Teresa Ponce de Leão, Presidente do Conselho Diretivo do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG)
A mobilidade eléctrica está a expandir-se rapidamente. Em todo o mundo a frota de veículos eléctricos (VE) atingiu os 5,1 milhões em 2018 representando um acréscimo de 2 milhões (40%) relativamente ao ano anterior. A China lidera o mercado, seguida pela Europa e pelos EUA. A Noruega lidera a cota de mercado em termos percentuais. A Agência Internacional de Energia, no Global EV Outlook 2020, através do New Policies Scenario, estima vendas de 23 milhões de VE. A iniciativa EV30@30 prevê atingir 30% do mercado automóvel em 2030.
A que se deve esta evolução na mobilidade eléctrica e porque há países líderes e países seguidores?
• Políticas coerentes e articuladas encabeçam as medidas que mais impulsionam o crescimento dos VE, (1) medidas estratégicas para o desenvolvimento das infraestruturas de carregamento adequadas, (2) medidas de incentivo à investigação e inovação, nomeadamente no apoio ao desenvolvimento estratégico da tecnologia das baterias em toda a cadeia de valor, como por exemplo a Aliança Europeia para as Baterias (EBA) a que Portugal aderiu e (3) medidas de incentivo e medidas de política.
• Evolução da tecnologia, criação de escala associada a reduções substanciais nos custos. Das “Key enablers technologies” (KET) fazem parte por exemplo os desenvolvimentos na disciplina da Química e Electroquímica aplicada à tecnologia das baterias e ao aumento da capacidade de produção. Acresce ainda a evolução na optimização no processo de produção de baterias com soluções mais simples e inovadoras com novas arquitecturas.
• A resposta do sector privado, a mudança ganhou momento e há oportunidade de negócio. Há investimento em toda a cadeia de valor, nos veículos ligeiros, nos postos de carregamento, também nos autocarros e nas baterias. As empresas eléctricas, os operadores de estações de carregamento, o sector da inovação no hardware para instalações de carregamento são alguns dos intervenientes que têm dinamizado o sector. Já se fala de mercado de usados e de reconversão.
Também aqui o Governo tem dado o exemplo pelo investimento, fundamentalmente em meio citadino. É comum ver o nosso Primeiro Ministro, Ministros e Secretários de Estado deslocarem-se em VE.
Acresce, sendo bom para o seu incremento, que ter um carro eléctrico significa status, pena é que isso para já aconteça na alta gama de VE.
Já no desporto motorizado os VE são uma realidade e um campo de ajuda ao avanço de tecnologias e com exemplos, muito bons, a nível nacional .No campeonato de Fórmula E, Félix da Costa sagrou-se campeão do mundo com a EFACEC com parceira da equipa DS Techeetah.
A mobilidade eléctrica não tem retorno. É uma realidade que apenas sofreu um percalço neste momento COVID-19 em que vivemos que, no entanto, é transversal a toda a economia e a todos dos países. Curiosamente este período trouxe-nos algumas lições sobre o efeito da redução das emissões em todo o planeta, céu azul em Wuhan, ou como foi possível gerir as redes eléctricas garantindo segurança de abastecimento apesar de termos experimentado uma forte penetração de renováveis no sistema por redução drástica do consumo e pelas renováveis terem prioridade no despacho. Esta questão é muito técnica, mas é factual.
Os vectores energéticos que podem ser renováveis se produzidos a partir de fontes renováveis são a electricidade, a bioenergia e os biocombustíveis, os biogases e o hidrogénio.
Os objectivos ambiciosos que resultam do compromisso europeu obrigam a que o ‘mix’ energético seja uma realidade. Temos que utilizar todas as fontes e eficiência energética para substituir os combustíveis fósseis. E temos que utilizar essas fontes com propósito, o propósito de avaliar toda a cadeia de valor para tomarmos decisões esclarecidas impulsionadas por medidas de política coerentes.
Os transportes representam cerca de 30% da poluição no mundo pelo que só contribuirão para a descarbonização se foram movidos a energia renovável. A electricidade verde é parte da solução mas não resolve todas as necessidades e aqui surge o hidrogénio verde.
Com o desenvolvimento de electrolisadores, o hidrogénio surge com enorme potencial para dar ao sistema a necessária flexibilidade que permite a penetração de renováveis em larga escala uma vez que tem potencial para ser armazenado que poderá depois ser utilizado para usos diversos, transporte terrestre, aéreo e marítimo, indústria, edifícios e para produção de electricidade e injecção no sistema Eléctrico quando as renováveis não estão lá.
Em suma, o hidrogénio não compete com a electricidade mas traz vantagens e complementa as lacunas em determinados sectores do transporte. Está a ser preparada uma categoria a hidrogénio em Le Mans o que demonstra o interesse da indústria neste sector.
O autor escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico.
Teresa Ponce de Leão é Doutorada em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores pela Universidade do Porto (FEUP), Docente da FEUP e Investigadora Sénior do INESC TEC, Porto.
Presidente do Conselho Diretivo do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) desde 2009.
Vice-Presidente de Conselho Diretivo do Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (INETI) (2004-2009).
Vice-Presidente da Agência de Energia, ADENE (2011-2016) e membro não executivo do CA desde 1 de Agosto.
Presidente do EuroGeoSurveys (2016-2018
Presidente do Conselho de Administração da Associação Portuguesa de Veículos Elétricos desde 2016.
Membro fundador da European Energy Research Aliance (EERA) e membro do Comitê Executivo.
Vice-Presidente da European Sustainable Energy Innovation Alliance (eseia).
Representante nacional no Committee of Energy Research and Technology da Agência Internacional de Energia.
Membro e relator do Grupo Consultivo para Educação e Ensino em Energia.
Membro do Grupo Consultivo do Roteiro Integrado H2020 e H2020 sobre as infraestruturas de investigação, incluindo e-infraestruturas.
Membro do Conselho Consultivo da Escola de Engenharia da Universidade do Minho.
Membro do EU High Level Group of European Innovation Partnership on Raw Materials (até 2018).
Vice-Presidente do Expert Group on Resource Management of United Nations.