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Green Future-AutoMagazine

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Para onde nos leva a COVID-19 em termos de mobilidade?

Para onde nos leva o COVID -2019 em termos de mobilidade? - Opinião de Neli Valkanova

Neli Valkanova
Secretária-Geral da ARAN – Associação Nacional do Ramo Automóvel

O ano de 2019 ano foi um ano muito importante para o setor automóvel, com muitas conquistas nas dimensões disruptivas da mobilidade, nomeadamente ao nível da condução autónoma, conectividade, eletrificação e mobilidade partilhada. 

As vendas de veículos elétricos (EV) estabeleceram um recorde global ao longo de 2019, e os EV tornaram-se muito mais relevantes na consciencialização do público dos principais mercados mundiais, entre os quais está incluída a Europa.

Diversas cidades europeias anunciaram e começaram a implementar regulamentos específicos de mobilidade, tendo o conceito da condução autónoma atingido novos patamares. A mobilidade partilhada entrou com força no mercado e a Uber e as aprovações de entregas feitas por drones foram pontos inovadores que criaram uma nova realidade com tendência sempre a evoluir. Até março de 2020.

A pandemia de COVID-19 atingiu o mundo como um terramoto, colocando vidas em perigo e desencadeando uma crise económica mundial. Na verdade, ainda estamos a sentir o seu efeito devastador nas nossas vidas. A pandemia de COVID-19 interrompeu a mobilidade e os seus efeitos perdurarão, com sorte, até ao próximo ano.

Importa refletir sobre o que se alterou e que tipo de mudanças podemos esperar.

De acordo com vários estudos, com quais estou de acordo,  podemos  apontar para três áreas que já estão e continuarão a sofrer mudanças: alterações nas preferências dos consumidores , digitalização e novas tecnologias e novas regulamentações (estes pontos moldarão o mercado em 2021).

Alterações nas preferências dos consumidores

Na era pandémica não precisamos de estudos específicos sobre o comportamento do consumidor para concluir que os consumidores estão intensamente focados na saúde e alteraram muitos hábitos e preferências de longa data para evitar contágios. Algo completamente natural e compreensível. Em termos práticos no setor de mobilidade, isso significa que muitos passageiros preferem meios de transporte considerados mais seguros e higiénicos. A utilização de carros particulares aumentou e a mobilidade partilhada quase desapareceu. Trabalhar em casa tornou-se a nova realidade, novamente com o objetivo de preservar a segurança, enquanto as viagens de negócios e todos os serviços de mobilidade associados a ela – voos, táxis, etc. – estão em clara diminuição.

Os consumidores fazem as suas escolhas de meio de transporte em função da saúde e esta tendência vai continuar no futuro; até diria que ficará na subconsciência do consumidor para futuras escolhas por tempo indeterminado ou para sempre.

Além da segurança, os consumidores estão cada vez mais focados nos canais digitais e nas questões de sustentabilidade. Sobretudo, a consciência de utilização de veículos elétricos aumentou e o resultado é o crescimento do número de vendas de EV. O acesso às opções de micromobilidade – mobilidade em meio urbano e entre curtas distâncias e os transportes utilizados de pequenas dimensões – bicicletas, e-scooters, etc. – torna-se parte das novas soluções encontradas.

Além de explorar novos produtos e opções de mobilidade, os consumidores estão interessados em novos serviços. Embora os consumidores ainda valorizem as visitas ao concessionário e as considerem como o principal fator que influencia as decisões de compra, os canais digitais estão a tornar-se mais importantes. Este dado é confirmado por uma pesquisa recente, que aponta que mais de 80% dos entrevistados usaram canais online durante o período de consideração de compra, e mais de 60% disseram que seria atraente ou muito atraente ter canais digitais para reserva, pagamento e revisão.

Digitalização e novas tecnologias

A digitalização e as novas tecnologias são um ponto positivo da pandemia, demonstrando que em cada crise há uma oportunidade, pois impulsionaram uma rapidíssima digitalização de qualquer negócio.

A ARAN representa mais de 2.300 empresas do setor automóvel, muitas delas oficinas de pequena e média dimensão. Confesso que nunca pensei que a digitalização pudesse ter acontecido com esta velocidade. As circunstâncias obrigaram e o futuro será esse. Novas tecnologias vão continuar a entrar com força em todas as áreas de mobilidade. Todos conhecemos os conceitos dos stands virtuais, os novos patamares de conectividade de veículos, construção de novos veículos; o que era antes ficção agora torna-se a realidade.

Sem dúvida que o ritmo da mudança continuará a acelerar em todas as áreas, incluindo a conectividade, a condução autónoma e o transporte urbano.

Novas regulamentações

Novas regras definidas pelas cidades mostram um caminho bem diferente para uma futura mobilidade. Alguns desenvolvimentos recentes confirmam que as cidades redefiniram as regras de mobilidade – criaram faixas de rodagem para conseguir mais espaço para bicicletas e scooters. Muitos, por exemplo, estão a endurecer as regulamentações de CO2 para veículos na tentativa de reduzir as mudanças climáticas.

A pandemia levou as cidades a redefinir conceitos de urbanismo. O desafio de olhar para a ideia de cidade em 15 minutos. É um conceito que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida criando cidades onde tudo o que um morador precisa pode ser alcançado em 15 minutos a pé ou de bicicleta. A cidade de 15 minutos requer viagens mínimas entre as casas, escritórios, restaurantes, parques, hospitais e espaços culturais. Paris é um exemplo de início de implementação deste conceito e não tenho dúvidas que outras cidades irão segui-la.

As perspetivas para 2021 e além

Certamente, ninguém poderia imaginar como o mundo mudaria em 2020. O próximo ano também trará muitas incertezas, mas uma coisa é certa: a mobilidade continuará a evoluir de maneiras emocionantes. Aqui estão os principais desenvolvimentos que esperamos:

Preferências expandidas do consumidor e um foco maior na sustentabilidade

Quando a pandemia de COVID-19 for controlada – é de se esperar em algum momento de 2021 –, os consumidores estarão mais dispostos a usar o transporte público e outras formas de mobilidade partilhada. Esperamos que a sustentabilidade continue a ser uma consideração importante, com mais consumidores optando por soluções elétricas e de micromobilidade, especialmente nas cidades. As vendas de carros podem continuar a diminuir desde o pico de 2019, à medida que mais consumidores consideram alternativas à propriedade de carros.

Interrupções de tecnologia contínuas e inovações amplamente disponíveis

A tecnologia automotiva continuará a evoluir em 2021 e os consumidores terão maior acesso às inovações.

O futuro está cheio de desafios e oportunidades; torna-se pois importante termos consciência de que a pandemia só veio acelerar a maior parte deles.

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