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Green Future-AutoMagazine

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Os carros elétricos chineses, a micromobilidade e as dúvidas que me assistem!

Para além da autonomia, da infraestrutura disponível de carregamento e das emissões zero, um dos principais desafios dos veículos elétricos (EV) é o seu preço, ou seja, a facilidade de acesso à compra pela generalidade da população, mesmo com benefícios fiscais e outros que atualmente existem.

E os dados das vendas mundiais, embora em crescimento em 2023, não são tão “simpáticos” como era a expetativa de alguns, até dos próprios fabricantes. 

A maturidade de algumas tecnologias disponíveis (das baterias e das matérias-primas) não estão, ainda, a convidar a explosões de compra, embora alguns estudos apontem para uma queda significativa dos preços já neste ano de 2024 (sugiro a visita ao Goldman Sachs Research). O valor atual das baterias ronda os 160 EUR/kW/h e deverá cair para os 120 EUR/kW/h. Será que isto vai mudar o paradigma da sua adoção em massa? Não sei!

Convém notar que este valor, segundo a Goldman Sachs, é atribuído ao conjunto de células (baterias) e não às células individuais. Cada fabricante constrói as suas baterias de forma diferente (o que implica preços diferentes). Assim, poderá haver fabricantes com preços de armazenamento de energia mais baixos. O que este estudo mostra é a tendência de descida acentuada nos próximos dois anos.

Uma entrada forte, pelo preço, no mercado português é a dos chineses da BYD (Build Your Dreams, sigla pomposa) – à qual fiz referência no artigo de agosto aqui na Revista. A marca BYD, que chegou a Portugal em 2023, já está em oito distritos, nos Açores e na Madeira, e terminou o ano próximo das 500 unidades vendidas (pelos dados a que tive acesso). O modelo mais barato – dos cinco que já tem disponíveis no mercado nacional – começa nos 29 990 euros, um dos mais acessíveis no segmento dos carros elétricos, posicionando-se como produto substituto de alguns carros comparáveis de motores a combustão.

Note-se – para os mais distraídos – que a BYD está a vender, a nível mundial, números muito próximos da TESLA, na ordem de 1,9 milhões de carros, entre híbridos e elétricos (900 mil são elétricos). A TESLA vendeu cerca de 1,3 milhões em 2022 (apenas elétricos).

Contando, hoje em dia, com um dos maiores investidores mundiais (Warren Buffett), a BYD era uma empresa que fabricava baterias de telemóvel para empresas como a Nokia e a Motorola. Entretanto, cresceu e diversificou o seu negócio nos últimos 28 anos. Hoje fabrica automóveis, veículos elétricos, autocarros e, note-se, também baterias, o que lhe permite maior competitividade no preço. 

Os números são estes: 600 mil colaboradores, com 70 mil em R&D (engenheiros). Investe, prioritariamente, em Inovação Tecnológica e Segurança; fabrica as próprias baterias, os motores elétricos, as unidades de controlo e os semicondutores. Esta cadeia verticalizada representa uma menor dependência de fornecedores externos, com menor exposição às falhas das cadeias de distribuição internacionais e maior disponibilidade de stock (veículos).

É um dos exemplos do posicionamento da China no chamado ecossistema dos EV: pretende alterar a sua indústria, passando de fornecedora de marcas ocidentais a vendedora de marcas próprias, presentes no mercado mundial. E fiquemos bem atentos, pois, desde os metais raros até à sua transformação e produção de células de baterias, os chineses dominam cerca de 80% de toda a cadeia de valor (sugiro a leitura deste artigo).

A China e as empresas chinesas deram um grande salto tecnológico nos últimos 20 anos, estando atualmente a competir – de igual para igual e mesmo a superar –, em avanços tecnológicos, com países anteriormente líderes em tecnologia automóvel, como era a Europa. Fico com a sensação de que a Europa – e mesmo os EUA – deve estar a “dormir” nesta dita de “transição energética”.

E mudando a agulha da China para a micromobilidade, sabia que as bicicletas (e ciclomotores) elétricas reduzem mais a procura de petróleo que os carros elétricos?

O estudo da Bloomberg Energy Finance relata que poucos têm reparado no impacto dos ciclomotores e bicicletas elétricas no objetivo da descarbonização. Nesse mesmo estudo, pode ler-se que em 2022 havia pouco mais de 20 milhões de automóveis e 1,3 milhões de veículos comerciais (incluindo pesados) elétricos no mundo. Contudo, os ciclomotores e motas elétricas (duas e três rodas), no mesmo ano, acumulavam globalmente mais de 280 milhões de unidades (neste valor não está incluído o número de bicicletas elétricas).

Se fizermos contas, estes mais de 280 milhões de veículos elétricos de duas e três rodas têm um impacto global quatro vezes superior na procura por combustíveis fósseis do que os poucos mais de 20 milhões de carros elétricos.

O crescimento rápido em popularidade, sobretudo dos ciclomotores elétricos, está a acontecer em regiões do mundo onde os seus equivalentes a combustão já eram muito populares, como na Ásia e, especialmente, na China.

As bicicletas e ciclomotores elétricos usam, naturalmente, menos energia, pelo que podem ser uma solução interessante para a mobilidade de curtas distâncias e até um incentivo à utilização de transportes públicos, pois podem servir as chamadas “distâncias inconvenientes”. Reconheço, no entanto, que só é vantajoso em deslocações de curta distância e para o transporte de um ou dois passageiros.

A sua atenção vai continuar nos automóveis elétricos para reduzir o consumo dos combustíveis fósseis? Ou as alternativas de micromobilidade elétrica terá potencial para um impacto maior e mais rápido?

Sinceramente, não sei! Entre regulações, total devaneio de loucura de descarbonização, metas irrealistas de transição energética acelerada, há até quem fale de “ebulição do planeta” em termos de temperatura, seja lá o que isso for para os mais entendidos ou detentores da razão! 

Um dia ainda me vou questionar sobre a ligação do pântano à ebulição, mas não será para já…

Ps: já com números da ACAP de 2023 deixo estas pequenas notas: os portugueses compraram no ano passado mais 50 mil veículos do que em 2022 (número ainda abaixo das vendas de 2019); a TESLA vendeu 3,5 vezes mais carros em Portugal do que em 2022 (uma disrupção com impacto no mercado após alteração nos preços); as energias alternativas (elétricos, híbridos recarregáveis e convencionais, GPL e outros) já são mais de metade das novas matrículas;  o crescimento mundial da BYD em 2023 foi colossal (62,3%), com 3,02 milhões de carros elétricos e híbridos plug-in vendidos.

José Carlos Pereira é engenheiro do ambiente, com MBA Executivo em Gestão Empresarial. É business expert, consultor, formador e speaker na área comercial e de negócios internacionais.

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