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Green Future-AutoMagazine

O novo portal que leva até si artigos de opinião, crónicas, novidades e estreias do mundo da mobilidade sustentável

GFAM

Minuto AutoMagazine: Toyota bZ4X

Depois de anos a aperfeiçoar a tecnologia híbrida, a Toyota abriu finalmente a porta à mobilidade sem emissões. Nesta edição do Minuto AutoMagazine, fomos conhecer o primeiro automóvel elétrico a bateria do histórico fabricante nipónico.

Especificações:

Potência: 150 kW (204 cv)
Binário: 266 Nm
Tração: FWD
Aceleração 0-100 km/h: 7,5 segundos
Velocidade máxima: 160 km/h
Bateria: 71,4 kWh
Autonomia (WLTP): 511 km
Bagageira: 452 litros
Preço: a partir de 52.990 €

Volkswagen mobiliza mais de um milhão de funcionários para a proteção ambiental

O Dia Mundial da Terra comemora-se anualmente a 22 de abril e, pelo terceiro ano consecutivo, o Grupo Volkswagen vai assinalar a data com o ‘Project1Hour’: os funcionários da empresa vão interromper a sua jornada de trabalho durante uma hora para discutirem o seu contributo para a proteção ambiental e climática.

Este ano, a campanha deverá estender-se a cerca de 500.000 funcionários dos concessionários das marcas do Grupo em todo o mundo, que se somam aos 675.000 funcionários da empresa.

O ‘Project1Hour’ é acompanhado por campanhas em vários locais, que têm início hoje e se estendem até 22 de abril. Na fábrica principal em Wolfsburgo, os funcionários são convidados a acompanhar o diretor de Produção Christian Vollmer numa visita de bicicleta às instalações, para promover a utilização deste meio de transporte nas deslocações casa-trabalho. A Divisão de Veículos Comerciais vai também incitar os seus funcionários a percorrem o seu trajeto para o trabalho de forma ativa e promover o carpooling. A Porsche, por sua vez, vai financiar as deslocações dos funcionários em transportes públicos durante um dia.

Nas cantinas de várias instalações do Grupo por toda a Alemanha, terão lugar campanhas de alimentação vegetariana e vegana. Em Crewe, no Reino Unido, a cantina da Bentley vai também disponibilizar um menu à base de plantas durante o período da campanha, complementado por dicas para a manutenção de um estilo de vida saudável e sustentável.

Nos Estados Unidos, o Volkswagen Group of America organiza uma campanha de reciclagem, convidando funcionários e clientes a entregarem os seus computadores portáteis, telemóveis, baterias e outros dispositivos eletrónicos usados. Em Herndon e Auburn Hills, os funcionários da Volkswagen vão participar em campanhas de recolha de lixo em parques e outros locais públicos.

Por sua vez, a subsidiária de software CARIAD vai organizar uma ‘Green Tech Week’ para os seus funcionários, sobre as formas como o software pode ajudar a reduzir a pegada de CO2, que inclui palestras realizadas por especialistas, workshops e sessões de limpeza digital.

“‘Investir no nosso planeta’ é o tema do Dia da Terra deste ano. Na Volkswagen, estamos a assumir literalmente essa reivindicação ao investir 52 mil milhões de euros no futuro da mobilidade individual livre de emissões – mais do que qualquer outro fabricante de automóveis. A parcela de veículos elétricos que o Grupo está a vender tem aumentado constantemente: totalizou quase 7% em 2022. Está programado para totalizar mais de 80% em todo o mundo na Porsche, até 2030, por exemplo. Deve chegar a 80% para a marca Volkswagen na Europa no mesmo ano. Também estamos a fazer a nossa parte para expandir a infraestrutura de carregamento com energia renovável: planeamos construir cerca de 18.000 pontos de carregamento rápido na Europa e aproximadamente 45.000 em todo o mundo até 2025. A mobilidade elétrica é a melhor solução para transporte sustentável. Isto é algo em que realmente acreditamos. Estamos a adotar uma abordagem holística para a questão da sustentabilidade: económica, ambiental e socialmente. Com o nosso ‘Project1Hour’, estamos a dar um exemplo no Dia da Terra, e a combinar metas sociais e corporativas com uma oportunidade para todos os funcionários. Juntos, formamos uma força de um milhão de mentes para a proteção do clima”, declarou o CEO do Grupo Volkswagen Oliver Blume, em comunicado.

