Imagine o leitor que tem a “triste felicidade” de poder gastar mais de 80 mil euros num automóvel com a condição de ser elétrico. Começa por espreitar a brigada chinesa, mas, como está de “pé atrás” com os modelos vindos da China, decide olhar para os asiáticos e depara-se com o IONIQ 5, IONIQ 6 ou, talvez, um BZ4X. Contudo, no final, o que quer mesmo é um alemão. Belisca o Audi A6, cogita o Mercedes EQE… até que chega ao nosso convidado: o i5, nome dado pela BMW aos seus modelos 100% elétricos.
Após oito gerações, o Série 5 vê, mais uma vez, uma nova motorização a chegar. Se na geração passada assistimos à introdução das mecânicas híbridas plug-in, agora temos, pela primeira vez, uma versão totalmente elétrica: o i5. Este Sedan de segmento D traz consigo duas mecânicas eléctricas: eDrive 40 e um M60. Esta última é a verdadeira “Ultimate Driving Machine” dos elétricos, pois tem 601 cavalos e 795NM. Já a versão de teste, a eDrive 40, é a versão mais racional, tem 340 cavalos e 400NM.
No que toca a carroçarias, temos duas opções: carrinha e carro – uma ideia brilhante por parte da BMW, já que esta foi uma das primeiras carrinhas do segmento com versão elétrica (se tirarmos da equação o ID.7, foi mesmo a primeira). Atualmente, as únicas carrinhas elétricas deste segmento são: i5, A6 Avant e ID.7. É precisamente aqui que o i5 ganha alguma vantagem face aos rivais Tesla Model S ou Mercedes EQE, que ainda não têm carrinhas na sua gama.
Este I5 surpreende em todos os aspetos: design, qualidade de construção e conforto. Começando pelo design: notamos que estamos perante uma nova geração do modelo da marca germânica, com linhas que rompem com o passado mas que não perdem a identidade de um série 5, algo crucial para uma marca que, se quer ter sucesso Nos eléctricos, deve fazê-los à imagem da marca… situação essa que a marca Estugarda não entendeu.
Na frente, encontramos um grupo óptico estreado no IX. No capô existem vincos tanto na parte central como nas extremidades laterais, que lhe conferem um ar agressivo e musculado. No para-choques, as entradas de ar nas extremidades contribuem para a melhoria da aerodinâmica. E claro, temos o famoso “duplo rim” característico nos BMW, mas, neste caso, com dimensões nunca antes vistas num 5. A BMW batizou esta grelha de Iconic Glow, podendo ser iluminada (extra). Na traseira, temos os faróis com formato em L, mais finos que a geração anterior, que lhe ficam muito bem!
O segundo item citado foi a qualidade de construção, que é surreal! Tudo o que tocamos no interior é soft-touch, até as partes inferiores dos painéis das portas são revestidas com materiais emborrachados. A consola central está perfeitamente fixa, sem qualquer folga, não mexe nem um milímetro. O único ponto negativo encontrado: os botões em black piano que deixam facilmente dedadas e pó.
O interior deste Série 5 é, sem dúvida, uma experiência gourmet. A iluminação ambiente com LED ‘s por todo o habitáculo pode ser ajustada conforme o nosso estado de espírito. Tudo neste i5 é digital até os comandos de acesso rápido na consola central (apelidados de Interaction Bar pela marca germânica) são táteis e o seu funcionamento é muito bom, pois reconhecem sempre que os pressionamos. O painel de instrumentos tem 12.3 polegadas e o seu sistema está a anos luz dos anteriores, temos uma resolução de imagem isenta de críticas e é bastante personalizável no que toca aos temas de visualização.
Já a tela do GPS tem 14.9 polegadas, a sua qualidade de imagem é soberba e o seu funcionamento é rápido e fluído, respondendo bem ao toque. O Apple car play está otimizado para ocupar o ecrã todo – um detalhe que gostámos!
Os comandos do ar condicionado são operados via tela, com zonas táteis nas extremidades para aumentar ou diminuir a temperatura – uma solução eficaz e bem pensada. O “berbicacho” está em ajustar a direção e intensidade do ar, isso sim uma tarefa mais complexa e menos intuitiva…
A mala conta com 490 litros de puro espaço. Mala elétrica? Não tem! É uma pena… os espaço para as pernas e cabeça está no nível da sua classe.
A BMW, para este série 5, decidiu lançar três estilos de equipamento: Base, Pack Desportivo M e Pack M Pro. O “nosso” ilustre tinha o Pack desportivo M, cuja diferença face ao modelo base ronda os 2 mil euros.
