fbpx

Green Future-AutoMagazine

O novo portal que leva até si artigos de opinião, crónicas, novidades e estreias do mundo da mobilidade sustentável

Opinião

O Ciclismo e a Escola

O ciclismo e a escola

Opinião de Gil Nadais

A importância de formar cidadãos mais conscientes e sobretudo responsáveis no uso da via pública ganha toda uma nova dimensão com a introdução do ciclismo no desporto escolar e, consequentemente, da utilização da bicicleta pelos futuros adultos.

Foi com regozijo que recebi a notícia de que o governo vai fomentar a utilização da bicicleta, ensinar a andar e promover a adaptação ao uso das vias públicas em todas as escolas com segundo ciclo. É algo por que a ABIMOTA pugnava pois, mais do que tudo, este é o reconhecimento da importância do setor português das duas rodas e mobilidade suave, na mobilidade.

No entanto, não se fica por aqui e esta é uma medida que deve ser analisada por diferentes perspetivas.

Ao promover o uso da bicicleta no desporto escolar estamos, antes de mais, a reconhecer a importância deste desporto, que será a segunda modalidade desportiva com mais audiência em Portugal e que atravessa um momento de grande vitalidade internacional. A recente vitória de João Almeida na Volta à Polónia é disso bom exemplo.

É certo que o desporto escolar tem um papel fundamental na divulgação e promoção da atividade desportiva, mas é igualmente certo que neste caso vai ainda mais longe, pois promove não só a atividade, mas também a utilização da bicicleta enquanto veículo ideal para as pequenas e médias deslocações diárias.

Dessa forma, estamos a promover hábitos de mobilidade e de vida mais sustentáveis e saudáveis.

A bicicleta é o veículo com menor impacto ambiental desde a produção à utilização e, neste caso, as emissões são zero. Por outro lado, por cada pessoa que opta por um meio de transporte que obriga à atividade física, estamos a contribuir para a redução de números de morbilidade com forte impacto em doenças cardiovasculares e na diabetes, por exemplo.

Atualmente, as doenças associadas ao excesso de peso representam dez por cento da despesa total em saúde no nosso país, que é como quem diz 207 euros por pessoa, por ano.

Reduzimos emissões de gases nocivos para a atmosfera, melhoramos a saúde das populações e, consequentemente, retiramos pressão e custos aos serviços de saúde.

Ao apostarmos na formação dos jovens enquanto utilizadores frequentes da bicicleta, estamos a apostar na utilização mais responsável da via pública. No curto/médio prazo teremos jovens e adultos com comportamentos mais seguros na estrada.

Mas promover o uso da bicicleta em Portugal é também promover um setor em crescimento e com forte cariz exportador.

O setor português das duas rodas e mobilidade suave representa hoje seis dezenas de empresas, que geram mais de 8.500 postos de trabalho diretos. É um setor que aposta na tecnologia, no desenvolvimento de novos produtos e que coloca Portugal na liderança europeia em termos de produção de bicicletas.

Em 2020 este setor exportou mais de 424 milhões de euros e, pelo segundo ano consecutivo, Portugal é o maior produtor de bicicletas da Europa.

Em suma, o Estado português, ao incentivar a utilização da bicicleta, está a promover a saúde das pessoas, do meio-ambiente e da economia.

Mobilidade no feminino – mais mobilidade para e por mulheres

Mobilidade no feminino – mais mobilidade para e por mulheres

Opinião de Stefan Carsten

As peculiaridades da mobilidade feminina são por vezes evidentes, mas, na maior parte, veladas. O conhecimento das muitas pequenas e grandes diferenças, das diversas necessidades e exigências é um pré-requisito essencial para a melhoria sustentável de todo o sistema de mobilidade. O facto de essas diferenças entre política e negócios, entre empresas e responsáveis de planeamento serem geralmente ignoradas já não deveria ser aceite. Quer se trate de trajetos, acessos ou meios de transporte, a mobilidade das mulheres difere significativamente da mobilidade dos homens e isso reflete-se particularmente nos padrões de mobilidade do dia a dia:

Trajetos mais complexos:

Os homens tendem a percorrer trajetos simplesmente estruturados, tendencialmente percursos entre o trabalho e lazer. Já os caminhos que as mulheres percorrem são mais complexos e multifacetados – tal como o seu quotidiano, que ainda se caracteriza por um maior envolvimento na organização familiar, especialmente no que diz respeito aos próprios filhos e aos seus pais (e sogros).

As mulheres são, portanto, forçadas a realizar muitas tarefas num curto período de tempo. Também fazem várias paragens a caminho do trabalho para casa, por exemplo, na creche, no ATL, no supermercado ou no clube desportivo dos filhos.

Distâncias mais curtas:

As mulheres percorrem em média 33 quilómetros por dia – menos 13 quilómetros do que os homens – conduzem menos e as distâncias médias diárias de transporte público e bicicleta também são menores. Isto deve- se, principalmente, ao facto de os homens percorrerem cerca do dobro da distância para o trabalho do que as mulheres e ao facto de as mulheres tenderem a procurar empregos na área local para poderem levar a cabo trabalho não remunerado.

Obstáculos na infraestrutura:

Embora as mulheres percorram, em média, distâncias mais curtas do que os homens, elas precisam de um período de tempo semelhante para as suas deslocações, porque são mais dependentes de transportes públicos. Isto significa caminhos longos e complicados para o transporte público, longos tempos de espera para troca entre transportes e uma infraestrutura totalmente inadequada para mães que viajam com crianças. As mulheres (e todos os que se preocupam com o trabalho) são, portanto, mais dependentes de um sistema de transporte altamente flexível que reduza o stress e o esforço. Isto também inclui percursos pedestres e ciclovias bem integrados, que devem ser projetadas de forma a que a mobilidade das crianças seja segura e descomplicada.