O Dia Mundial da Terra começou a ser celebrado nos Estados Unidos em 1970, tendo evoluído para um movimento ambiental global ao longo do último meio século. Atualmente, participam no Dia da Terra mais de 200.000 milhões de pessoas em todo o mundo, em múltiplas atividades relacionadas com a proteção ambiental e climática.

BMW: vendas de elétricos mais do que duplicam no primeiro trimestre

O BMW Group registrou um crescimento de 83,2% nas vendas globais de veículos elétricos a bateria no primeiro trimestre de 2023, tendo entregue aos seus clientes um total de 64.647 automóveis BMW e Mini totalmente elétricos durante o período. A marca BMW, em particular, mais do que duplicou o número de automóveis elétricos entregues, relativamente ao mesmo período de 2022.

Em comunicado, o Grupo afirma estar confiante de que 2023 será um ano positivo, apesar da persistência dos efeitos da pandemia de COVID-19 na China e a proibição das exportações para a Rússia em virtude do conflito na Ucrânia. A empresa espera que o mercado chinês estabilize no decurso do ano e que as vendas na Europa recuperem para compensar o embargo à Rússia. O mercado norte-americano mantém-se robusto.

O Grupo refere que as expetativas positivas relativamente a 2023 devem-se fundamentalmente ao “crescimento muito dinâmico” das vendas de veículos elétricos. Com o lançamento do novo BMW i5 este ano, o BMW Group oferecerá pelo menos um modelo totalmente elétrico em todos os segmentos de veículos, antecipando uma trajetória de crescimento acentuado nos próximos anos: até 2024, pelo menos um em cada cinco novos veículos serão totalmente elétricos; até 2025, um em cada quatro veículos; e até 2026, a proporção será de um em três.

“A nossa forte linha de produtos continua a inspirar os nossos clientes em todo o mundo. Os nossos veículos totalmente elétricos, em particular, estão a beneficiar de elevada procura em todo o mundo. Portanto, conseguimos manter o ritmo dinâmico do nosso crescimento da eletromobilidade no primeiro trimestre. O BMW Group está a caminho de um ligeiro crescimento de vendas em todo o ano de 2023. Os principais impulsionadores do crescimento em 2023 serão veículos totalmente elétricos e modelos do segmento premium“, afirmou Pieter Nota, membro do Conselho de Administração da BMW AG, responsável por Clientes, Marcas e Vendas.

A BMW, principal marca do Grupo, registou um crescimento de 112,3% do número de veículos totalmente elétricos entregues durante os primeiros três meses do ano, comparativamente ao período homólogo. O comunicado refere que os modelos BMW iX, BMW i7, BMW i4 e BMW iX3 foram os mais procurados, com o recém-lançado BMW X1 a mostrar-se também “muito popular” entre os clientes. Este ano, a gama de opções totalmente elétricas da marca será complementada pelo BMW i5, com estreia marcada para outubro, e pelo BMW iX2 no final do ano.

As vendas da submarca de perfomance BMW M registaram, no primeiro semestre de 2023, um aumento de 18,3%, com o seu primeiro automóvel totalmente elétrico, o BMW i4 M50, a ser o “principal impulsionador” deste crescimento.

Finalmente, o Grupo afirma ainda que a procura pelo Mini Cooper SE totalmente elétrico se mantém elevada, e que a marca espera um impulso positivo com o lançamento do primero Cooper SE descapotável. A Mini apresentou dois novos modelos totalmente elétricos no início do ano – o Aceman, que evolui do concept apresentado no ano passado, e o Countryman E, que começará a produção em novembro – e continua a preparar a sua eletrificação total, que acontecerá até 2030.

BYD chega a Espanha

A BYD continua a sua ofensiva na Europa, tendo anunciado a sua chegada a Espanha. A marca chinesa entra no mercado do país vizinho com uma gama de três modelos elétricos a bateria: os SUV Atto 3 e Tang, e a berlina executiva Han. Os três modelos utilizam a tecnologia Blade Battery da BYD.

O modelo de entrada é o Atto 3, um crossover compacto “com design europeu moderno”. É o primeiro SUV a ser construído na e-Platform 3.0 da empresa chinesa e apresenta-se com uma bateria de 60,5 kWh, para uma autonomia WLTP de 420 km (565 km no ciclo WLTP urbano), e acelera dos 0 aos 100 km/h em 7,3 segundos. Obteve classificação de cinco estrelas nos testes de segurança Euro NCAP. No país vizinho, está disponível a partir de 41.400 euros.

