A Citroën está em pleno processo de reinvenção para a era da mobilidade elétrica – apresentou, há dias, o seu novo logótipo e imagem – e, depois no inovador Ami, acaba de revelar a sua mais recente criação.
Trata-se do Citroën oli – leia-se ‘all-ë’ –, um “laboratório sobre rodas” no qual a marca francesa experimenta ideias, conceitos e inovações para a mobilidade familiar do futuro, focadas na redução de peso e da complexidade para maximizar a eficiência, a versatilidade e a acessibilidade.
Segundo a Citroën, longe de ser um ‘palácio sobre rodas’ de 2.500 kg, repleto de ecrãs e gadgets, o oli pretende provar que através de um número adaptado de funcionalidades, com o uso inventivo de materiais responsáveis e um processo de produção sustentável, é possível “responder à necessidade de uma mobilidade sem emissões e económica, atrativa e adequada a todos os estilos de vida”.
Vincent Cobée, CEO da marca francesa, explica a razão que faz deste o momento certo para o oli: “Três conflitos sociais estão a acontecer simultaneamente: em primeiro lugar o valor e a dependência da mobilidade; em segundo, os constrangimentos económicos e a incerteza dos recursos; e, em terceiro, o nosso sentimento crescente de desejarmos um futuro responsável e otimista. Os consumidores pressentem que a era da abundância poderá ter acabado, e que o aumento das regulamentações, bem como a subida dos custos, podem limitar a sua capacidade de se deslocarem livremente. Ao mesmo tempo, há uma crescente consciência da necessidade de acelerar os esforços para prevenir as alterações climáticas, o que nos está a tornar mais conscientes e exigentes”.
“Um automóvel familiar típico, de meados dos anos 70, pesava cerca de 800 kg e tinha 3,7 m de comprimento e 1,6 m de largura. Os equivalentes de hoje cresceram para mais de 1.200 kg, até mesmo 2.500 kg, têm pelo menos 4,3 m de comprimento e 1,8 m de largura. As exigências legais e de segurança têm impulsionado parte disso, mas se a tendência se mantiver e continuarmos a parar estes veículos 95% do tempo e a fazer 80% das viagens com um único ocupante a bordo, o conflito entre a necessidade de proteger o nosso planeta e a promessa futura de uma mobilidade sustentável e eletrificada não será facilmente resolvido”, acrescenta Cobée.
“A Citroën acredita que a eletrificação não deve significar extorsão, e ser-se eco-consciente não deve trazer uma punição, limitando a nossa mobilidade ou tornando os veículos menos gratificantes para desfrutar. Temos de inverter as tendências, tornando-os mais leves e menos dispendiosos, e encontrar formas inventivas de maximizar a sua utilização, e permitir a sua readaptação para os seus futuros proprietários. Caso contrário, as famílias não poderão pagar a liberdade de mobilidade quando os veículos totalmente elétricos se tornarem na única opção à sua disposição. O Citroën oli é uma demonstração poderosa de como a Citroën está a encarar estes conflitos de frente e com otimismo”, conclui o CEO da Citroën.
O oli é assim um veículo familiar conceptual que permite múltiplas atividades, construído em torno de uma ideia central de sustentabilidade. Segundo a Citroën, demonstra como pode ser alcançada uma Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) de topo, desde a fase de conceção, com uma utilização otimizada de materiais leves e reciclados, processos de produção sustentáveis, ‘vida ao serviço’ alargada e uma reciclabilidade responsável em final de vida.
“Queríamos usar apenas a quantidade de materiais de que precisávamos, pelo que perseguimos, impiedosamente, o objetivo de colocar os recursos certos onde são necessários e limitar o impacto da utilização desses mesmos recursos”, refere Laurence Hansen, diretora de Produto e de Estratégia da Citroën.
Em virtude desta redução de peças e componentes, o oli pesa somente cerca de 1.000 kg, o que o torna significativamente mais leve do que a maioria dos SUV compactos elétricos disponíveis no mercado. Como resultado, a motorização totalmente elétrica precisa apenas de uma bateria de 40 kWh para gerar uma autonomia máxima de 400 km, com consumos na ordem de 10 kWh/100 km. O carregamento de 20% a 80% da capacidade da bateria faz-se em 23 minutos. Já a velocidade máxima está limitada a 110 km/h para maximizar a eficiência.
“É um círculo vicioso, entregar mais autonomia elétrica requer uma bateria maior. Adicionar mais tecnologias requer mais energia, o que também significa uma bateria de grandes dimensões. Tudo isto adiciona peso, complexidade e custos, e quanto mais um veículo pesa, menos eficiente se torna”, acrescenta Laurence Hansen. “O oli demonstra o que pode acontecer quando adotamos uma abordagem completamente diferente”.
