A indústria automóvel está atualmente a viver um período de grandes mudanças. A par da transição do motor de combustão interna para a mobilidade elétrica, os objetivos de sustentabilidade obrigam os fabricantes a reconfigurarem profundamente as suas cadeias de fornecimento e produção.
O Green Future AutoMagazine conversou com Marília Machado dos Santos, diretora da Volkswagen Portugal, sobre a forma como o maior fabricante automóvel do mundo está a dar resposta com estes desafios.
No ano passado, a Volkswagen apresentou um plano de descarbonização ambicioso, o Way to Zero, que prevê que a empresa elimine a sua pegada carbónica até 2050. Em que consiste este caminho para um balanço neutro em termos de emissões de CO2?
É um caminho ambicioso e com metas traçadas que mostram um compromisso real por parte do Grupo VW que até 2050 será neutro em CO2, incluindo veículos, fábricas e processos.
O Way to Zero é um dos nossos projetos mais ambiciosos pois a mobilidade elétrica é o futuro e vamos todos poder beneficiar dela. É esta a base da Volkswagen para melhorar os seus produtos. De forma resumida, as nossas gamas elétricas são produzidas de forma criteriosa e consciente das necessidades ambientais, através do uso racional dos recursos naturais, de materiais sustentáveis e melhorando a sua reciclabilidade.
De acordo com o que anunciámos na nossa primeira Convenção Way to Zero, queremos a redução de 40% das emissões de CO2 por cada modelo na Europa até 2030. Isto é acima do objetivo de 30% que estabelecemos em 2018. Como resultado, vamos conseguir que um Volkswagen emita cerca de 17 toneladas a menos de dióxido de carbono.
Acreditamos que os colaboradores, clientes e stakeholders vão dar cada vez maior preferência às empresas que coloquem a sua responsabilidade social e ambiental no centro dos seus negócios. A sustentabilidade é cada vez mais um fator crucial para o sucesso empresarial, mas também temos de fazer o alerta de que esta trajetória de descarbonização da mobilidade não pode ser feita de forma unilateral. É necessário que governos, indústria e também a própria sociedade se unam para desenvolver boas ideias e fazer investimentos corajosos.
A Volkswagen espera que, até 2030, os veículos elétricos correspondam a 70% das suas vendas na Europa, além de crescimentos significativos neste segmento na América do Norte e China. Qual é a estratégia da marca para atingir estes objetivos?
Para além do Way to Zero, também a nova estratégia ACCELERATE da Volkswagen conta com um objetivo claro: a eletrificação total da nova frota de veículos. Na Europa, a meta é a de pelo menos 70% das vendas unitárias da Europa serem veículos exclusivamente elétricos até 2030, ou seja, mais de um milhão de veículos, superando assim os requisitos do Acordo Verde europeu. Para isso acontecer comprometemo-nos a lançar, pelo menos, um novo modelo elétrico por ano. Fora da Europa, mais concretamente na América do Norte e na China, a percentagem de veículos elétricos nas vendas deverá ser de pelo menos 50%.
Depois do ID.3 e dos SUV ID.4 e ID.5 – e do ID.6 na China –, este ano é lançado o ID.Buzz. A Volkswagen tem vindo também a revelar vários concept cars elétricos, que deverão orientar o desenvolvimento de futuro modelos. Que novidades podemos esperar nos próximos anos, nesta trajetória de eletrificação?
Estamos a lançar pelo menos um produto elétrico novo todos os anos até 2026. Assistimos em junho à estreia mundial do ID. AERO, o primeiro sedan totalmente elétrico da Volkswagen: Dinâmico, poderoso e com pura aerodinâmica: com a estreia mundial do ID. AERO concept car na China, a Volkswagen está a proporcionar uma antevisão do primeiro sedan totalmente elétrico da marca. O futuro modelo será posicionado no segmento sedan de tamanho médio premium. O seu design progressivo, elegante e aerodinâmico permite que o veículo impressione com um espaço generoso no interior. A versão para a China deverá estar à venda no segundo semestre de 2023. A Volkswagen também planeia iniciar a produção de uma versão europeia em Emden em 2023.
Estamos perante objetivos ambiciosos no caminho para uma mobilidade universal neutra em termos climáticos.
A transição para a mobilidade elétrica é um grande desafio para os grandes fabricantes automóveis, como a Volkswagen. Além das mais óbvias questões tecnológicas, as suas implicações tocam em aspetos como, por exemplo, a gestão de recursos humanos e a rede de distribuição e serviços pós-venda. Como é que a Volkswagen está a gerir esta transição?
A digitalização e a mobilidade são os pilares da estratégia ACCELERATE, aplicada a toda a marca como um todo. Desta forma, a Volkswagen está a avançar com a transformação da marca e a acelerar o ritmo no caminho para se tornar um fornecedor de mobilidade orientado para o software. Novos modelos de negócio baseados em dados, integração de software no veículo e desenvolvimento de um ecossistema digital tornar-se-ão competências fundamentais da Volkswagen. Desta forma, a Volkswagen sublinha o seu posicionamento como a marca mais atrativa para a mobilidade sustentável, em conjunto com a sua rede de concessionários oficiais.
