Green Future-AutoMagazine

Hidrogénio sim, mas apenas para produzir eletricidade

De acordo com uma análise científica publicada na revista Nature Climate Change, o uso de combustíveis à base de hidrogénio para carros e aquecimento doméstico aumenta o risco de dependência de combustíveis fósseis. Por esta razão, os cientistas afirmam que a eletrificação de automóveis e de caldeiras domésticas é a melhor escolha para combater a crise climática.

Os combustíveis produzidos a partir de hidrogénio podem ser usados ​​como substitutos diretos do petróleo e do gás e podem ter baixo teor de carbono, se a eletricidade utilizada para produzir esses ‘e-combustíveis’ for renovável. No entanto, o estudo descobriu que usar a eletricidade para alimentar diretamente carros e aquecer casas era muito mais eficiente. 

A estimativa desta análise recente é que os combustíveis à base de hidrogénio sejam muito caros e escassos na próxima década. Portanto, equipamentos como caldeiras ‘prontas para hidrogénio’ podem acabar por depender do gás fóssil e continuar a produzir as emissões de carbono que impulsionam o aquecimento global. Por outro lado, alguns setores como a aviação, o transporte marítimo ou produção de aço e de alguns produtos químicos são extremamente difíceis de eletrificar.

A pesquisa calculou que a produção e a queima de combustíveis à base de hidrogénio em caldeiras domésticas a gás exigiam entre 6 a 14 vezes mais eletricidade do que as bombas de calor, para o mesmo nível de aquecimento. Isto ocorre porque a energia é desperdiçada na criação do hidrogénio, depois no e-combustível e depois na sua queima. Nos automóveis, o uso de e-fuels requer cinco vezes mais eletricidade do que o necessário para carros movidos a bateria.

Usar a eletricidade para criar hidrogénio a partir da água e então usar dióxido de carbono para fabricar outros combustíveis pode reduzir o uso de combustíveis fósseis. Mas o novo estudo conclui que pode não funcionar numa escala suficientemente grande para lidar a tempo com a emergência climática.

Os cientistas reconheceram ser necessário recorrer a combustíveis à base de hidrogénio para alcançar a neutralidade carbónica até 2050, contudo alertaram para os enormes investimentos necessários em tecnologia e taxas de carbono, para que isto seja possível. 

Falko Ueckerdt, do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK), na Alemanha, que liderou a pesquisa, afirma que “devemos priorizar os preciosos combustíveis à base de hidrogénio para aplicações às quais são indispensáveis: aviação de longa distância, matérias-primas na produção de produtos químicos e produção de aço”, caso contrário corremos o risco de gastar mais petróleo e gás, reconhece.

Neste sentido, o professor Gunnar Luderer, também do PIK e membro da equipa do estudo, reconhece que “como as metas climáticas exigem reduções imediatas de emissões, a eletrificação direta deve vir em primeiro lugar para garantir um futuro seguro”.