Em 2001 eu integrava a equipa do Rotações na RTP. Depois, em 2002, o programa de desportos motorizados da RTP chamava-se Velocidades e era um formato criado e desenvolvido por mim. Cobríamos tudo quanto tivesse motor e fosse disputado em Portugal, ou por portugueses no estrangeiro.
Foi, por isso, em 2002 que vi um miúdo pequenino, talvez ainda mais pequenino do que outros que vi começarem nos karts e saltarem para ribalta mais tarde. Esse miúdo era impressionante. Era eficiente, não perdia tempo com ‘atravessadelas’, tinha trajectórias muito limpas e ganhava corridas e campeonatos, pois claro.
Era rápido, trabalhador, empenhado e pequenino e essas qualidades valeram-lhe o cognome de ‘Formiga’.
Pois bem o António Félix ‘Formiga’ da Costa cresceu e manteve todas as qualidades, excepto uma: deixou de ser pequenino. Cresceu mesmo bem e o facto de ser Campeão do Mundo, não me estranha.
Termos um Campeão do Mundo de Fórmula E, é por si só um marco, mas é igualmente um factor mais para promover a mobilidade eléctrica. De repente começou-se a falar destas corridas, dos desempenhos de um motor eléctrico, começou-se até a ouvir falar da possibilidade de haver uma corrida de Fórmula E em Portugal.
Esta competição tem algo que é uma fórmula de sucesso na realização de qualquer evento, na minha opinião. A Fórmula E vai ter com o público, é disputada no coração das cidades e assim torna-se ainda mais interessante para essas cidades, pois não só é um bilhete-postal desse destino, como também espelha uma imagem ‘verde’ de uma cidade que se quer afirmar como uma capital da mobilidade suave internacional e ainda por cima reduz a pegada ecológica ao fazer diminuir as deslocações de público, que já lá está.
Em Portugal ocorrem-me dois ou três sítios onde é viável fazer acontecer um evento destes:
Vila Real, pois tem tudo para correr bem, tem tradição, tem organização e tem os meios disponíveis; aliás, este ano só não aconteceu (mas aí falamos de corridas ‘tradicionais’) por causa da COVID-19.
Porto, teve o circuito da Boavista, foi um marco para promover a região, tem os meios e os locais. Por outro lado também já vimos que o Porto não quer perder a corrida do ‘verde’ e vê-se como as ruas fechadas ao trânsito estão a ‘nascer’. Se calhar, com uma competição destas resolviam-se dois problemas de uma vez: a cidade afirmava-se, de novo, como palco de competições de ‘primeira água’ e ganhava estatuto no âmbito da mobilidade suave.
A outra possibilidade que vejo é Lisboa. É a capital e nesse sentido tem capacidade de atrair eventos e facilidade em reunir apoios – já vimos acontecer em outras situações – e por outro lado, tem uma grande necessidade de se comunicar enquanto cidade da mobilidade suave por excelência e parece-me que uma corrida de automóveis eléctricos, será bastante mais consensual do que ciclovias a nascerem como cogumelos.
Vamos a ver o que o que o futuro e a COVID-19 nos reserva, pois, pelo menos já vimos que em termos de outros eventos tem sido positivo para Portugal e neste caso não há razão para ser de outra forma: temos o Campeão, temos marcas nacionais empenhadas nesta competição e temos necessidades que a Fórmula E pode ajudar a colmatar.
Até lá: PARABÉNS FORMIGA!
O autor escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico.

Pedro Gil de Vasconcelos é licenciado em Cinema e Audiovisuais, tendo sido jornalista da RTP, onde participou e liderou diversos projetos, muitos deles ligados à mobilidade. Atualmente, lidera a Completa Mente – Comunicação e Eventos Lda.