O júri da 2ª edição do Prémio Gulbenkian para a Humanidade distinguiu, entre 113 candidatos provenientes de 48 países, o esforço concertado da Global Covenant of Mayors for Climate & Energy para promover a transição das cidades para uma economia de baixo carbono.
O Global Covenant of Mayors for Climate & Energy – GCoM é a maior aliança global para a liderança climática das cidades, sendo constituída por mais de 10 600 cidades e governos locais de 140 países, incluindo Portugal.
O GCoM é copresidido por Frans Timmermans, vice-Presidente Executivo da Comissão Europeia para o Pacto Ecológico Europeu, e por Michael Bloomberg, antigo presidente de Câmara de Nova Iorque e enviado especial do Secretário-Geral das Nações Unidas para Ambições e Soluções Climáticas.
O montante de 1 milhão de euros do Prémio Gulbenkian vai financiar projetos de grande dimensão em cinco cidades no Senegal (fornecimento de água potável) e numa cidade nos Camarões (desenvolvimento de soluções de eficiência energética). Estes projetos, de elevada ambição climática, foram identificados pela Fundação Gulbenkian, em conjunto com a equipa técnica da organização premiada. (vídeo de projeto no Senegal)
O apoio aos projetos selecionados será realizado em estreita colaboração com o Pacto de Autarcas Regional na África Subsariana, a Cooperação Internacional Alemã e o Banco Europeu de Investimento.
O júri do Prémio refere que a atribuição do Prémio Gulbenkian para a Humanidade “não podia ser mais oportuna e apropriada, já que mais de metade da população mundial vive em áreas urbanas, sendo as cidades responsáveis por mais de 70% das emissões globais de CO2.” Salientando “o papel determinante dos municípios para lutar eficazmente contra as mudanças climáticas e o alcance global desta organização”, o júri frisou o facto de o montante do Prémio “se destinar a apoiar a sua ação concreta na criação de cidades descarbonizadas e resilientes, com um foco especial em dois projetos em África”.
O Prémio Gulbenkian para a Humanidade será entregue no dia 9 de novembro na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26),que se realiza em Glasgow, na Escócia.
Relembrando que no ano passado o Prémio distinguiu uma “icónica ativista” como Greta Thunberg, “fundamental para a defesa das causas climáticas”, a presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Isabel Mota, sublinha que, ao ser atribuído este ano a uma organização como o Global Covenant, este Prémio demonstra “a elevada importância da descarbonização e resiliência das cidades no combate à crise climática e na recuperação económica coesa e sustentável, bem como do impacto da ação local a nível global”. Isabel Mota considera que “o Prémio vai, seguramente, alavancar as ambições climáticas e os planos de ação de diversas cidades africanas em zonas vulneráveis e que necessitam de toda a atenção.”
Em nome da Global Covenant of Mayors e da Comissão Europeia, Frans Timmermans diz-se “verdadeiramente honrado pela atribuição deste prestigiado prémio, que vem reconhecer o papel pioneiro das cidades na transição para uma economia com emissões zero de carbono e também a urgência em combater a crise climática em todo o mundo. Iremos impulsionar o reconhecimento que nos foi conferido pela Fundação Calouste Gulbenkian apoiando os Presidentes de Câmara que se encontram a liderar a implementação de ações climáticas ambiciosas”.
Michael Bloomberg sublinha também que as cidades “são a chave para vencer a batalha contra as alterações climáticas” e que “apoiando-as e ajudando-as a trabalhar em conjunto, podemos fazer muito para acelerar o progresso global”. Bloomberg afirma ainda que “o valor do prémio irá, através do Global Covenant of Mayors, ajudar as cidades da África subsariana a enfrentar as alterações climáticas, de modo que possam também recuperar dos impactos económicos provocados pela pandemia.
Mohamed Sefiani, presidente da Câmara de Chefchaouen, em Marrocos, e membro da GCoM, confirma que o valor do Prémio Gulbenkian para a Humanidade “será usado para apoiar as cidades subsarianas nos planos e estratégias de ação climática e na preparação de projetos para investimentos futuros”. Acrescenta ainda que “graças ao generoso apoio da Fundação, estamos a trabalhar em direção a uma recuperação verde e justa, o que significa mais emprego, melhor saúde pública, menor desigualdade e um planeta mais saudável para nós e para as gerações vindouras”.
Finalmente, Werner Hoyer, presidente do Banco Europeu de Investimento (BEI) afirmaque “o BEI trabalha muito de perto com cidades de todo o mundo para enfrentar as alterações climáticas através de projetos transformadores. Estamos encantados com esta distinção da Fundação Gulbenkian à Global Covenant que vai permitir desenvolver projetos do BEI com os nossos parceiros do SONES (empresa pública de abastecimento de água), para proporcionar água potável a cinco cidades do Senegal, ajudando a responder aos efeitos das alterações climáticas e a criar resiliência contra a doença”.
As cidades africanas enfrentam grandes desafios associados às alterações climáticas, pois além das múltiplas vulnerabilidades, deparam-se ainda com lacunas de financiamento críticas.
Os projetos identificados no Senegal e nos Camarões têm um elevado potencial de impacto, estando numa fase inicial de planeamento, dependentes de financiamento para avançar. Integram o pipeline do Fundo Gap, que se destina a ajudar cidades de médio e baixo rendimento a fazer a transição para economias de baixo carbono resilientes ao clima, por meio de uma parceria entre entidades financiadoras
A disponibilização de pontos de abastecimento de água para uso doméstico em cinco cidades do Senegal vai beneficiar famílias desfavorecidas e terá um elevado impacto na saúde pública, na economia e na redução das desigualdades de género. Já nos Camarões, o foco será na renovação da rede de iluminação pública na cidade de Garoua, recorrendo a tecnologias mais eficientes e à instalação de novos equipamentos, e prevê o alargamento da rede a locais remotos ou não servidos pela rede pública de eletricidade. A instalação de iluminação pública trará benefícios em termos de segurança, sobretudo de mulheres e raparigas jovens, além da redução de emissões e também de despesa pública.