fbpx

Green Future-AutoMagazine

O novo portal que leva até si artigos de opinião, crónicas, novidades e estreias do mundo da mobilidade sustentável

Energias renováveis atraem atenções em cenário de crise energética

A rede global de energias renováveis REN21 lançou hoje o primeiro módulo do Relatório da Situação Global de Energias Renováveis de 2023 (Renewables Global Status Report 2023 Collection ou GSR 2023), que explora as tendências e oportunidades atuais na transição para as energias renováveis nos setores de maior procura de energia: edifícios, indústria, transporte e agricultura.  

Os capítulos do relatório recentemente publicados exploram o crescimento da procura de energia renovável nestes quatro setores e são os primeiros de uma série de oito módulos que constituirão o GSR 2023. Os próximos módulos concentram-se na perspetiva do fornecimento de energia renovável, sistemas e infraestruturas de energia renovável, e energia renovável para a criação de valor económico e social, bem como um resumo global das conclusões. A publicação de todos os módulos está agendada para junho de 2023.  

De acordo com a capítulos agora publicados, as energias renováveis provaram o seu valor em todos os setores analisados, destacando-se como fontes de energia resilientes, confiáveis, estáveis e acessíveis, respondendo com sucesso às atuais crises globais. 

O aumento dos preços da energia, juntamente com vários compromissos políticos destinados a enfrentar a crise climática, tiveram um impacto direto na crescente, embora variável, utilização de energia renovável em edifícios, atividades industriais, transporte e agricultura. Os fortes efeitos da inflação nestes setores, impulsionados pela crise energética, desencadearam políticas públicas concebidas para contrariar as perturbações do mercado e acelerar o crescimento da produção, utilização e produção local de energia renovável. 

“É uma história clássica de desafios transformados em oportunidades”, diz Rana Adib, diretora executiva da REN21. Segundo Adib, a chamada ‘policrise’ global fez com que os decisores políticos e líderes dos setores mais intensivos em energia percebessem os benefícios das energias renováveis como fonte local de energia que garante a segurança do abastecimento a custos estáveis. “Dizemos isto há décadas; é lamentável que tenha sido necessária uma crise para que o mundo finalmente considerasse as energias renováveis nas suas operações industriais, edifícios, transportes e agricultura. É uma crise que em muitos casos levou as famílias à pobreza, forçou as indústrias a reduzir a produção e abrandou o crescimento económico”, acrescentou Adib. 

Uma série de pacotes legislativos impulsionou a procura por energias renováveis nos setores de utilização final até 2022. Estes incluem 500 mil milhões de dólares anunciados pelos Estados Unidos como parte da sua Lei de Redução da Inflação (Inflation Reduction Act), proporcionando novos investimentos, créditos fiscais e incentivos aos setores de procura de energia; o plano REPowerEU da Comissão Europeia; e os planos abrangentes de hidrogénio renovável da Índia, que visam diretamente a indústria pesada e os transportes. 

Diferentes setores de consumo de energia responderam às crises globais de diversas formas e anunciaram novas políticas. No setor da construção, os elevados preços da energia e a procura de um abastecimento energético sem combustíveis fósseis levaram a uma substituição das caldeiras a gás natural por bombas de calor elétricas, fazendo de 2022 um ano recorde para as instalações de bombas de calor, com um crescimento de 10% em relação ao ano anterior.  

“Este crescimento foi mais notável na Europa, onde os mercados cresceram 38%, à medida que os agregados familiares têm procurado cada vez mais alternativas de eficiência e fiabilidade superiores às que geram calor com combustíveis fósseis”, disse Thomas Nowak, secretário-geral da Associação Europeia de Bombas de Calor (EHPA).

As vantagens económicas dos painéis solares de cobertura também se tornaram mais evidentes para os utilizadores, tendo em conta o aumento dos preços dos combustíveis fósseis. Além disso, a frequência das ondas de calor que atingiram a Europa, a Índia e a China em 2022 puseram em destaque o papel crescente dos sistemas de arrefecimento na procura de eletricidade.  

As indústrias consumidoras de energia foram as mais duramente atingidas pela ‘policrise’, uma vez que o aumento dos custos obrigou alguns fabricantes a reduzir a produção ou a deslocalizarem-se em busca de energia acessível e segura. As indústrias também responderam diretamente à crise através da aquisição de energia a fornecedores de energias renováveis através de Contratos de Aquisição de Energia (CAE), que permitem aos utilizadores estabelecer tarifas fixas de eletricidade a longo prazo e protegerem-se de custos elevados. Os CAE na Europa aumentaram 21% em 2022, excedendo em seis vezes o crescimento recorde da capacidade de energia renovável instalada pelas empresas de serviços públicos nesse ano para fornecer eletricidade. Os parques industriais ecologicos também se tornaram mais atrativos à luz da crise energética.

