fbpx

Green Future-AutoMagazine

O novo portal que leva até si artigos de opinião, crónicas, novidades e estreias do mundo da mobilidade sustentável

O setor da Mobilidade Sustentável – ponto de vista empresarial

O setor da Mobilidade Sustentável – ponto de vista empresarial - António Saraiva

António Saraiva
Presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal

É-me pedido que exponha a visão sobre o setor da mobilidade sustentável visto do lado da Indústria.

Tema complexo, porque o setor da mobilidade é o que mais infraestruturas requer e mais energia consome, mas também porque mobiliza grandes recursos nacionais, materiais e humanos, sendo a indústria a ele associada responsável por uma parte nada desprezável do PIB do país e por uma quota importante das suas exportações.

Para uma análise consistente deste tema, teremos de observar a sua evolução nos últimos trinta anos.

Em 1990, os transportes consumiam menos de 30% do total do consumo final de energia; em 2019, esta percentagem subiu para 36,4%.

Em 1990, o modo rodoviário representava 86% do total de consumo de energia; em 2019, essa percentagem subiu para 95,4% devido à queda acentuada de consumos na ferrovia e na aviação e navegação em território nacional.

É certo que, em 1990, e quanto a sustentabilidade, tínhamos apenas algum consumo de eletricidade no modo ferroviário, ao passo que, em 2019, as energias renováveis representaram 6,6% do total da energia consumida nos transportes, devido, sobretudo, à inclusão de biodiesel no gasóleo.

Esta análise foi necessária para demonstrar que este é o setor mais difícil de descarbonizar e onde a penetração de energias renováveis tem sido menor.

Tal foi reconhecido pelo Governo que, no Plano Nacional Energia e Clima (PNEC 2030), estabeleceu como objetivo para 2030 uma quota de apenas 20% de renováveis nos consumos de energia nos transportes.

Para este objetivo (e outros, mais ambiciosos que, certamente, se seguirão) é necessária uma revolução, não só nos meios de transporte, como nas infraestruturas e, o que é mais difícil ainda, nos hábitos das pessoas e no funcionamento da economia e da sociedade em geral.

E esta ‘revolução’ enfrenta dificuldades:

  • O transporte de mercadorias por via ferroviária não tem tido qualquer evolução;
  • A navegação costeira não é estimulada;
  • O parque de viaturas (ligeiros de passageiros ou de carga e pesados) ascende a vários milhões e, apesar de relativamente envelhecido, não se substitui facilmente.

Claro que as dificuldades devem enfrentar-se e, para isso, há que ler devidamente os sinais, políticos e tecnológicos, porque, neste caso, errar é demasiado caro para o país.

As medidas de política têm, neste caso, grande impacto na economia e nos cidadãos: devem, por isso, ser prudentes, evitando o voluntarismo.

Mas as Empresas têm aqui oportunidades excelentes para aumentar a sua atividade em setores com futuro.

Esta é, também (e, de resto, está a sê-lo) uma janela de oportunidade para o nascimento de novas empresas, quer tecnológicas, quer prestadoras de serviços.

Muito há a fazer e o ponto de partida é, neste caso, favorável:

  • Existe uma sólida indústria nacional de componentes;
  • Os setores elétrico e metalomecânico estão claramente preparados para essa especialização;
  • Temos recursos naturais e indústria no setor das baterias;
  • Estão decididos apoios e verbas para a mobilidade sustentável como nunca antes existiram;
  • Há que realizar mais iniciativas, seja mobilidade elétrica, seja na nascente indústria do hidrogénio, seja nos biocombustíveis, seja acompanhando os desenvolvimentos no que respeita aos combustíveis sintéticos.

O bom senso determina que não devemos ter soluções únicas; sou de opinião que, para uma questão tão difícil e de tanto impacto na economia e na nossa vida como cidadãos, necessitaremos de todas as vias que estão ao nosso dispor.

As soluções disruptivas podem ser tentadoras, mas não podemos esquecer que, neste caso, além da necessidade económica de soluções que sejam custo-eficiente, há que salvaguardar o equilíbrio no emprego.

Tenho, no entanto, a esperança de que, mesmo com estas salvaguardas, se atinjam objetivos realistas na mobilidade sustentável

António Manuel Frade Saraiva, Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, é, desde 2010, presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal. É vice-presidente da BusinessEurope, a confederação de empresas europeias que representa as principais confederações de 35 países europeus; vice-presidente do CES – Conselho Económico e Social; presidente do Conselho de Administração do Taguspark; membro do Conselho de Administração da Future Compta; membro do Conselho de Administração do Instituto de Emprego e Formação Profissional; vogal do Conselho Estratégico da SOFID – Sociedade para o Financiamento do Desenvolvimento, IFIC, SA; administrador não-executivo do Conselho de Administração da Global Media.
A nível académico, é membro do Conselho de Escola do ISCSP – Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas; membro do Conselho de Curadores do ISCTE – Instituto Superior de Ciências do Trabalho e do Emprego; membro do Conselho Consultivo da Católica Porto Business School; membro do Conselho Geral Estratégico da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.
Leciona Corporate Diplomacy no ISCSP e também Desenvolvimento Económico na Coimbra Business School.

Show More