Opinião de Stefan Carsten
Será que o futuro da mobilidade será realmente decidido nas cidades? Na União Europeia, 39% da população vive em cidades, 31% nos subúrbios e 29% em zonas rurais. Nestas últimas, as distâncias são maiores e estão a tornar-se ainda mais longas. O principal meio de transporte é o automóvel, e quanto mais pequena é a localidade, maior a frequência de utilização do carro como meio de transporte. Nas zonas rurais, registam-se mais mortes de pessoas em acidentes rodoviários do que nas áreas urbanas. Os trabalhadores estão particularmente dependentes do carro. As distâncias médias para os locais de trabalho aumentam anualmente. A pegada ecológica é maior nas zonas rurais do que nas cidades. Devemos olhar mais de perto para as zonas rurais e para a mobilidade rural.
A mobilidade nas zonas rurais está a crescer, existindo diversas razões para isso:
1. Novos clientes: uma nova geração de pessoas das zonas rurais que desenvolve espaços inovadores e criativos.
2. Novas energias: as energias eólica e solar estão a revelar-se catalisadores de uma mobilidade nova e limpa.
3. Trabalho remoto: a pandemia do coronavírus e as possibilidades do trabalho remoto estão a abrir opções de trabalho e lazer inteiramente novas.
4. As Tecnologias de Informação como facilitadoras: serviços e infraestruturas de TI maduras facilitam a entrada no mercado de serviços e prestadores de mobilidade on-demand.
Os serviços partilhados tornam-se a norma
Atualmente, a grande maioria dos prestadores de serviços de mobilidade partilhada limitam a sua oferta às áreas urbanas. Os fornecedores de plataformas de partilha, como por exemplo a Vulog, a Wunder Mobility, a Moqo ou a Better Mobility, são suporte para novos intervenientes da mobilidade rural, ao disponibilizarem soluções chave-na-mão para startups, cidades e municípios, ou empresas – tanto para pequenas como para grandes frotas. As suas estruturas, assim como o seu conhecimento sobre um novo papel para a mobilidade, alteram a oferta espacial. Isto reduz significativamente as barreiras à entrada de serviços on-demand, uma vez que os recém-chegados ao mercado não têm de desenvolver software complexo internamente, mas podem, ao invés, adquiri-lo como um serviço. Simultaneamente, são veículos de conhecimento e promotores de novos conceitos: o que funciona, onde e porquê? Precisamos de sistemas de carsharing ou ride pooling estacionários? Com quantos e, acima de tudo, com que veículos? Quais as soluções de gestão de frotas necessárias? A interface do utilizador é apenas a aplicação móvel ou é também necessária uma linha telefónica?
A partilha torna-se uma promessa de sustentabilidade
Paralelamente ao carsharing [aluguer individual de curta duração], os conceitos de ride pooling [partilha de veículos] são considerados como tendo grande importância para o futuro, além dos serviços de transportes públicos existentes. Foram analisadas 1,8 milhões de viagens do serviço de ride pooling Clevershuttle, no ano de 2019:
– cerca de 50% das viagens foram realmente viagens partilhadas
– cerca de metade dos utilizadores têm entre 20 e 34 anos.
– mais de 35% dos utilizadores não tem outra forma de acesso a um veículo
– a Clevershuttle é utilizada por causa do preço e da grande conveniência do serviço porta-a-porta, de acordo com quase 50% dos inquiridos
– cerca de 10% teriam usado o seu próprio automóvel, se o serviço não estivesse implementado
– 45% dos inquiridos que têm um carro no seu agregado familiar considerariam substitui-lo pelo serviço Clevershuttle

Veículos Clevershuttle
O Omobi é um serviço on-demand para a utilização partilhada de transporte rural. As viagens podem ser reservadas pelo smartphone ou até mesmo por chamada telefónica. A procura por este tipo de serviço está a crescer, mesmo não tendo os turistas a suportá-la (em tempo de coronavírus). As famílias utilizam o serviço de ride pooling como ’táxis parentais’ para levarem as crianças às suas atividades da tarde. Subitamente, as empresas têm uma alternativa fiável ao automóvel que está disponível independentemente do horário. Atualmente, as administrações locais estão a utilizá-la para viagens de negócios, pagando 2 euros pelo serviço, independentemente da duração da viagem dentro da área de cobertura e dos quilómetros percorridos. E ainda que, no início, o serviço seja pequeno, os municípios vizinhos mostram rapidamente interesse em serem integrados no sistema. Estando o serviço efetivamente implementando, usá-lo é mais fácil, mais barato e mais conveniente.
Estações de carsharing para a comunidade rural
Cada vez mais comunidades rurais estão a criar os seus próprios conceitos de car sharing. Com um valor compreendido entre 2,5 e 5 euros por hora, os utilizadores podem utilizar os automóveis para irem às compras, tratarem de assuntos na comunidade ou explorarem as atrações turísticas. Normalmente, um carro por aldeia é suficiente para satisfazer as necessidades. A eletricidade para os veículos elétricos é, usualmente, fornecida por energia eólica ou solar gerada localmente e é gratuita para os utilizadores. Desta forma, novos conceitos de eletromobilidade são introduzidos na periferia e, simultaneamente, inicia-se a consciencialização local para os processos de mudança.
O regresso do comboio
Apesar dos provedores de serviços ferroviários estarem a retirar-se das zonas rurais em toda a Europa, ainda existe esperança. Uma vez que os comboios ‘normais’ são grandes, demasiado caros e não têm flexibilidade suficiente para satisfazerem as necessidades – isto é, não existem soluções economicamente viáveis para os caminhos-de-ferro – as startups estão a encontrar abordagens inteiramente novas. Oferecem shuttles ferroviárias leves, autónomos e alimentados por baterias em áreas onde os conceitos convencionais não são economicamente eficientes. A grande vantagem destes pequenos meios: em linhas ferroviárias de via única, duas monocabinas autónomas podem funcionar de forma simultânea em ambos os sentidos, reforçando assim o transporte ferroviário de passageiros, especialmente nas zonas rurais. Devido ao seu pequeno tamanho e tecnologia a bateria, os shuttles consomem pouca energia. Em combinação com a autonomia, são cerca de dez vezes mais económicos do que qualquer outra alternativa. O último quilómetro (da estação até à porta de casa) é então assegurado por autocarros (autónomos) ou por serviços de ride pooling.

MonoCab (design do conceito: Ilja Nowodworski)
Conclusão
Se os políticos, bem como os empreendedores e a comunidade pretendem trazer uma mudança à mobilidade rural, são necessários novos serviços baseados na conectividade, flexibilidade e relação custo-eficácia. E os prestadores de serviços precisam, igualmente, de apoio que vá para além de software e hardware. São necessários líderes com pensamento criativo, iniciativas locais e cenários de utilização que sejam transferíveis entre comunidades de caraterísticas comparáveis. Tudo isto já existe e novas manifestações emergem diariamente. Será desta forma que as zonas rurais serão mobilizadas e os novos serviços de mobilidade deixarão de ser um exclusivo dos habitantes das cidades.