Hélder Pedro
Secretário-Geral da ACAP – Associação Automóvel de Portugal
A mobilidade será sempre uma necessidade básica do ser humano e um facilitador essencial para promover o desenvolvimento económico e a qualidade de vida. No entanto, é improvável que as deslocações diminuam: mesmo que a população conduza menos, a necessidade de nos movermos continuará a existir.
O peso da apertada regulamentação europeia, as metas a atingir impostas pelo Green Deal, a mudança de comportamento nos consumidores, o aumento da consciência ambiental e a introdução de soluções inovadoras, potenciam um ecossistema de mobilidade sustentável onde a indústria automóvel desempenha um papel crucial na transição energética para um sistema de transporte sustentável. Assim, a indústria automóvel tem investido fortemente em I&D para fazer face a estes desafios, apostando em veículos mais sustentáveis ao nível da eficiência energética e com menor impacto ambiental. Contribuindo significantemente para a redução de gases de efeitos de estufa, melhorias na qualidade do ar, diminuição na dependência de combustíveis fosseis e permitindo a transição para energias renováveis e para a mobilidade sustentável.
Complementariamente, o crescente estímulo à aquisição e a crescente procura de veículos com soluções energéticas elétricas, e de outras soluções inovadoras de mobilidade, mostra como a questão da sustentabilidade se tornou importante. Em 2020, em Portugal, o peso destes veículos elétricos e híbridos no total de veículos vendidos foi de cerca de 20%.
As funcionalidades de conexão dos veículos a redes de telecomunicações, bem como a conectividade entre estes, o e-call, assim como o 5G, abrem as portas aos construtores para fornecerem serviços feitos à medida para os consumidores.
Adicionalmente, as soluções de partilha de veículos continuarão a transformar o sector automóvel, permitindo o acesso da mobilidade individual àqueles para quem a posse de veículo é impraticável.
A crise pandémica COVID-19 afectou muitas indústrias. O sector automóvel e o sector da mobilidade estão num dos mais afectados. No sector automóvel, por um lado, o aumento da incerteza, resultou no adiamento do consumo de bens duradouros e o consequente aumento da poupança. Por outro lado, as quebras no sector do turismo, originaram uma quebra no mercado automóvel em 2020, de cerca de 34%. O sector da mobilidade foi também afectado por questões ligadas à saúde, higiene e a universalização temporária do teletrabalho. Passou-se, por estes motivos, a privilegiar mais o transporte individual.
Para cumprir as metas estabelecidas no Green Deal, e tal como a ACAP tem vindo a defender, os Governos, em particular o de Portugal, desempenham um papel crucial no apoio à mobilidade sustentável, bem como no relançar da economia portuguesa tão afectada por esta crise sanitária. Assim, a ACAP tem vindo a propor um plano de renovação do parque automóvel, à luz do que foi feito, por exemplo, em Espanha, Alemanha, França, para um progressivo rejuvenescimento de um dos parques mais velhos da Europa, para veículos de baixas emissões, contribuindo para as metas de descarbonização.
Este plano passaria por um incentivo ao abate de veículos em fim de vida, substituindo-os por veículos novos. Em média, estimamos que iriamos retirar de circulação veículos com uma média de emissões de cento e setenta gramas, substituindo-os por veículos com uma emissão média de noventa e cinco gramas. Esta medida, teria um enorme impacto ao nível da redução das emissões de CO2 e do consumo de combustível.
Para além disso, é ainda necessário a reposição dos incentivos fiscais aos veículos híbridos, que são fundamentais para a desejada redução de emissões assim como deve ser aumentado o valor do incentivo à compra de veículos elécricos. O alargamento da rede de carregamento de veículos elétricos deve ser um objectivo prioritário, por forma a responder às necessidades na redução de emissões. Esta renovação contribui também para uma maior segurança rodoviária ao fomentar a utilização de veículos equipados com tecnologias modernas e mais seguras.
Além de melhorar o desempenho ambiental nas fases de produção e de utilização, os fabricantes automóveis têm também promovido, em parceria com os operadores de reciclagem, uma utilização mais circular dos materiais presentes no automóvel quando este atinge o fim de vida. A VALORCAR, uma iniciativa da ACAP, promove uma rede nacional de centros de abate, na qual os veículos são reaproveitados, sob a forma de material ou de energia, em mais de 95%
São estes os desafios que se colocam à indústria automóvel, no futuro!
O autor escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico.