Na semana passada, tive a honra de inaugurar o 2.º Congresso Alemão de Cicloturismo. Embora o foco estivesse sobretudo no cicloturismo, o tema em si é bem mais abrangente. Como podemos desenvolver destinos de férias que proporcionem momentos de lazer e prazer, mas de forma sustentável? Esta questão é especialmente relevante, pois sabemos que entre 70 a 80 por cento das emissões de CO₂ durante uma viagem de férias provêm do transporte em automóveis com motor de combustão convencional. E não é de admirar — afinal, muitas vezes as opções de mobilidade acabam quando se chega ao destino, deixando os turistas dependentes dos seus próprios carros, certo?
Três Líderes Europeus em Mobilidade Turística
Tirol do Sul (Itália)
O Tirol do Sul tornou-se um pioneiro da mobilidade nos Alpes. Com o seu “Mobilcard Südtirol”, os visitantes têm acesso ilimitado a autocarros, comboios regionais e teleféricos — tudo incluído automaticamente na reserva de alojamento. Christof Pardeller, Diretor da Mobilitätsverbund Südtirol, afirma: “Não queremos apenas reduzir emissões — queremos melhorar a experiência do visitante e aliviar as nossas aldeias da pressão do estacionamento e da congestão. A mobilidade sustentável faz parte da nossa identidade.”
Como resultado, o Tirol do Sul registou não só uma redução na chegada de turistas de carro, mas também uma revitalização do comércio local, já que mais visitantes passam tempo nos centros das localidades em vez de apenas os atravessarem de carro.
Smile24 (Alemanha)
A operar nas regiões rurais e costeiras de Schleswig-Holstein, a Smile24 é uma plataforma digital de mobilidade que integra aluguer de bicicletas, autocarros, autocarros expresso, ferries e partilha de carros num único sistema de reserva intuitivo. Anna Ehlers, coordenadora do projeto, sublinha: “Não se trata de proibir carros — trata-se de oferecer algo melhor. Os visitantes querem simplicidade e sustentabilidade, e estamos a oferecer-lhes ambas. O feedback do comércio local tem sido excelente — as pessoas que chegam sem carro tendem a ficar mais tempo e a explorar mais.”
A Smile24 é um modelo para um turismo para além do carro privado, promovendo acessibilidade e participação económica nas localidades mais pequenas.
Laax (Suíça)
Laax está no caminho para se tornar a primeira estância de esqui sem carros da Europa até 2030. Com uma ousada estratégia de sustentabilidade, a estância combina shuttles elétricos, centros logísticos, infraestruturas alimentadas por energia solar e limitações rigorosas ao uso de carros privados. Reto Fry, Gestor de Sustentabilidade em Laax, explica: “Os Alpes estão na linha da frente da crise climática. Se não agirmos, perdemos a neve, os glaciares — e, no fim, os nossos visitantes. A nossa estratégia não é apenas ambiental; é uma questão de sobrevivência económica.”
Os comerciantes locais apoiam a iniciativa, referindo que menos tráfego significa mais ambiente e mais compras espontâneas. Laax demonstra que até destinos de gama alta podem prosperar sem um planeamento centrado no automóvel.
As decisões sobre mobilidade moldam não apenas as emissões, mas também a vitalidade das economias locais. Estudos demonstram que ciclistas e peões contribuem significativamente mais para o volume de negócios do comércio local do que os automobilistas. No entanto, em muitas regiões, a infraestrutura centrada no carro continua a dominar os centros das localidades, transformando potenciais polos de atividade social e comercial em simples corredores de tráfego. Os destinos que priorizam a caminhabilidade, o transporte público e a mobilidade partilhada registam mais movimento em lojas e cafés — e fomentam laços comunitários mais fortes.
Veículos Elétricos: Uma Solução Parcial
Embora os veículos elétricos ajudem a reduzir as emissões diretas, especialmente quando alimentados por fontes renováveis, não resolvem os problemas de tráfego, uso do solo ou acessibilidade nas zonas turísticas. A chave está na mudança de comportamento — da posse ao acesso, da condução à partilha. Os veículos elétricos devem ser integrados numa estratégia multimodal mais ampla, e não substituí-la. E obviamente, com os grandes avanços nos serviços de mobilidade autónoma, a esperança de ultrapassar os comportamentos tradicionais de mobilidade está mais forte do que nunca.
O Caminho para um Turismo Resiliente
O futuro do turismo está profundamente ligado à forma como nos movemos. Regiões como o Tirol do Sul, a Smile24 e Laax demonstram que a inovação na mobilidade não é um extra — é uma estratégia de sobrevivência. Estão a construir sistemas onde sustentabilidade, vitalidade económica e qualidade de vida se encontram.
Para outros destinos, o caminho é claro: passar da mobilidade como uma necessidade logística para a mobilidade como um ativo central da marca do destino. É assim que tornamos o turismo resiliente — para os visitantes, os residentes e as gerações futuras.