Globalmente, estamos a falar de mais de 18 mil milhões de euros em mobilidade elétrica, hibridização e digitalização até 2026. Mais do que qualquer outra marca, a Volkswagen irá oferecer experiências digitais de referência aos nossos clientes, novos modelos de negócio e condução autónoma em todo o mercado. A nossa visão: Queremos fazer da Volkswagen a marca mais desejável no que diz respeito à mobilidade sustentável, onde obviamente uma rede de concessões adaptada a esta realidade estará presente.
Regressando ao plano ‘Way to Zero’, o recurso às energias renováveis é seguramente um aspeto fundamental deste esforço de descarbonização, tanto na fase de produção como na fase de utilização dos veículos. Quais são os planos específicos da empresa nesta área?
Com o Way to Zero garantimos um pacote extensivo de medidas destinadas a acelerar a produção e utilização sustentável de automóveis elétricos. Até 2025, planeamos investir 14 mil milhões de euros em descarbonização e iniciativas no âmbito da transição para a mobilidade elétrica que incluem tornar toda a cadeia de produção (incluindo a de abastecimento) e também o funcionamento dos automóveis elétricos neutros em carbono. Com isto, queremos adotar uma abordagem holística da descarbonização: desde a produção, passando pela vida útil, até à reciclagem. E somos o primeiro fabricante de automóveis a apoiar a expansão das energias renováveis a uma escala industrial.
Queremos também ser o primeiro fabricante de automóveis a apoiar diretamente a expansão das energias renováveis em grande escala, através da construção de parques eólicos e centros solares em várias regiões da Europa até 2025. A nossa previsão é de que estes projetos em conjunto cheguem aos cerca de sete terawatts horas adicionais de eletricidade verde até 2025.
Uma outra nota de relevo é de que a partir de 2030, todas as fábricas da Volkswagen, à exceção da China, deverão funcionar inteiramente com eletricidade verde. Apesar de atualmente a eletricidade utilizada nas unidades de produção na Europa terem proveniência de fontes renováveis, o objetivo é o de identificar e reduzir os maiores contribuintes para as emissões de CO2 na nossa cadeia de abastecimento. O modelo a seguir é a produção de células de bateria para o ID.3 e ID.4, que já utiliza apenas eletricidade verde e, por conseguinte, tem uma pegada de carbono substancialmente melhorada.
A gestão do ciclo de vida das baterias dos veículos é um dos aspetos mais complexos da transição para a mobilidade elétrica. Além dos esforços de descarbonização da cadeia de fornecimento e da produção, quais são as medidas que a Volkswagen está a implementar, no que concerne ao final de vida das baterias?
A questão das baterias tem merecido a devida atenção por parte do Grupo Volkswagen e temos como compromisso a reciclagem sistemática das baterias de alta voltagem dos veículos elétricos antigos. Com as medidas que temos vindo a implementar e reforçar, vai permitir-nos a reutilização de mais de 90% das matérias-primas no futuro, com o objetivo a passar por criar um circuito fechado para a vida da bateria e das suas matérias-primas. Para isso, a Volkswagen Group Components está a desenvolver uma instalação de reciclagem inicial em Salzgitter, na Alemanha.
A Volkswagen quer também ser responsável pela produção de eletricidade limpa para carregar as baterias dos veículos elétricos, gerada inteiramente a partir de fontes renováveis.
Uma outra medida importante além das baterias, é a mudança de componentes para alternativas mais sustentáveis, como são os casos das caixas de bateria e jantes feitas de alumínio verde produzidos através de baixas emissões. No total, existem mais de dez componentes que nos permitirão melhorar a pegada de carbono da família ID. em cerca de duas toneladas por veículo.
Como é que a Volkswagen vê o desenvolvimento da mobilidade elétrica em Portugal? Quais são os planos da marca para os próximos anos, no país?
Se queremos que Portugal esteja na linha da frente da mobilidade elétrica, ainda há muito para fazer. Se por um lado, temos os operadores privados que têm dado um forte impulso para uma mobilidade cada vez mais sustentável, para além da sociedade que se mostra realmente disponível para acompanhar esta tendência e necessidade, por outro é preciso que o Governo acompanhe esse esforço. Para isso, são necessários mais incentivos, tanto financeiros como de conveniência para particulares e empresas, através, por exemplo, do regresso do apoio ao abate. Depois também é necessária visão a longo prazo, para que um verdadeiro pacote de medidas tenha impacto no curto, médio e longo prazo.
Ainda sobre o desenvolvimento da mobilidade elétrica em Portugal, é importante salientar que a SIVA|PHS juntou a MOON ao seu portefólio de marcas. Assim, oferecemos soluções integradas na área da mobilidade elétrica, no que diz respeito ao armazenamento e carregamento, tanto para clientes particulares como empresariais. As soluções da MOON passam não só pela instalação dos carregadores mais adequados, mas também pela preocupação em garantir a melhor utilização possível da potência disponível, podendo até ser incluídas soluções de geração e armazenamento energético, completamente ‘verdes’, de forma a não sobrecarregar o planeta e provocar investimentos desnecessários
A terminar, é importante referir que na Volkswagen acreditamos que a mobilidade elétrica deve ser para todos. E é com base nisto e na campanha Way To Zero que trabalhamos todos os dias: focados em melhorar os nossos produtos, fazendo o bom uso dos materiais e recursos à nossa disposição, conscientes das necessidades ambientais.