O BYD Tang é um SUV familiar de 7 lugares, que a marca chinesa afirma ter um interior high-tech “com elegância refinada”. De tração integral, acelera dos 0 aos 100 km/h em 4,6 segundos e percorre 400 km com uma carga de bateria (528 km no ciclo WLTP urbano). O preço-base em Espanha é de 69.990 euros.

Com o mesmo preço-base, a gama é completada pelo Han, que a BYD apresenta como “um sedan elétrico premium com um interior luxuoso”. Também de tração integral, os dois motores elétricos têm uma potência combinada de 380 kW (516 cv), que o levam a cumprir o ‘sprint clássico’ em 3,9 segundos. A autonomia no ciclo WLTP combinado é de 521 km (662 no ciclo WLTP urbano).

As vendas e os serviços de pós-venda da BYD em Espanha serão asseguradas por três grupos de distribuição automóvel: Quadis, Astara e Caetano Retail Spain. A implantação dos dois últimos em Portugal permite antecipar que a estratégia de expansão europeia da marca chinesa deverá passar pelo mercado nacional dentro de alguns meses.

A BYD anunciou também a abertura de duas lojas BYD Pioneer, em Barcelona e em Madrid.

Rede Mobi.E regista novo recorde de carregamentos em março

No mês de março, foram registadas 298.929 transações na rede Mobi.e, o que representa uma subida de 68% relativamente a março de 2022. Também ao nível dos consumos de energia, a rede ultrapassou os recordes anteriores, tendo-se atingido os 4.769.326 kWh, um aumento de 95% em comparação com o período homólogo.

De acordo com a Mobi.E, o crescimento contínuo da rede, para acompanhar o incremento do parque de viaturas elétricas, é um dos principais fatores que contribui para estes números recorde. No final de março, integravam a rede Mobi.E um total de 4.314 postos (3.361 públicos), o que corresponde a 7.251 pontos de carregamento.

Outro dado relevante é a potência da rede, atualmente superior a 183.682 kW, um aumento de 71% em relação ao ano anterior. No final de março, cerca de 1.219 postos de carregamento eram rápidos ou ultrarrápidos, o que representa mais de um terço (35%) do total. 

Existem atualmente 52 tomadas, em média, por cada 100 km de rodovia. Por cada 100 mil habitantes, são disponibilizados 70 tomadas, em média.

Desde o início de 2023, acederam à rede pública nacional mais de 69.969 utilizadores distintos, uma subida de 61% face a 2022. Durante o primeiro trimestre do ano, em média, cada utilizador efetuou um carregamento por semana na rede Mobi.E.

Os carregamentos efetuados na rede desde 1 de janeiro permitiram poupar cerca de 10.500 toneladas de CO2. Segundo a Mobi.E, seriam necessárias mais de 174 mil árvores, com 10 anos e em ambiente urbano, para reter a mesma quantidade de dióxido de carbono.

Gama Recharge representa mais de 80% das vendas da Volvo em Portugal

A Volvo anunciou números recorde na venda dos seus modelos eletrificados em Portugal. No primeiro trimestre de 2023, a gama Recharge representou 83% das vendas nacionais da marca sueca, com o Volvo XC40 Recharge 100% elétrico a ser o modelo mais vendido.

A taxa de penetração de 83% da gama Recharge inclui as vendas de modelos plug-in e 100% elétricos e correspondem a uma subida de 13% em relação ao período homólogo. De acordo com a Volvo, este acréscimo deve-se fundamentalmente ao desempenho dos modelos 100% elétricos, que em 2023 representam já 36% do total das unidades vendidas pela empresa.

Além do XC40 Recharge, o restante top 5 dos modelos mais vendidos pela marca em Portugal é também ocupado por modelos da gama eletrificada: os XC40 e XC60 Recharge Plug-in nos segundo e terceiro lugares, respetivamente; o C4 Recharge 100% Elétrico em quarto lugar; e o Volvo V60 Recharge Plug-in em quinto lugar.

Considerando a totalidade das unidades matriculadas, a Volvo Car Portugal está a crescer 13% em 2023, relativamente ao mesmo período do ano anterior.

A Volvo Cars ambiciona tornar-se uma empresa de automóveis exclusivamente elétricos em 2030. Em 2025, pretende que 50% das suas vendas seja composta por modelos 100% elétricos com a restante quota a ser preenchida por modelos plug-in.

