Luis Barroso, CEO da MOBI.E, S.A.
Cada vez se fala mais de mobilidade sustentável, mas o que é que significa, e que impacto tem na sociedade e no ambiente?
A nossa actividade tem sido determinante na criação das condições necessárias para o lançamento da mobilidade elétrica em Portugal e no contributo para o cumprimento das metas ambientais que nos comprometem a todos.
A promoção da Mobilidade Elétrica e a redução do impacto ambiental são dois indicadores da qualidade de vida das populações e do desenvolvimento económico, social e político de um país, e são dimensões estruturantes na definição do papel e da nossa identidade.
“A mobilidade elétrica é um importante contributo para a mobilidade sustentável e para o aumento da eficiência energética na área dos transportes.”
Espera-se que este contributo seja cada vez maior, à medida que a autonomia dos veículos elétricos aumenta e, por conseguinte, um número crescente de utilizadores adere a esta nova forma de mobilidade.

Vivemos num contexto económico global, no qual o pilar da sustentabilidade tem uma relevância ímpar através da descarbonização, a qual passa pela aposta política a nível mundial na mobilidade elétrica. O Estado português não é exceção e irá continuar a apostar na nossa empresa, para o ajudar neste caminho. No âmbito do Plano de Estabilidade Económica e Social, o Governo aprovou para a MOBI.E, S.A., em junho passado, um novo pacote de investimentos, superior a 3 milhões de euros e que passa, não só, pela instalação de novos postos, agora ultra-rápidos e na criação de parques urbanos de carregamento, como também no desenvolvimento de uma nova plataforma que permita gerir com maior eficiência um sistema que fatalmente irá contar com um crescente número de utilizadores e de agentes de mercado.
Por outro lado, a centralização do sistema no utilizador, a interoperabilidade da rede de carregamento e a igualdade de oportunidades de acesso ao mercado são marcas diferenciadoras do nosso modelo para a mobilidade elétrica que devem ser preservadas, as quais, nós, enquanto instrumento público deveremos saber garantir, sem que tal constitua um fator de estagnação do modelo e sim as bases sólidas e consensuais que promovam ativamente a sua evolução, contribuindo para dar vida a um futuro mais sustentável para todos.
Mas voltemos um pouco atrás no tempo, para se perceber o nosso papel neste processo:
Quando fomos adquiridos pelo Estado, em 2015, a rede piloto de postos de carregamento para a mobilidade elétrica inicialmente pensada em 2010, não só não havia sido concluída como estava abandonada e extremamente degradada. A aposta então era para recuperarmos e finalizarmos a rede piloto, ao mesmo tempo que fomos designados como a Entidade Gestora da Rede de Mobilidade Elétrica (EGME) nos termos previstos na legislação.
A mudança de Governo no final desse ano trouxe um novo impulso e tornou mais ambiciosa a aposta na mobilidade elétrica, determinando, não só, a conclusão, como a expansão a todos os municípios do Continente da rede piloto de postos de carregamento.
De então para cá com o apoio financeiro do POSEUR e do Fundo Ambiental, temos conseguido assegurar a concretização da rede piloto, o funcionamento da nossa rede e a sua utilização gratuita durante a fase de instalação. Desde 2016, o investimento público foi superior a 10 milhões de euros, tendo-se criado uma infraestrutura de carregamento piloto constituída por 39 postos de carregamento rápido e mais de 650 postos de carregamento normal, enquanto se conseguiu uma poupança nas emissões de CO2 na atmosfera de mais de 14 000 ton.

Note-se que foram anos de transição do setor da mobilidade elétrica muito exigentes, nos quais tivemos de assegurar um conjunto alargado de funções, mas que mesmo assim, com o esforço e empenho dos nossos profissionais, nunca desistimos e permitiu-nos, não só concretizar a rede piloto, como desempenhar o nosso papel enquanto EGME, credibilizando o nosso modelo junto dos diversos agentes de mercado, como o demonstram os 18 Comercializadores de Energia para a Mobilidade Elétrica (CEME), os 58 Operadores de Pontos de Carregamento (OPC) que permitem a um número cada vez maior de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE) confiarem na nossa rede; atualmente, são mais de 9 000. Estes fatores contribuem ainda para a especialização tecnológica de empresas portuguesas enquanto fabricantes de postos de carregamento criando postos de trabalho e valor.
Ao mesmo tempo foi possível trabalhar na modernização do sistema com a revisão do Regulamento da Mobilidade Elétrica (RME) que a ERSE, após consulta pública, veio publicar no final do ano passado, bem como aumentar as funcionalidades do nosso sistema, procurando dar resposta à crescente exigência quer dos agentes de mercado, quer dos utilizadores, como o roaming nacional e internacional, bem como o denominado pagamento ad hoc dos carregamentos, os quais deverão passar a ser disponibilizados durante o último trimestre deste ano.
Podemos assim, concluir que a mobilidade elétrica atingiu uma solidez que não permitirá novos retrocessos e que, tal só foi possível, porque o Governo assumiu-o como um desígnio nacional, tendo o Estado sabido constituir um instrumento público como a MOBI.E, S.A. para intervencionar com determinação, salvaguardando ao mesmo tempo, o crescimento do negócio privado em torno da mobilidade elétrica.