Os assentos, são um bom exemplo da abordagem da Citroën na conceção do oli – de construção simples, usam 80% menos peças do que um banco tradicional e são feitos de materiais reciclados, contando com um design das costas em rede de ‘malha’, que realçaa a luz natural no interior do veículo. Podem ainda ser facilmente atualizados ou personalizados de acordo com o gosto dos proprietários individuais. É portanto, de acordo com a Citroën, uma situação vencedora, pois o peso do veículo é reduzido, os materiais são responsáveis e sustentáveis, e o ambiente a bordo melhorado, com impacto positivo no conforto dos ocupantes.
Um outro exemplo são as portas da frente, idênticas em cada lado, embora montadas de forma oposta. Mais leves, mais fáceis de produzir e de montar – reduzir a complexidade e simplificar a construção permitiu poupar 20% em termos de peso por porta, em comparação com um hatchback familiar típico –, necessitam de metade do número de componentes, poupando-se cerca de 7 kg por porta com somente a remoção do altifalante, dos materiais de isolamento sonoro e dos cabos elétricos.
A marca francesa afirma que o oli é uma “extensão multiusos do quotidiano das nossas vidas”, sendo também útil quando não está a ser conduzido. Está equipado com tecnologia Vehicle-to-Grid (V2G), o oli pode armazenar energia obtida, por exemplo, a partir de painéis solares domésticos, fornecendo-a de volta quando necessário, ajudando a gerir problemas de energia quando há procura máxima ou falhas de energia na rede.
Similarmente, graças à capacidade de Vehicle-to-Load (V2L), o oli pode, teoricamente, fornecer energia a um dispositivo elétrico de 3.000 watts durante cerca de 12 horas, tornando-se assim capaz de apoiar, por exemplo, viagens de verão até à praia ou fins de semana de acampamento na montanha.
Com uma silhueta invulgar, o Citroën oli afirma-se “sem complexos” como um SUV compacto de 4,2 m de comprimento, 1,65 m de altura e 1,9 m de largura.
A abordagem estética foi deliberadamente exagerada para reforçar a funcionalidade e versatilidade, com destaques para as cores, os materiais brilhantes e os padrões vivos, que oferecem também oportunidades de personalização.
“Não temos medo de mostrar como o veículo é montado, podendo ver-se estruturas, parafusos e dobradiças, por exemplo. Abraçar a pureza permite-nos projetar de uma forma diferente e desafiar tudo. É como ter uma abordagem analógica de muitas coisas que hoje em dia se tornaram digitais”, refere Pierre Leclercq, responsável de Design da Citroën. “É por isso que tivemos uma abordagem menos automóvel com o oli e é essa pureza e engenho que vai inspirar elementos da nossa linguagem de design ao longo dos próximos anos”.
A Citroën vê o oli como uma plataforma robusta para tarefas de trabalho e para lazer. Os painéis do capô, do tejadilho e da traseira, planos, que definem a silhueta do veículo, foram escolhidos para cumprir os objetivos de baixo peso, elevada resistência e máxima durabilidade.
Fabricados a partir de cartão ondulado reciclado, formado numa estrutura do tipo sanduíche de favo de mel, entrecortada por reforços de painéis em fibra de vidro, foram codesenvolvidos com a parceira empresa de petroquímica BASF. São revestidos de resina de Poliuretano Elastoflex, cobertos por uma camada protetora de Elastocoat, dura e texturizada, soluções frequentemente usadas em decks de estacionamento ou rampas de carregamento, depois pintadas com uma tinta BASF R-M Agilis, tinta à base de água com um nível reduzido de compostos orgânicos voláteis.
Os painéis são rígidos, leves e fortes – suportam um adulto de pé – e o seu peso é reduzido em 50% quando comparado com uma construção equivalente num tejadilho em aço.
A versatilidade em termos de transporte de carga é garantida pelas calhas de cada lado do painel permitem a instalação de acessórios como porta-bicicletas e caixas de tejadilho. Sob o painel do capô encontram-se zonas de armazenamento detalhadas, incluindo compartimentos para os cabos de carregamento, além de artigos pessoais e de emergência.
A Citroën afirma que a decisão consciente de criar superfícies planas com vista aos objetivos definidos em termos de recursos e de materiais permitiu à equipa experimentar o contraste entre elementos de design verticais e horizontais – por exemplo, nos detalhes associados às zonas vidradas e na iluminação.
“Todos os elementos-chave de design do oli são perfeitamente horizontais ou verticais, algo que queremos explorar”, diz Pierre Leclercq. “A abordagem habitual seria partir em busca de linhas dinâmicas, e outros fabricantes de veículos não se atreveriam a fazer o que fizemos, mas estamos à procura de honestidade e de eficiência na linguagem das formas”.