Mangualde vai produzir os furgões elétricos da Stellantis

A Stellantis anunciou que o Centro de Produção de Mangualde irá produzir os modelos elétricos a bateria Citroën ë-Berlingo, Peugeot e-Partner, Opel Combo-e e Fiat e-Doblò, nas versões de comerciais ligeiros e de passageiros, a partir de 2025.

Ao garantir a produção dos veículos comerciais ligeiros elétricos do grupo Stellantis, a fábrica Mangualde torna-se assim a primeira unidade industrial portuguesa a produzir veículos elétricos a bateria em grande série, para os mercados doméstico e de exportação.

A fábrica de Mangualde foi a primeira fábrica de montagem de automóveis em Portugal e celebrou o seu 60º aniversário em 2022. Produziu, até à data, mais de 1,5 milhões de veículos. Atualmente, produz veículos comerciais ligeiros e versões de passageiros dos modelos Citroën Berlingo e Berlingo Van, Fiat Doblò, Opel Combo e Combo Cargo, e Peugeot Partner e Rifter.

Para esta “nova era de produção” de veículos elétricos, a fábrica de Mangualde vai estrear novas instalações, tanto na área de montagem como na de ferragem, a otimização da área industrial, e receber uma nova linha de montagem de baterias.

“Temos o orgulho de anunciar que Mangualde entrará numa nova era com a produção em grande série de furgões elétricos a bateria em Portugal para fornecer as soluções indispensáveis aos nossos clientes empresariais. Impulsionar a experiência de fabrico de Mangualde para construir veículos elétricos a bateria é fundamental para a descarbonização contínua das nossas frotas e mais um passo numa altura em que trabalhamos para alcançar um mix de 40% de zero emissões até ao final da década”, declarou Carlos Tavares, CEO da Stellantis, durante a visita do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do Primeiro-Ministro António Costa, e do Ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, à fábrica de Mangualde, no âmbito da iniciativa ‘PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) em Movimento’ do governo.

A Stellantis Mangualde lidera uma das agendas mobilizadoras para a inovação empresarial com o projeto ‘GreenAuto’, que reúne um consórcio de 37 entidades parceiras e representa um investimento conjunto de 119 milhões de euros.

Em apoio ao objetivo da Stellantis de alcançar a neutralidade carbónica até 2038, a fábrica de Mangualde completou a segunda fase do seu parque de energia solar. Uma vez concluído, cobrirá até 31% das necessidades anuais de energia elétrica da fábrica, permitindo evitar 2.500 toneladas de emissões anuais de CO2, o equivalente à captura de CO2 por cerca de 16.000 árvores.

Em 2022, a Stellantis foi liderou o mercado de veículos comerciais ligeiros BEV na Europa, com uma quota de mercado na ordem dos 43%. Em 2022, a empresa foi também líder de vendas BEV no mercado português com uma quota de 22%, na venda de veículos comerciais ligeiros com 43%, e na venda de comerciais ligeiros BEV com uma quota de 54%.

(Livre) Acesso

Opinião de Stefan Carsten

A mobilidade é um requisito fundamental das interações sociais – alguns diriam mesmo que é uma necessidade humana básica. Os serviços de mobilidade que estão disponíveis localmente determinam a forma como podemos organizar o nosso quotidiano. Apesar de estarmos agora familiarizados com eventos, conversas privadas e relacionamentos verdadeiramente digitais, estes apenas podem complementar os encontros físicos. A procura por ofertas de mobilidade sustentáveis e económicas, apoiadas em infraestruturas simples, não é substituída pelas possibilidades das interações digitais. Para alguns, transportes baratos ou até mesmo gratuitos são ainda um sonho; para outros, são já uma visão tangível. Mas acima de tudo, o acesso à mobilidade a preços razoáveis é uma oportunidade para trazer mais qualidade de vida e sustentabilidade à existência social.

Conceitos de mobilidade baratos, digitais e intermodais são controversos. Isto apesar de terem potencial para dar um novo ímpeto à revolução da mobilidade. O ênfase está menos na questão do preço do que no ‘desenho’ da mobilidade. O acesso atrativo e flexível é a chave para transportes públicos sustentáveis, dando liberdade de escolha ao utilizador, todos os dias. No entanto, autocarros e comboios apenas serão um substituto do automóvel privado quando uma experiência simples e confortável se tornar o princípio orientador, que deve ser também colaborativo e orientado para o serviço.

