A inovação tecnológica e a sustentabilidade estão cada vez mais de mãos dadas na construção do futuro da mobilidade. No centro desta revolução está o Técnico Fuel Cell (TFC), um projeto pioneiro do Instituto Superior Técnico, cuja ambição vai muito além do desenvolvimento de um veículo movido a hidrogénio.
Nesta entrevista, exploramos os bastidores do projeto, os desafios tecnológicos que moldam o seu futuro e o impacto que tem na comunidade académica e na indústria. Como é que a equipa do Técnico Fuel Cell vê o caminho para um futuro mais sustentável? Que obstáculos e oportunidades surgem pelo caminho? E, acima de tudo, como é que a engenharia pode inspirar uma mudança real?
- O Técnico Fuel Cell (TFC) nasceu com o objetivo pioneiro de criar o primeiro carro urbano português movido exclusivamente a hidrogénio. Como tem sido para a vossa equipa aliar a inovação tecnológica à visão sustentável que querem transmitir ao público?
O Técnico Fuel Cell não é só sobre engenharia – é também sobre inspirar uma mudança. Queremos que os nossos membros e equipa e as pessoas que vejam o nosso projeto, olhem para o hidrogénio como uma alternativa viável e promissora. Por isso, além do desenvolvimento do carro, dedicamo-nos também a sensibilizar o público e a criar parcerias que nos ajudem a tornar este futuro mais próximo.
- Em 2024, apresentaram o primeiro protótipo – o TFC01 – na presença de personalidades importantes, como o antigo Ministro da Economia e do Mar e o Presidente do IST. Que impacto teve este apoio institucional e empresarial no desenvolvimento do projeto e na imagem do TFC?
O RollOut do TFC01 foi um momento inesquecível para a nossa equipa e marcou um verdadeiro ponto de viragem, tanto dentro como fora do IST. Nos primeiros anos, o TFC ainda era pouco conhecido na nossa instituição, pois, apesar do trabalho intenso, não tínhamos ainda um protótipo para apresentar.
Foram cerca de cinco anos de desafios, aprendizagens e muita dedicação até conseguirmos criar o nosso primeiro veículo. Foi em março de 2024 que finalmente tivemos a oportunidade de o apresentar ao público. Esse momento não foi apenas a concretização de um sonho, mas sim a prova de que somos uma equipa determinada, com ambição e objetivos bem definidos. O RollOut não só reafirmou a nossa presença no IST, como nos deu ainda mais motivação para continuar a inovar e a crescer.
Além disso, o RollOut foi a melhor forma de mostrarmos a nossa gratidão a todos os patrocinadores que tornaram este projeto possível.
- Após a Shell Eco-marathon 2024, onde obtiveram um honroso 6º lugar, decidiram evoluir o TFC01 para uma versão autónoma e elétrica, integrada com Inteligência Artificial, ao mesmo tempo que construíram o TFC02 movido a hidrogénio com um chassis monocoque em fibra de carbono. Quais são os principais desafios tecnológicos nesta nova fase do projeto?
Quanto ao TFC01, o nosso maior desafio neste momento é, sem dúvida, a incorporação da condução autónoma. Na Shell Eco-marathon, a competição de veículos autónomos tem requisitos diferentes da prova convencional com piloto, o que nos obriga a explorar um mundo completamente novo para nós.
Além da otimização do peso já feita no TFC01, estamos agora a trabalhar numa tecnologia que representa um grande salto para a nossa equipa. Para enfrentar este desafio, criámos o novo departamento de Sistemas Autónomos, cuja missão principal é transformar o nosso primeiro protótipo num veículo 100% autónomo.
Acerca do TFC02, temos também muitos desafios pela frente. Prometemo-nos a nós próprios que, para alcançar a melhor eficiência energética, iríamos de ter de reduzir abruptamente o peso do carro, daí avançarmos com o monocoque de fibra de carbono (muito menos denso que o aço usado no TFC01).
- Sabemos que o vosso próximo destino é a Shell Eco-marathon 2025, desta vez na Polónia. De que forma é que o percurso internacional e as exigências de cada competição contribuem para a maturidade e projeção futura da equipa TFC, tanto a nível nacional como internacional?
A Shell Eco-marathon faz com que o Técnico Fuel Cell defina bem os seus objetivos e que una os membros de equipa para alcançar os seus objetivos. Cada competição internacional desafia-nos não só a elevar o nível técnico do nosso protótipo, mas também a crescer enquanto equipa. No último ano, a oportunidade de realizar testes no Autódromo do Estoril, participar em reportagens para a revista ACP, apresentar o RollOut e competir oficialmente fortaleceu ainda mais os nossos membros como equipa. Acreditamos que, a partir deste patamar, não há limites para o que podemos alcançar!
- Olhando para o futuro e para a crescente relevância da mobilidade sustentável, como pensa a equipa do TFC continuar a inovar em projetos de hidrogénio e inteligência artificial, e como pretende inspirar novos talentos do Instituto Superior Técnico e de outras instituições a seguir o mesmo caminho?
Para além de ter criado o 1º carro citadino Português movido 100% a Hidrogénio, nós ambicionamos, num futuro breve, também criar o 1º carro da Europa 100% autónomo e 100% a Hidrogénio!Acreditamos que o Técnico Fuel Cell tem sido uma fonte de inspiração para muitos jovens, incentivando-os a juntarem-se à nossa jornada. Isso reflete-se no sucesso dos nossos recrutamentos, que têm atraído um grande número de alunos interessados em fazer parte deste projeto.
O Técnico Fuel Cell (TFC) confirma que a inovação e a sustentabilidade caminham lado a lado na mobilidade do futuro. Inspira novos talentos e coloca Portugal na vanguarda da transição energética.
A questão mantém-se: estamos preparados para acelerar esta revolução?