Uma viagem de 500 quilómetros com uma só carga e uma recarga completa em apenas 10 minutos – a bateria de estado sólido que a Toyota está a desenvolver promete revolucionar a mobilidade elétrica.
O construtor nipónico pretende ser o primeiro fabricante automóvel a comercializar um veículo elétrico equipado com uma bateria de estado sólido, prevendo lançar o primeiro protótipo durante o próximo ano. A tecnologia tem o potencial de eliminar os maiores inconvenientes que os veículos elétricos — que funcionam com baterias convencionais de iões de lítio — enfrentam, incluindo a distância relativamente curta percorrida com uma única carga e o tempo alargado de carregamento.
Os veículos elétricos que estão a ser desenvolvidos pela marca japonesa terão uma autonomia superior ao dobro da distância que um veículo movido a uma bateria convencional de iões de lítio perfaz nas mesmas condições, sem sacrificar o espaço interior, até mesmo no veículo mais compacto.
Espera-se que as baterias de estado sólido se tornem numa alternativa viável às baterias de iões de lítio que utilizam soluções eletrolíticas aquosas. A tecnologia diminuiria o risco de incêndios e multiplicaria a densidade de energia – a energia que uma bateria pode fornecer em comparação com o seu peso. Permite que o carregamento de um veículo elétrico equipado com uma bateria de estado sólido demore cerca de 10 minutos, reduzindo o tempo de recarga em aproximadamente dois terços.
A Toyota registou já mais de mil patentes relacionadas com as baterias de estado sólido. Em paralelo, a Nissan Motor pretende desenvolver a sua própria bateria de estado sólido, que deverá equipar um veículo comercilizado pela marca até 2028.
A mudança para a nova tecnologia de baterias, terá também um efeito nas empresas que se encontram a jusante nas cadeias de fornecimento, com os fabricantes de componentes japoneses a apostarem na criação das infraestruturas necessárias para abastecer os construtores automóveis.
A Mitsui Kinzoku, por exemplo, iniciará uma instalação-piloto que irá produzir eletrólitos sólidos para as baterias. A unidade, localizada num centro de investigação e desenvolvimento na província de Saitama, será capaz de produzir dezenas de toneladas de eletrólitos sólidos anualmente, a partir de 2021, que se prevêm suficientes para responder às necessidades dos primeiros protótipos.
A petrolífera Idemitsu Kosan está a instalar equipamentos de produção de eletrólitos sólidos na sua unidade de produção na província de Chiba, com o objetivo de iniciar as operações no próximo ano.
Com a crescente importância dos veículos elétricos na mudança dos paradigmas de mobilidade e, consequentemente, no combate às alterações climáticas, a questão das baterias assume também uma dimensão geopolítica. Os fabricantes japoneses Sony e Panasonic foram pioneiros na comercialização de células de bateria para veículos, mas, desde o final da primeira década do século XXI, os rivais chineses têm vindo a assumir maior protagonismo. A Contemporary Amperex Technology Co. Limited (CATL), por exemplo, é atualmente o maior fornecedor mundial de baterias de iões de lítio.
O governo japonês tem incentivado o desenvolvimento interno de baterias de estado sólido, considerando que a maior parte da tecnologia relacionada com o desempenho automóvel dependerá da China, no futuro, se a situação se mantiver como atualmente.
O governo japonês está a reunir um fundo com cerca de 2 biliões de ienes (cerca de 15 mil milhões de euros) para apoiar tecnologias de descarbonização. Os decisores políticos estão a considerar a utilização desses fundos para disponibilizar subsídios, no valor de milhões de ienes, para financiar o desenvolvimento de novas baterias. O objetivo passa por apoiar o desenvolvimento de uma infraestrutura de produção em massa no Japão. Como as baterias de estado sólido utilizam lítio, um elemento com reservas globais limitadas, o governo auxiliará as empresas do país na aquisição desta matéria-prima.
Os fabricantes do resto do mundo estão também na corrida. A Volkswagen, por exemplo, planeia produzir baterias de estado sólido a partir de 2025, através de uma joint-venture com uma empresa norte-americana.
O grupo tecnológico chinês QingTaoEnergy Development irá gastar mais de mil milhões de yuan (cerca de 125 milhões de euros) em Investigação & Desenvolvimento com vista ao desenvolvimento deste tipo de bateria, num investimento de três anos a iniciar em 2021.