Há já muito tempo que já não é o conceito de propriedade que molda a vida social e o setor da mobilidade, mas antes o acesso aos aspetos relevantes do ‘mundo da vida’. Um vislumbre rápido das mudanças no mercado automóvel ilustra esta mudança: contratos de leasing para automóveis e outros meios de transporte dominam estes símbolos de estatuto, anteriormente caraterizados pela propriedade. O economista norte-americano Jeremy Rifkin já descreveu esta mudança há duas décadas, enfatizando que “a busca pela propriedade [torna-se] uma busca pelo acesso”.

O valor social acrescentado dos serviços de transporte público acessíveis não deve assim ser menosprezado. O acesso, a custo reduzido, às infraestruturas públicas de mobilidade aumenta a atividade social e cria participação social, o que se reflete numa maior qualidade de vida. O acesso a serviços de mobilidade significa também acesso à vida social do quotidiano, por exemplo a instalações de saúde ou educação. Eva Kreienkamp, presidente do conselho de administração da  Berliner Verkehrsbetriebe [empresa pública de transportes de Berlim], descreve-o da seguinte forma: “O caminho para o supermercado não deve ser um obstáculo inultrapassável; o caminho para o jardim de infância não deve ser influenciado pelo preço de um bilhete”.

Em países e cidades como Luxemburgo e Malta, Talinn ou Dunquerque, os utentes podem já utilizar transportes públicos sem custos. A mobilidade gratuita não tem de permanecer uma visão. Mesmo se os transportes públicos gratuitos não forem sempre acolhidos com aprovação, os residentes podem ser convencidos do contrário. O ministro da Mobilidade do Luxemburgo, François Bausch, refere a discussão controversa e a resistência que o governo encontrou quando comunicou novos modelos de transporte – o objetivo: são as pessoas, e não os veículos, que se devem movimentar. Isto requereu novas transições entre sistemas de transportes individuais. Em 2020, quando da sua introdução, o serviço de transporte público gratuito do Luxemburgo tinha-se desenvolvido ao ponto de as pessoas aceitarem a oferta de mobilidade. Comboios ligeiros, estações espetaculares e plataformas intercambiáveis, e um foco na mobilidade ativa, caracterizam a abordagem holística e integrada do país à mobilidade.

Como resultado de questões logísticas e de recursos, da inflação e da crise energética, o acesso ao transporte local e regional está a tornar-se cada vez mais caro, sem alternativas a longo prazo. Os aumentos de preços estão a forçar os atores públicos e privados do setor da mobilidade a aceitarem compromissos: se o acesso à mobilidade toma novas dimensões de preços, como é que se garante que todos podem continuar a movimentar-se? Crises cumulativas estão a forçar os decisores políticos, mas também nos operadores de transportes públicos, a experimentarem novas formas de reinventar a mobilidade em toda a Europa. O objetivo é fazer com que a mobilidade pública seja tão social quanto possível. Por este motivo, os serviços de mobilidade pública na Irlanda, Reino Unido, Espanha, Itália e Áustria tornaram-se temporariamente mais baratos – para aliviar o fardo dos cidadãos em virtude da crise atual e dos aumentos de preços causados pela guerra na Ucrânia.

  • Na Irlanda, o governo reduziu os preços dos bilhetes 20%, em média, no final de 2022, pelo que um passe de 90 minutos em Dublin custa apenas dois euros.
  • No Reino Unido, todas as tarifas de autocarro foram limitadas a um máximo de duas libras no outono e inverno de 2022.
  • Em Espanha, o transporte local foi mesmo totalmente gratuito no último quadrimestre de 2022. O programa foi financiado pela introdução de um imposto excecional sobre lucros excessivos.
  • Em Itália, as trabalhadoras com rendimentos inferiores a 35.000 euros anuais receberam um bónus de 60 euros para cobrir as viagens de autocarro, comboio e metro. Os vouchers eletrónicos fazem parte de um pacote de 14 mil milhões de euros para tornar os transportes públicos mais atrativos.
  • A oferta austríaca é amiga do ambiente e disponibiliza, em permanência, acesso mais barato ao sistema de transportes públicos do país. Com um custo anual de 1.095 euros, o bilhete foi tão bem recebido que foram vendidos mais de 200.000 durante o primeiro ano. A fasquia de apenas 110.000 bilhetes foi amplamente excedida e 56% dos passageiros usam agora o comboio em percursos que antes percorriam de automóvel. Nos trajetos casa-trabalho, esta quota atinge mesmo 61%. Estas ligações têm um impacto positivo no ambiente.

