Green Future-AutoMagazine

Scooter-GER A ascensão da Geração da Trotinete – Uma mudança de mobilidade com consequências duradouras

Uma revolução silenciosa, mas profunda, na mobilidade está a ganhar forma nas cidades de todo o mundo. No centro desta mudança está uma geração sem precedentes: a Geração da Trotinete. Urbana, fluente no digital e consciente da sustentabilidade, esta juventude não está apenas a transformar a forma como nos movemos – está a reformular a maneira como pensamos o espaço, a propriedade e a sociedade.

Não socializados pelo automóvel, mas sim pela mobilidade

Durante séculos, a posse de um automóvel pessoal foi um pilar central da identidade e independência em muitas culturas. Obter a carta de condução era, em tempos, um rito de passagem para a vida adulta. Mas para a juventude urbana de hoje, esse paradigma já não se aplica. A Geração da Trotinete é o primeiro grupo a crescer não socializado pelo automóvel, mas sim pela mobilidade – uma mudança com consequências profundas.

Os seus anos formativos foram marcados não por pais a entregar chaves de carro, mas por um toque num telemóvel para desbloquear uma trotinete, bicicleta ou carro partilhado. Deslocam-se pelas cidades de forma fluida, combinando vários modos de transporte: trotinete até ao metro, bicicleta até ao comboio, serviço de transporte privado até à partilha de boleias. Não se trata do veículo – trata-se do acesso.

Esta forma de socialização através da mobilidade partilhada altera a forma como se compreendem a liberdade e a responsabilidade. A liberdade já não é definida pela posse ou pela potência, mas pela capacidade de se deslocar de forma independente, acessível e sustentável – muitas vezes sem necessidade de um veículo próprio.

Do comportamento à infraestrutura: uma nova lógica de planeamento

Estudos de comportamento mostram cada vez mais que as experiências de mobilidade na juventude moldam hábitos a longo prazo. A Geração da Trotinete interioriza o pensamento multimodal como algo natural. Têm menor tendência para desejar possuir um carro, maior propensão para questionar a atribuição de espaço ao estacionamento, e valorizam mais comunidades densas, caminháveis e orientadas para os transportes públicos.

Isto representa um desafio para as lógicas tradicionais de planeamento, ainda enraizadas em pressupostos centrados no automóvel. Porque construir parques de estacionamento gigantes quando os jovens preferem trotinetes sem doca? Porque dar prioridade a vias rápidas quando a procura recai sobre ciclovias e zonas de micro-mobilidade? A socialização em mobilidade desta geração torna muitos investimentos em infraestruturas legadas obsoletos mesmo antes de serem construídos.

Para além do transporte: a camada cultural

A mudança da Geração da Trotinete não se limita à forma como se deslocam – estende-se à forma como vivem, consomem e se relacionam. Têm maior tendência para partilhar casas, subscrever serviços, e ver o consumo através de uma lente de sustentabilidade. São a geração do “menos é mais”, com uma mentalidade nativa digital que prioriza a flexibilidade, a experiência e o acesso em detrimento da posse.

Esta mudança de estilo de vida sustenta os alicerces de uma sociedade sustentável baseada no conhecimento. Para esta geração, a mobilidade não é um fardo, mas sim uma ferramenta de inclusão, participação e ação climática. A sua mobilidade é leve, inteligente e partilhada – e as cidades que compreendem esta mudança já estão a adaptar-se, a repensar o espaço junto ao passeio, a realocar infraestruturas viárias e a integrar plataformas de mobilidade como serviço (MaaS), como acontece em Paris.

Um alerta geracional para as políticas e o planeamento

O surgimento da Geração da Trotinete deve ser visto como um alerta. Marca o fim do automóvel como modelo universal para o planeamento da vida. Cidades, urbanistas e decisores políticos devem reconhecer que a mobilidade já não está ligada ao hardware, mas sim a redes, dados e acesso.

Não se trata de uma moda passageira, mas de uma transformação estrutural impulsionada pela socialização, pela tecnologia e pelos valores. E abre caminho a ambientes urbanos mais saudáveis, mais equitativos e mais resilientes.

Se o século XX pertenceu ao automóvel, o século XXI poderá muito bem pertencer à trotinete: silenciosa, elétrica, partilhada e mais inteligente do que nunca (pelo menos, quando bem estacionada).

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