“Se há um resultado positivo da crise energética no setor industrial, é que os líderes industriais foram capazes de discernir concretamente os benefícios das energias renováveis para reduzir os custos de produção, reforçar a resiliência e maximizar os lucros”, afirmou Tareq Emtairah, diretor de Energia da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial. 

No setor dos transportes, os CAE foram uma medida notável para estabilizar os custos e proteger os utilizadores de externalidades e choques. No transporte rodoviário e ferroviário, a eletrificação surgiu como uma tendência crescente e uma oportunidade para acelerar a adoção de energias renováveis entre os utilizadores finais. Os veículos elétricos – incluindo os de duas e três rodas, bem como os autocarros – e as suas infraestruturas de carregamento associadas tiveram outro ano recorde, com um crescimento de 54% a nível de investimentos, em relação ao ano anterior em investimentos, especialmente na Ásia. A Índia, por exemplo, duplicou o investimento em veículos elétricos durante o último ano.

Apesar de ter tido o maior crescimento no consumo de energia, o setor dos transporte teve a menor utilização global de energias renováveis, representando apenas uns modestos 4%. Isto indica que o setor necessitará de mais do que uma simples eletrificação para se tornar mais sustentável, eficiente e totalmente abastecido por energias renováveis.  

“A eletrificação dos automóveis não reduzirá o congestionamento do tráfego, não melhorará a segurança rodoviária nem tornará a mobilidade mais acessível às pessoas. Precisamos de transportes públicos sem emissões e de infraestruturas dedicadas, incluindo caminhos-de-ferro, bem como menos carros e mais deslocações a pé e de bicicleta”, disse Mohamed Mezghani, secretário-geral da União Internacional dos Transportes Públicos.  

A eletrificação também foi uma tendência chave no setor agrícola, juntamente com uma maior independência energética e a utilização de fontes geotérmicas e bioenergéticas. O setor assistiu à adoção de energias renováveis descentralizadas, especialmente na África, Ásia e região das Caraíbas, uma vez que os agricultores deram prioridade ao acesso à energia, à redução dos custos de combustível e à eficiência energética. Os utilizadores finais do setor agrícola abraçaram os avanços tecnológicos e a utilização de energias renováveis na produção e refrigeração de alimentos. 

“A energia renovável é a opção mais económica para os agricultores, especialmente em áreas rurais, onde o uso produtivo de energia na cadeia de valor agrícola impulsiona um ciclo de desenvolvimento que aumenta os rendimentos dos agricultores, fortalece a estabilidade financeira do fornecedor de energia e melhora a segurança alimentar do país. É uma situação vantajosa para todos”, declarou Mohammed Jibril, da Agência de Eletrificação Rural Nigeriana. 

A implementação de políticas públicas tem-se revelado um dos principais impulsionadores da adoção de energias renováveis em setores consumidores de energia. No entanto, muitos decisores políticos ainda subsidiam os combustíveis fósseis e avançam com novos investimentos em projetos de extração de combustíveis fósseis, mantendo obstáculos à adoção mais ampla de energias renováveis.  

“Este relatório deve servir de alerta para todos os decisores políticos permitirem mecanismos imediatos de utilização de energias renováveis que ajudem os utilizadores a enfrentar as crises atuais, incluindo a redução dos encargos económicos e do peso da inflação significativa. Intervenções em energias renováveis ajudarão as comunidades a construir infraestruturas confiáveis e resistentes, em vez de continuarem dependentes de sistemas energéticos nocivos e obsoletos”, disse Arthouros Zervos, presidente da REN21. 

“Ao continuar a subsidiar os combustíveis fósseis, os decisores políticos demonstram que não estão comprometidos em enfrentar as múltiplas crises económicas, de saúde e outras que estamos a enfrentar. Isso mostra que não estão a ser práticos na redução dos altos custos energéticos e dos impactos resultantes em tudo o que consumimos. Os subsídios aos combustíveis fósseis não possibilitam uma área de competição equitativa para as energias renováveis, e infelizmente, concentram lucros e benefícios nas mãos de poucos, em vez de apoiar uma maior equidade para todos”, concluiu Zervos. 

Show More