Muitas cidades estão agora a utilizar modelos de venda digital que conduzem a ofertas de mobilidade com menos impacto e mais atrativas, que possibilitam compras por meio de um simples toque ou até mesmo sem contacto físico. Em Nova Iorque, residentes e visitantes beneficiam de um novo sistema de incentivos para serviços de mobilidade urbana: o acesso ao transporte público local não é já efetuado através de um bilhete, na verdadeira aceção da palavra; ao invés, as distâncias viajadas são somadas automaticamente, havendo um teto de preço semanal: quanto mais se utilizam os transportes, mais barata se torna cada viagem individual.

O acesso ao transporte público a custo reduzido atua como uma válvula de escape social e fortalece a sua posição como elemento significativo de uma mobilidade sustentavelmente organizada. A esmagadora maioria – 88% – dos utilizadores de transportes públicos em todo o mundo refere a sustentabilidade e a proteção ambiental entre as principais razões pelas quais viajam de autocarro, comboio e metro. Que opções de tarifas e de ligações encorajam a utilização de longo prazo de autocarros e comboios? Estas questões devem ser colocadas agora, para implementar sistemas de mobilidade apelativos ‘à prova de futuro’.

  • O transporte público é um importante mecanismo de ajustamento para a transição da mobilidade. No entanto, o potencial de comboios, metros e autocarros apenas pode ser concretizado se o acesso a estes serviços for melhorado. Uma oferta de preços baixos e flexíveis é parte disso, como o é também uma oferta de mobilidade atrativa em áreas urbanas e rurais.
  • Já não se trata apenas do transporte local de passageiros, mas também do transporte público entre regiões. O transporte público gratuito era algo impensável há alguns anos apenas, sendo agora uma ideia mais tangível.
  • Os números impressionantes da utilização do bilhete de nove euros implementado na Alemanha durante o último verão ilustram a importância do acesso de baixo custo aos transportes públicos, e não apenas neste país. 10% das viagens efetuadas com o passe nacional alemão substituíram viagens de automóvel. Muito poucas medidas conseguiram uma tão grande transição modal num espaço de tempo tão curto.
  • O transporte público é de importância vital para a saúde social de uma comunidade. A participação social e a mobilidade são aspetos centrais de uma sociedade democrática inclusiva. Qualquer experiência de concessão no setor do transporte público deve suportar esta componente social.

Stefan Carsten, consultor e especialista na área do Futuro das Cidades e Mobilidade, vive o futuro há mais de vinte anos. É um dos responsáveis pelo início da transição da indústria automóvel de um setor centrado no veículo para um setor centrado na mobilidade. Vive e trabalha em Berlim.

Nissan Qashqai e-Power eleito o Melhor Híbrido do SAHE

O Nissan Qashqai e-Power foi escolhido como o Melhor Veículo Híbrido da sexta edição do Salão do Automóvel Híbrido e Elétrico (SAHE), que teve lugar no passado mês de outubro.

O prémio atribuído pelo SAHE e pela Green Future AutoMagazine, a revista oficial do evento, resulta da votação direta dos visitantes do Salão. Na última edição do SAHE estiveram mais de 20.000 pessoas, durante três dias, para conhecerem as mais recentes propostas na área da mobilidade sustentável.

O sistema e-Power do Qashqai é constituído por uma bateria de ião-lítio de 1,5 kWh que alimenta um motor elétrico de 190 cv, utilizado para propulsionar as rodas dianteiras. A bateria é alimentada por um motor a gasolina 1.5 turbo de 150 cv, com taxa de compressão variável, que funciona apenas como gerador.

Desta forma, os condutores do Qashqai têm todas as vantagens de um elétrico – nomeadamente a resposta imediata quando pressionam o acelerador – sem os respetivos ‘inconvenientes’: carregamentos longos e ansiedade de autonomia.

O prémio de Melhor Híbrido do SAHE foi recebido pelo diretor geral da Nissan Portugal, José Botas.

O Salão do Automóvel Híbrido e Elétrico vai regressar no próximo mês de outubro para mais uma edição – a sétima –, que terá lugar, mais uma vez, no Centro de Congressos da Alfândega do Porto.

