades?

Através de práticas de pranayamas (exercícios respiratórios), asanas (posturas físicas), yoga nidra (sono profundo consciente), kryas (exercícios de purificação) e meditação conseguimos limpar internamente o nosso organismo, o que irá levar a um reforço do sistema imunitário; retiramos as tensões do corpo e consequentemente as tensões da mente; recarregamos baterias, não no sentido de quantidade mas sim de uma enorme qualidade, trazendo realmente a força da energia vital para dentro de nós. Lidamos também com o desconforto e aprendemos aos poucos a relaxar e encontrar um conforto onde não existia.

Com o tempo aprendemos a viver mais no momento presente e deixar de viajar tanto entre o passado (angústias) e o futuro (ansiedade) e ganhamos a percepção da mutabilidade de tudo e todos a todo o tempo, por todos esses factores acredito plenamente que os ‘praticantes’ de yoga consigam adaptar-se melhor a fases de vida mais adversas. Digo ‘praticantes’ pois yoga não é uma prática, mas sim uma filosofia de vida. Ela até pode começar apenas no tapete mas vai muito além dele. Podemos estar em yoga desde o momento em que acordamos até o momento em que nos deitamos. Yoga não é aquilo que é visível a olho nu; ele acontece bem dentro de nós, é a nossa intenção e entrega de coração.

Sem dúvida que as redes sociais e o mundo global, assim como as novas tecnologias, foram uma boa ajuda no sentido de obtermos melhores ensinamentos e regras sempres actualizadas, face à COVID-19 e à distância de um clique. Mas, por outro lado, a propagação da doença é um reflexo do nosso mundo global, em que todos contactamos com todos facilmente e em qualquer parte do planeta. Como descobrir o ponto de equilíbrio para estas duas realidades?

Questão muito pertinente, sem dúvida. Acho que a extrema acessibilidade das viagens de avião a qualquer parte do mundo, por exemplo, poderão começar a ser repensadas e reprogramadas por todos nós.

É um falso barato, uma enorme ilusão, pois existe uma enorme pegada nessa viagem ‘só’ de um fim-de-semana, ou até ‘só’ de uma reunião ou almoço. São viagens que se tornaram muito acessíveis para nós mas quem está realmente a pagar esse valor é o nosso planeta e, consequentemente, seremos todos nós.

Acho que o ponto de partida é a tomada de consciência do real impacto das nossas atitudes, e a partir dai tomar as decisões conforme a consciência de cada um.

Felizmente o contexto atual fez-nos ter mais tempo para uma melhor reflexão sobre o meio-ambiente, sobre novas formas de energia e sobre um mundo mais sustentável. Considera que esta é uma grande oportunidade para a humanidade, no sentido de fazermos as ‘revoluções’ necessárias para termos um mundo melhor?

Acho que é um grito que todos deveremos ouvir. Ou mudamos ou tudo se irá repetir e aí pode já ser tarde demais. Nós, os seres humanos, fomos o animal que mais nos colocou em risco, que destruiu tudo á sua volta em prol de uma ‘evolução’. A hora da mudança é agora. E estamos, sem dúvida, a ter uma oportunidade única na história onde podemos parar, refletir e mudar o que tem de ser mudado.