De acordo com a Transport & Environment (T&E), a estratégia da UE para financiar a transição verde deixa margem para que os investimentos em gás fóssil sejam considerados sustentáveis. As indústrias movidas a gás foram excluídas da primeira parte da taxonomia de investimentos verdes, mas após pressão de governos pró-gás, a Comissão Europeia tenciona reconsiderar tal proposta na segunda parte da lei, no próximo ano.
Na ótica da T&E, permitir que a energia do gás seja considerada verde destruiria a credibilidade do padrão da UE para o financiamento sustentável. Luca Bonaccorsi, diretor de finanças sustentáveis da T&E, refere: “As finanças sustentáveis em 2021 deveriam direcionar o investimento para longe de combustíveis fósseis como gás e bioenergia destruidora da natureza”.
O plano tem apenas uma referência vaga para abordar as falhas nas classificações Ambientais, Sociais e de Governo (ESG) que atualmente direcionam os investimentos e permitem a lavagem verde das indústrias poluentes. A Comissão também revelou um denominado ‘livro de regras’ para os títulos verdes, mas chegará tarde demais para ajudar a garantir que o próprio fundo de recuperação da UE seja gasto em projetos sustentáveis. A própria UE emitirá títulos verdes para financiar 30% do fundo NextGenerationEU de 800 mil milhões de euros, mas estes não precisarão de estar alinhados à sua taxonomia do que são considerados investimentos amigáveis ao meio ambiente.
Luca Bonaccorsi acusa a EU por não haver “um compromisso claro para colocar ordem no oeste selvagem das classificações ESG. O greenwashing é abundante, os consumidores estão a ser enganados e precisamos urgentemente de legislação. Enquanto isso, o novo padrão da UE para Títulos Verdes seria uma ótima notícia se fosse baseado em uma taxonomia sólida e fosse usado para tornar os gastos do plano de recuperação da UE mais verdes. Infelizmente, a taxonomia está sob ataque e o padrão não estará pronto a tempo de influenciar o dinheiro da recuperação”.
A Comissão publicou também legislação sobre as informações ambientais que as empresas e instituições financeiras terão de publicar como parte da taxonomia. A T&E acredita que as PMEs, que são a espinha dorsal da economia da UE, perderão o ‘comboio’ dos financiamentos, pois serão excluídas da lista de ‘empresas verdes’ até 2025. Além disso, as regras favorecem os governos em relação ao setor privado, isentando os títulos governamentais das exigências.