A Administração Nacional de Segurança de Tráfego Rodoviário (NHTSA – National Highway Traffic Safety Administration), a autoridade do governo federal norte-americano para a segurança rodoviária, anunciou no final da passada semana que irá prosseguir para a fase seguinte na investigação a 830.000 automóveis da Tesla equipados com o sistema de assistência ao condutor Autopilot, um passo necessário antes de exigir que o fabricante proceda compulsivamente à recolha dos veículos.
Em agosto do ano passado, a agência abriu um processo preliminar para avaliar o desempenho do sistema Autopilot em 765.000 automóveis, depois de uma dezena de acidentes em que os veículos da Tesla chocaram contra viaturas de emergência ou de manutenção que se encontravam paradas ou estacionadas. A NHTSA revelou agora que registou entretanto seis acidentes adicionais deste tipo. Destes 16 acidentes, sete resultaram em feridos, havendo uma vítima mortal a registar.
Agora, a agência de segurança rodoviária dos Estados Unidos atualizou o processo, abrindo uma nova fase que passa por uma análise de engenharia, o passo necessário para exigir a retirada de circulação dos veículos. A NHTSA procura determinar se o software da Tesla garante adequadamente que os condutores estejam permanententemente alerta e preparados para assumir o controlo do automóvel – a agência sugeriu que as provas apontam para que, na maioria dos acidentes, os condutores comportaram-se de acordo com a estratégia de alerta da Tesla, o que levanta dúvidas acerca da sua eficácia.
A NHTSA afirma que a atualização do processo serve para “ampliar a análise de choque existente, avaliar conjuntos de dados adicionais, realizar avaliações de veículos e explorar em que medida é que o Autopilot e os sistemas associados da Tesla podem exacerbar os fatores humanos ou os riscos comportamentais de segurança ao enfraquecer a eficácia da supervisão do condutor”.
A análise da NHTSA indica que, na maioria dos acidentes investigados, as advertências de colisão frontal apenas foram ativadas imediatamente antes do impacto, e que a travagem de emergência posterior interveio em cerca de metade dos choques.
“Em média, o Autopilot abortou o controlo do veículo menos de um segundo antes do primeiro impacto”, avançou a agência federal, assinalando ainda que “quando o vídeo do acidente estava disponível, a aproximação à situação teria sido visível para o condutor, em média, 8 segundos antes do impacto”.
A NHTSA declarou ainda que reviu os registos de 106 acidentes com o sistema Autopilot da Tesla, afirmando que, em aproximadamente metade, existem indícios de que os condutores não responderam de forma suficiente às necessidades das tarefas de condução. No entanto, “o uso inadequado dos componentes do veículo por parte de um condutor, ou a operação de um veículo de forma não intencional não exclui necessariamente um defeito do sistema”.
Em cerca de um quarto dos 106 acidentes, a agência de segurança rodoviária encontrou também indícios de que o fator principal do choque estaria relacionado com a utilização do sistema em situações onde a Tesla afirma que podem existir limitações, como estradas secundárias ou condições reduzidas de visibilidade motivadas por fatores como chuva, neve ou gelo.
Num outro processo, a NHTSA está a investigar 416.000 automóveis mais recentes equipados com o Autopilot, depois de receber 758 relatórios de ativação inesperada do sistema de travagem. A agência solicitou que a Tesla responda a um conjunto de questões sobre o software antes do dia 20 de junho.
Finalmente, num terceiro processo em separado, a NHTSA abriu investigações especiais a 35 acidentes que envolveram veículos Tesla, nos quais se suspeita da ativação o Autopilot ou outros sistemas de apoio à condução, que resultaram em 14 vítimas mortais desde 2016, incluindo um acidente no mês passado, na Califórnia, que matou três pessoas.
A agência pediu a outros dez fabricantes automóveis, entre os quais a GM, Toyota e Volkswagen, que respondessem a questões relacionadas com “estratégias de participação e atenção do condutor utilizando sistemas de assistência” no âmbito da investigação à Tesla, mas não revelou mais informações sobre este procedimento.
Contactada pela agência Reuters, a Tesla não emitiu qualquer comentário.