No que toca ao modo de condução, temos dois: Eco e Sport. Dentro do modo Eco, existe ainda um modo “camuflado” que é o Eco Pro, e é neste que conseguimos alcançar os 630 km de autonomia que o carro promete; claro está que algumas funções estão limitadas, como o ar condicionado e a velocidade máxima (limitada a 90 km/h). Os modos de condução têm uma particularidade: mudam a sua autonomia consoante o modo selecionado. Este “cidadão de Munique” apresenta ainda modos que não afetam o desempenho, mas sim o ambiente a bordo: Relax, Person, Sound Dynamic and Expressive e Silence. Estes alteram as cores ambiente dos LED ‘s, sons e até abrem/ fecham a cortina do tejadilho panorâmico. O destaque vai para o modo Sound Dynamic: até hoje nada superou ouvir uma voz feminina a falar inglês com sotaque alemão. O sistema de som do i5 é o Harman Kardon, e é fantástico, com uma qualidade de som invejável.
Quanto à regeneração, há três níveis, ajustáveis via iDrive, uma operação bastante fácil e intuitiva. No seletor da caixa, há ainda a posição “B”, que nos permite conduzir com um só pé. Outro ponto em que este I5 surpreendeu foi na sua insonorização: é, de facto, muito boa e os ruídos vindos do exterior são quase imperceptíveis.
A posição de condução é perfeita, como a BMW nos tem habituado: os ajustes do volante estão à margem de qualquer crítica. O banco também tem bons ajustes, embora ache que o assento poderia descer um pouco mais, mas trata-se de uma opinião pessoal.
O volante apresenta três raios, uma vez que a nossa unidade tem o pack M (caso contrário teria apenas dois braços). Nele encontramos uma patilha a dizer booster, que permite aceder, durante 10 segundos, à potência e binário máximos que este BMW nos pode oferecer, ideal para fazer uma ultrapassagem.
Temos uma bateria de 84,4 kWh brutos, dos quais 81,2 kWh são “líquidos” (sendo este último valor o valor usável). Os carregamentos podem ser feitos em AC (lento) e DC (rápido) – em AC, a velocidade é de 11 kW ou 22 kW (opcional); em DC, é de 205 kW. Em termos de tempo de carga, em 11 kW, é de cerca de 8 horas; em 22 kW, este tempo reduz para quatro horas e, por último, em DC (dos 10 aos 80%) são feitos em cerca de 30 minutos.
Alemão na estrada
Se recuarmos no tempo, os Série 5 sempre foram uma referência de fazer inveja a nível de dinâmica, mas, em termos de conforto, os seus compatriotas faziam melhor, sobretudo a Classe E. Ao longo das gerações, a marca germânica tem vindo a evoluir nesse campo, mas muito ao de leve. Com esta oitava geração, a BMW deu um salto claro neste capítulo, surpreendendo, e muito, a nível de conforto, até mesmo com este pack M.
Este “espada” revelou-se extremamente confortável em todo o tipo de piso. Este i5 conta com quatro rodas direcionais, o que é uma mais-valia e se revelou indispensável na altura de fazer manobras e de estacionar. A direção deste alemão é um hino às direções: direta, precisa, comunicativa e com o peso certo. Responde a cada input dado sempre da mesma maneira, com precisão: para onde apontamos o carro, ele vai. Tem um comportamento dinâmico exemplar, de levar aos céus. Em curva, o carro mantém-se “plantado”, não mexendo um milímetro, ainda que se note algumas transferências de peso. Durante o nosso ensaio, notámos que o controlo de estabilidade “pica muito o ponto”, embora muitas vezes, mesmo “picando o ponto”, continuasse a ser necessária a intervenção humana…
Os consumos oscilaram desde os 18.5 kWh/100 aos 21.1 kWh/100. Em auto estrada, obtivemos 19.1 kWh/100km, um valor que, francamente, foi uma surpresa. No capítulo da autonomia, em autoestrada conseguimos percorrer 362 km sem qualquer preocupação; já em circuito misto, alcançámos os 400 km com a mesma tranquilidade. Posto isto, acreditamos ser perfeitamente possível atingir entre 500 e 520 km com este “espada” alemão!
Assim, se o leitor tem a “triste felicidade” de poder gastar mais de 80 mil euros num carro elétrico, o BMW i5 é, sem dúvida, uma excelente opção. É confortável, tem uma dinâmica apurada e, para quem aprecia, está recheado de tecnologia e LED ‘s para todos os gostos. Se pudéssemos pedir mais alguma coisa à BMW, seria apenas uma versão eDrive35 tal como já existe no i4…