Energias renováveis atraem atenções em cenário de crise energética

A rede global de energias renováveis REN21 lançou hoje o primeiro módulo do Relatório da Situação Global de Energias Renováveis de 2023 (Renewables Global Status Report 2023 Collection ou GSR 2023), que explora as tendências e oportunidades atuais na transição para as energias renováveis nos setores de maior procura de energia: edifícios, indústria, transporte e agricultura.  

Os capítulos do relatório recentemente publicados exploram o crescimento da procura de energia renovável nestes quatro setores e são os primeiros de uma série de oito módulos que constituirão o GSR 2023. Os próximos módulos concentram-se na perspetiva do fornecimento de energia renovável, sistemas e infraestruturas de energia renovável, e energia renovável para a criação de valor económico e social, bem como um resumo global das conclusões. A publicação de todos os módulos está agendada para junho de 2023.  

De acordo com a capítulos agora publicados, as energias renováveis provaram o seu valor em todos os setores analisados, destacando-se como fontes de energia resilientes, confiáveis, estáveis e acessíveis, respondendo com sucesso às atuais crises globais. 

O aumento dos preços da energia, juntamente com vários compromissos políticos destinados a enfrentar a crise climática, tiveram um impacto direto na crescente, embora variável, utilização de energia renovável em edifícios, atividades industriais, transporte e agricultura. Os fortes efeitos da inflação nestes setores, impulsionados pela crise energética, desencadearam políticas públicas concebidas para contrariar as perturbações do mercado e acelerar o crescimento da produção, utilização e produção local de energia renovável. 

“É uma história clássica de desafios transformados em oportunidades”, diz Rana Adib, diretora executiva da REN21. Segundo Adib, a chamada ‘policrise’ global fez com que os decisores políticos e líderes dos setores mais intensivos em energia percebessem os benefícios das energias renováveis como fonte local de energia que garante a segurança do abastecimento a custos estáveis. “Dizemos isto há décadas; é lamentável que tenha sido necessária uma crise para que o mundo finalmente considerasse as energias renováveis nas suas operações industriais, edifícios, transportes e agricultura. É uma crise que em muitos casos levou as famílias à pobreza, forçou as indústrias a reduzir a produção e abrandou o crescimento económico”, acrescentou Adib. 

Uma série de pacotes legislativos impulsionou a procura por energias renováveis nos setores de utilização final até 2022. Estes incluem 500 mil milhões de dólares anunciados pelos Estados Unidos como parte da sua Lei de Redução da Inflação (Inflation Reduction Act), proporcionando novos investimentos, créditos fiscais e incentivos aos setores de procura de energia; o plano REPowerEU da Comissão Europeia; e os planos abrangentes de hidrogénio renovável da Índia, que visam diretamente a indústria pesada e os transportes. 

Diferentes setores de consumo de energia responderam às crises globais de diversas formas e anunciaram novas políticas. No setor da construção, os elevados preços da energia e a procura de um abastecimento energético sem combustíveis fósseis levaram a uma substituição das caldeiras a gás natural por bombas de calor elétricas, fazendo de 2022 um ano recorde para as instalações de bombas de calor, com um crescimento de 10% em relação ao ano anterior.  

“Este crescimento foi mais notável na Europa, onde os mercados cresceram 38%, à medida que os agregados familiares têm procurado cada vez mais alternativas de eficiência e fiabilidade superiores às que geram calor com combustíveis fósseis”, disse Thomas Nowak, secretário-geral da Associação Europeia de Bombas de Calor (EHPA).

As vantagens económicas dos painéis solares de cobertura também se tornaram mais evidentes para os utilizadores, tendo em conta o aumento dos preços dos combustíveis fósseis. Além disso, a frequência das ondas de calor que atingiram a Europa, a Índia e a China em 2022 puseram em destaque o papel crescente dos sistemas de arrefecimento na procura de eletricidade.  

As indústrias consumidoras de energia foram as mais duramente atingidas pela ‘policrise’, uma vez que o aumento dos custos obrigou alguns fabricantes a reduzir a produção ou a deslocalizarem-se em busca de energia acessível e segura. As indústrias também responderam diretamente à crise através da aquisição de energia a fornecedores de energias renováveis através de Contratos de Aquisição de Energia (CAE), que permitem aos utilizadores estabelecer tarifas fixas de eletricidade a longo prazo e protegerem-se de custos elevados. Os CAE na Europa aumentaram 21% em 2022, excedendo em seis vezes o crescimento recorde da capacidade de energia renovável instalada pelas empresas de serviços públicos nesse ano para fornecer eletricidade. Os parques industriais ecologicos também se tornaram mais atrativos à luz da crise energética.

