Green Future-AutoMagazine

Editorial

Uma notícia muito importante que passou (quase) despercebida

Depois de um 2020 muito difícil, era esperança de todos que 2021 marcasse o regresso a uma relativa normalidade. A realidade neste início de ano está, contudo, a ser o oposto daquilo que desejávamos. Numa emergência em que o mais importante é salvar vidas, todas as outras questões perdem importância, e perante a ameaça global da pandemia e a tragédia particular que vivemos no país, com o sistema de saúde pública sobrecarregado, é apenas normal que as atenções estejam todas voltadas num só sentido.

Vivêssemos tempos normais, e talvez o surpreendente anúncio de que a General Motors antecipará o abandono da produção de veículos ligeiros com motores de combustão interna para 2035 merecesse maior atenção, ainda que a voragem mediática não tenha por costume deter-se muito nestas questões. Por outro lado, apesar de ser um dos cinco maiores fabricantes mundiais, a GM tem uma presença residual na Europa – não se vêm muitos Buick e Cadillac deste lado do Atlântico –, e os planos de eletrificação ambiciosos da grande maioria dos construtores europeus, japoneses e coreanos não são novidade para os consumidores do Velho Continente.

Mas esta é uma notícia extremamente importante que, a concretizar-se, pode marcar um ponto de viragem na descarbonização do setor dos transportes a nível global. A GM é a empresa que mais ligeiros vende na China e nos Estados Unidos, os dois maiores mercados do mundo por larga margem. Se o primeiro é um dos mais avançados a nível da mobilidade elétrica, já no segundo a quota de mercado dos electrificados é muito pequena.

O plano agora anunciado pela General Motors forçará seguramente uma profunda redefinição do mercado automóvel norte-americano a diferentes níveis. Dentro de quinze anos, os consumidores dos Estados Unidos e Canadá verão um dos fabricantes mais populares oferecer apenas veículos eletrificados, o que acabará por converter os últimos céticos – que, nessa altura, esperemos não serem já muitos. Os rivais norte-americanos da GM, com destaque para a Ford, estarão desde já sob pressão para acelerarem os seus planos de eletrificação, e as marcas europeias e asiáticas verão o mercado abrir-se para num segmento em que têm mais experiência, reforçando assim as suas estratégias de eletrificação globais. Será ainda necessário um investimento em infraestruturas de carregamento e em estratégias de reconversão de empregos ao longo de toda a cadeia de valor e setores complementares.

A nível sistémico, o anúncio da General Motors, uma das maiores corporações americanas, que gera milhões de dólares e representa milhares de empregos num setores que representa uma grande parcela das emissões de carbono, pode ainda refletir uma menor resistência da corporate America em aceitar que a adoção de modelos de negócio mais sustentáveis e a rejeição completa dos combustíveis fósseis é uma necessidade da maior urgência. A acontecer, as repercussões serão enormes e, porventura, decisivas.

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