O para-brisas é vertical para minimizar a sua área, usando-se uma menor quantidade de vidro. Além de reduzir o peso e a complexidade, a superfície mais pequena é mais barata de produzir ou de substituir e também diminui a exposição dos ocupantes aos efeitos do sol. A Citroën estima ainda que isto ajude a reduzir até 17% a necessidade de energia obtida a partir das baterias através de uma menor utilização do sistema de ar condicionado.
“Pode-se argumentar que um ecrã vertical é menos aerodinâmico, mas não esperamos que as pessoas conduzam este tipo de veículo a velocidades de 200 km/h. Considerámos ser mais útil em zonas urbanas e suburbanas, onde as pessoas reduzem a velocidade e estão conscientes dos aspetos ambientais e de segurança da mobilidade quotidiana. É por isso que limitamos a velocidade máxima do Oli a um máximo de 110 km/h”, explica Pierre Sabas, responsável da área de Design Avançado e Concepts da Citroën.
Não obstante, o oli apresenta um sistema experimental ‘Aero Duct’, entre a secção frontal do capô e o painel superior plano, que sopra ar em direção ao vidro da frente, criando um efeito de cortina, de modo a suavizar o fluxo de ar sobre o tejadilho e aumentar a eficiência.
A Citroën destaca ainda a combinação de jantes e pneus de 20 polegadas do oli, que resultam de um novo protótipo de jante híbrida. A marca afirma que as jantes em liga leve de alumínio são dispendiosas e implicam elevados recursos de energia, e as jantes em aço puro são demasiado pesadas. Foi portanto tomada a decisão de misturar as duas, e as jantes híbridas resultantes são 15% mais leves do que uma jante de aço integral equivalente, contribuindo para uma redução global do peso do veículo de 6 kg.
A Citroën também se associou à Goodyear na utilização do pneu concept Eagle GO, que combina sustentabilidade com longevidade e uma tecnologia inteligente que monitoriza o estado e a saúde do pneu.
O composto do piso de pneu é praticamente todo ele feito materiais sustentáveis ou reciclados, incluindo óleos de girassol e sílica de cinzas de casca de arroz, bem como de resinas de pinheiros e borracha natural completa, em substituição da borracha sintética à base de petróleo.
A grande novidade é o objetivo que a Goodyear estabeleceu: uma vida útil até 500.000 km através da reutilização de uma carcaça sustentável, até porque a profundidade do piso de 11 mm pode ser renovada por duas vezes ao longo da vida do pneu. O pneu também está equipado com a tecnologia Goodyear SightLine, a qual inclui um sensor que monitoriza uma variedade de parâmetros do estado de saúde dos pneus, constantemente, ao longo da sua vida útil.
Finalmente, em vez de um painel de bordo completo, com múltiplos ecrãs e computadores ocultos, o oli apresenta um tablier simétrico simples, que percorre o veículo a toda a largura interior, no qual se destaca, de um lado, a coluna de direção e o volante, surgindo ao centro um encaixe para um smartphone e cinco interruptores do tipo toggle switches, claramente identificados, para o sistema de climatização. O tablier integra ainda uma rede eletrificada à qual podem ser acoplados acessórios, através das entradas USB disponíveis.
De destacar o facto de o oli apenas necessitar de um conjunto de 34 peças neste particular, face às 75 que são necessárias no painel de bordo e consola central de um hatchback familiar tradicional.
No oli, todo o infotainment e toda a comunicação de que se precisa é trazida para o veículo através do smartphone pessoal, que se pode fixar na tomada central existente no tablier central. Uma vez ligado, as informações e as aplicações são fundidas com os dados essenciais do veículo, como a velocidade e o nível de carga da bateria. Todas estas informações tornam-se visíveis através de um sistema Smartband, que as projeta a toda a largura inferior do para-brisas.
“Como o vosso smartphone tem mais poder de computação do que muitos veículos, decidimos adotar uma abordagem diferente ao infotainment“, acrescenta Pierre Sabas. “Todos nós transportamos os nossos telemóveis e já usamos apps para navegação e entretenimento, sendo que vimos nisso uma oportunidade de reduzir as despesas, a duplicação e o peso dos sistemas integrados. Basta trazer o seu próprio dispositivo e ligá-lo lá dentro”.
A mesma abordagem foi utilizada para o sistema de áudio do veículo. Cada extremidade da faixa é oca, podendo acomodar altifalantes Bluetooth cilíndricos, que podem ser ‘encaixados’ para fornecer som – pouparam-se 250 g de peso pela eliminação do sistema de áudio tradicional. Estes altifalantes amovíveis prestam-se a outras utilizações – podem, por exemplo, ser pendurados nos ganchos das calhas da bagageira, fora do veículo.