Opinião de Stefan Carsten
Em 2021, haverá mais de 3.000 postos de combustível em Portugal e mais de 14.000 na Alemanha. Estes são números do passado. Os números do futuro são bastante diferentes: atualmente, existem cerca de 2.250 postos de carregamento para veículos elétricos em Portugal, com cerca de 5.200 pontos de carregamento. Na Alemanha, a situação não é assim tão simples. Porque existem muitos promotores de estações de carregamento, também existem muitos números diferentes. Os números variam entre 20.000 e 50.000 pontos de carregamento (calculando-se a necessidade de existirem cerca de 1 milhão de pontos de carregamento de livre acesso em espaços públicos, até 2030). O caminho para o futuro parece não ter fim.
Os postos de combustível tornaram-se sinónimos de mudança. Estão no centro da tempestade que se está, neste momento, a formar sobre todos os players da era fóssil. Quando as exigências sobre as condições energéticas e as exigências sobre a mobilidade mudarem drasticamente no futuro, os postos de combustível terão de se adaptar, caso contrário tornar-se-ão irrelevantes ou, no melhor dos casos, espaços no meio das cidades cobertos por ervas daninhas e reclamados pelos animais e pela natureza. As opções futuras para os operadores dos postos de combustível oscilam entre as dimensões dos sistemas de energia e mobilidade: por um lado, de operadores fósseis para operadores pós-fósseis (que inclui tanto as baterias elétricas como o hidrogénio); e de conceitos baseados nos veículos para conceitos assentes em serviços de mobilidade. A mudança de paradigma pode ser resumida de uma forma especulativa:
a) Posto de abastecimento 2.0: extensão da atual base económica. Muitas estações de serviço estão a tentar prolongar o modelo comercial atual o mais possível para o futuro: a comercialização de combustíveis fósseis, além de ofertas lucrativas de bens de primeira necessidade, assim como a lavagem de automóveis. Estas estações de serviço estão a retirar-se do ramo das oficinas de reparação, uma vez que circulam cada vez menos veículos particulares e os comerciais estão contratualmente vinculados às oficinas de reparação dos operadores da frota. Estas estações de serviço estão a acompanhar a mudança, e a disponibilizar também zonas de carregamento para veículos elétricos. Na melhor das hipóteses, são carregadores rápidos com equipamento técnico de última geração. Desta forma, as estações de serviço de última geração tornam-se montras da mudança, quando exibem as energias limpas aos condutores de carros a diesel.
b) Hub de carregamento: conversão radical, dos recursos fósseis para um portfólio completo de recursos pós-fósseis. Para além dos postos de carregamento, estas estações encontram-se, igualmente, a establecer infraestruturas de hidrogénio. Uma vez que a conversão é dispendiosa, apenas as grandes empresas petrolíferas seguirão este cenário. A Ubricity, um dos maiores fornecedores europeus de infraestruturas de carregamento elétrico em espaços públicos, foi adquirida, em final de janeiro, pela Shell. É um sinal importante dos tempos atuais. Os hubs de carregamento serão muito importantes, especialmente para os players comerciais, à medida que as condições técnicas e as capacidades de carregamento rápido e reabastecimento de hidrogénio estejam disponíveis. A partilha de carros, o aluguer de automóveis ou as frotas de entregas encontrarão aqui a sua base energética. Estes hubs de carregamento também serão necessários para diminuirem a ansiedade dos condutores em relação à autonomia. Ao longo das autoestradas e das estradas interestatais, estas estações de abastecimento são as mais necessárias e serão as primeiras a serem desenvolvidas.
c) Lojas sociais: um evolutivo afastamento das estruturas fósseis, concentrando-se em serviços sociais. Este caminho leva os desenvolvimentos de um passado recente para o futuro. Os operadores das áreas de serviço geram cerca de 20% dos seus lucros a partir dos combustíveis. Mais importantes são os segmentos comerciais complementares, como a lavagem de automóveis, disponibilização de mantimentos, caixas multibanco ou zona de restauração. No futuro, as áreas de serviço também irão tornar-se cada vez mais importantes como locais para o armazenamento intermédio de serviços postais, graças ao crescimento progressivo da venda a retalho online. Desta forma, a função social das áreas de serviço será preservada, enquanto os ‘antiquados’ do diesel e da gasolina continuarão a encontrar aqui os seus combustíveis. Este futuro é idealmente concebido para as zonas rurais. É aqui que os pontos de encontro social e as ofertas tradicionais são adequadas e necessárias.
d) Hub de mobilidade: renovação radical do modelo de negócio. Da perspetiva atual, o único atrativo das áreas de serviço é a sua localização. Estes locais já não são reconhecidos como postos de combustível. Tornaram-se centros de mobilidade, ou seja, lugares com uma elevada frequência de clientes, agrupando uma gama de diferentes serviços de mobilidade, complementados e expandidos com ofertas e informações sobre o tema da mobilidade (e energia). Aqui há a oportunidade de trocar baterias (de ciclomotores, scooters e talvez até de automóveis) e aceder a opções de partilha, aluguer e subscrição. No melhor dos casos, incluindo interface com opções de metro/autocarro e/ou de longa distância. Estes lugares são, simultaneamente, quiosques e zonas de restauração, diferenciando-se também com base nisso, em função da vizinhança e dos clientes. Já não existem aqui infraestruturas de carregamento. Esta função é assumida por pontos de carregamento em espaços públicos ou em casa.
O fim do diesel e da gasolina tem sido anunciado em muitos países (apenas a Alemanha ainda se mantém discreta). Os operadores das áreas de serviço têm agora de enfrentar estas mudanças, caso contrário, tornar-se-ão no museu do mundo fóssil. Mas é questionável se haverá alguém com interesse em visitar um museu assim.