“Se há um resultado positivo da crise energética no setor industrial, é que os líderes industriais foram capazes de discernir concretamente os benefícios das energias renováveis para reduzir os custos de produção, reforçar a resiliência e maximizar os lucros”, afirmou Tareq Emtairah, diretor de Energia da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial. 

No setor dos transportes, os CAE foram uma medida notável para estabilizar os custos e proteger os utilizadores de externalidades e choques. No transporte rodoviário e ferroviário, a eletrificação surgiu como uma tendência crescente e uma oportunidade para acelerar a adoção de energias renováveis entre os utilizadores finais. Os veículos elétricos – incluindo os de duas e três rodas, bem como os autocarros – e as suas infraestruturas de carregamento associadas tiveram outro ano recorde, com um crescimento de 54% a nível de investimentos, em relação ao ano anterior em investimentos, especialmente na Ásia. A Índia, por exemplo, duplicou o investimento em veículos elétricos durante o último ano.

Apesar de ter tido o maior crescimento no consumo de energia, o setor dos transporte teve a menor utilização global de energias renováveis, representando apenas uns modestos 4%. Isto indica que o setor necessitará de mais do que uma simples eletrificação para se tornar mais sustentável, eficiente e totalmente abastecido por energias renováveis.  

“A eletrificação dos automóveis não reduzirá o congestionamento do tráfego, não melhorará a segurança rodoviária nem tornará a mobilidade mais acessível às pessoas. Precisamos de transportes públicos sem emissões e de infraestruturas dedicadas, incluindo caminhos-de-ferro, bem como menos carros e mais deslocações a pé e de bicicleta”, disse Mohamed Mezghani, secretário-geral da União Internacional dos Transportes Públicos.  

A eletrificação também foi uma tendência chave no setor agrícola, juntamente com uma maior independência energética e a utilização de fontes geotérmicas e bioenergéticas. O setor assistiu à adoção de energias renováveis descentralizadas, especialmente na África, Ásia e região das Caraíbas, uma vez que os agricultores deram prioridade ao acesso à energia, à redução dos custos de combustível e à eficiência energética. Os utilizadores finais do setor agrícola abraçaram os avanços tecnológicos e a utilização de energias renováveis na produção e refrigeração de alimentos. 

“A energia renovável é a opção mais económica para os agricultores, especialmente em áreas rurais, onde o uso produtivo de energia na cadeia de valor agrícola impulsiona um ciclo de desenvolvimento que aumenta os rendimentos dos agricultores, fortalece a estabilidade financeira do fornecedor de energia e melhora a segurança alimentar do país. É uma situação vantajosa para todos”, declarou Mohammed Jibril, da Agência de Eletrificação Rural Nigeriana. 

A implementação de políticas públicas tem-se revelado um dos principais impulsionadores da adoção de energias renováveis em setores consumidores de energia. No entanto, muitos decisores políticos ainda subsidiam os combustíveis fósseis e avançam com novos investimentos em projetos de extração de combustíveis fósseis, mantendo obstáculos à adoção mais ampla de energias renováveis.  

“Este relatório deve servir de alerta para todos os decisores políticos permitirem mecanismos imediatos de utilização de energias renováveis que ajudem os utilizadores a enfrentar as crises atuais, incluindo a redução dos encargos económicos e do peso da inflação significativa. Intervenções em energias renováveis ajudarão as comunidades a construir infraestruturas confiáveis e resistentes, em vez de continuarem dependentes de sistemas energéticos nocivos e obsoletos”, disse Arthouros Zervos, presidente da REN21. 

“Ao continuar a subsidiar os combustíveis fósseis, os decisores políticos demonstram que não estão comprometidos em enfrentar as múltiplas crises económicas, de saúde e outras que estamos a enfrentar. Isso mostra que não estão a ser práticos na redução dos altos custos energéticos e dos impactos resultantes em tudo o que consumimos. Os subsídios aos combustíveis fósseis não possibilitam uma área de competição equitativa para as energias renováveis, e infelizmente, concentram lucros e benefícios nas mãos de poucos, em vez de apoiar uma maior equidade para todos”, concluiu Zervos.