Desvantagens do automóvel:

A grande maioria dos carros está registada em nome dos homens, que são claramente os principais utilizadores – enquanto as mulheres, geralmente, têm apenas o segundo carro (caso haja). Paralelamente, os utilizadores de transporte público são maioritariamente mulheres, cerca de 66% em todo o mundo.

Mentalidade multimodal:

Como as mulheres têm menos acesso ao carro, precisam de organizar as suas deslocações de forma mais eficiente. A multimodalidade faz parte do seu dia a dia: a pé, de bicicleta, às vezes de carro, mais frequentemente de transportes públicos. O acesso fácil e sem barreiras a uma ampla variedade de meios de transporte é um pré-requisito para uma boa organização quotidiana.

Gestão de deslocações stressantes:

As mulheres que articulam o trabalho remunerado com as tarefas não remuneradas têm de ter a noção das horas o tempo todo. Pontualidade e capacidade de organização são requisitos importantes para o planeamento das suas deslocações. Os seus compromissos e os das crianças devem ser combinados e harmonizados da melhor forma possível.

Ansiedade feminina:

A chamada last mile, o último troço do caminho até casa, define a escolha das mulheres do meio de transporte, mais do que a dos homens. Ainda estarei na cidade depois do trabalho? Onde fica a paragem? Como volto para casa desde a paragem do autocarro? Os motivos destas questões são vários: desde ruas mal iluminadas no caminho para casa a intrusos durante uma corrida no parque, perseguição ou abordagens indecentes.

Lacunas na divisão de género:

O facto de as mulheres não estarem entre as primeiras a adotar novos serviços de mobilidade é claro no tópico da mobilidade partilhada (carros, scooters). À primeira vista, isto pode ser surpreendente, já que as mulheres tendem a dar mais valor à mobilidade sustentável do que os homens – e também estão dispostas a gastar mais dinheiro com isso. No entanto, a realidade da mobilidade partilhada parece diferente: mais de 60% das ofertas de car sharing são usadas por homens. Um cenário semelhante emerge na área da micromobilidade: apenas 25% a 33% das ofertas de ciclomotores ou scooters partilhadas são usadas por mulheres. Estas costumam recorrer às scooters elétricas, especialmente à noite, por ser um meio de deslocação mais rápido, pois têm medo de se deslocarem sozinhas em espaços públicos.

Mobilidade feminina: complexa e diversa

A mobilidade não é neutra no que toca ao género. Enquanto os homens tendem a conduzir um carro, as mulheres representam a maior parte dos utilizadores de transporte público em todo o mundo. Uma vez que cuidam com mais frequência dos filhos, as viagens diárias das mulheres também são mais curtas, mas mais variadas. No futuro, esta lógica deve refletir-se com muito mais força nos espaços de mobilidade na cidade, subúrbios e zonas rurais, bem como nas ofertas de mobilidade.

O género é um fator decisivo na escolha do meio de transporte, ainda mais importante do que a idade ou o rendimento. No entanto, o género dificilmente é tido em consideração na recolha e análise de dados. Em termos concretos, isso significa que, na política de transportes atual, 50% das necessidades dos viajantes não são suficientemente tidas em consideração, o que é prejudicial para as mulheres – e para o futuro sustentável e inclusivo da mobilidade.

Quanto mais as mulheres levantarem objeções ao planeamento e às decisões dominadas pelos homens, mais claro se torna que a diversidade e a inclusão são pré-requisitos elementares para uma forma sustentável de mobilidade. A perspetiva feminina garante um futuro mais saudável, seguro e integrado para a mobilidade. A tendência da ‘femobilidade’ mostra que menos ministros dos transportes do sexo masculino e mais do sexo feminino são necessários para tornar as cidades e regiões mais sustentáveis ​​e inclusivas.

Em suma, trata-se de promover a mobilidade baseada nas melhores práticas. E numa sociedade moderna isso também significa pensar na imagem de uma mulher trabalhadora com filhos, porque não há mais ninguém que tenha tão altas exigências para a mobilidade no presente e no futuro do que as próprias mulheres.

ASPEA pede menos produção e consumo de plástico no dia-a-dia

ASPEA pede menos produção e consumo de plástico no dia-a-dia

Joaquim Ramos Pinto
Presidente da Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA)
Rute Candeias
Responsável pela pasta dos assuntos do Oceano na Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA)

Uma responsabilidade de cada cidadão e de toda a sociedade.
Diretiva Europeia sobre o Plástico descartável

Ao abrigo da diretiva europeia que proíbe a comercialização de plásticos descartáveis nos estados membros europeus e pela transposição desta legislação para a lei portuguesa, a partir de dia 3 de julho estes produtos passaram a ser proibidos em Portugal: entre outros produtos de ou com plástico, talheres, palhinhas, cotonetes, agitadores, varas de balões ou esferovites para recipientes de comida

Recorde-se que em 2019 Portugal tinha se antecipado à legislação europeia com uma proposta de lei sobre este assunto, mas o surgimento da pandemia veio atrasar a sua aprovação e torná-la menos ambiciosa.

A ASPEA considera que o problema da contaminação do oceano pelo lixo de plástico é um assunto de extrema importância que tarda pela demora na regulamentação e que deverá ser encarado como uma das prioridades políticas nomeadamente através da implementação de campanhas de Comunicação e Educação Ambiental com expressão mediática, a exemplo de outras campanhas. 

A Era do Descartável

Embora a promulgação desta lei seja um passo importante no combate à poluição de plástico, há vários aspetos a ter em consideração para que consigamos caminhar para uma economia verdadeiramente circular.

Hoje em dia, nos países desenvolvidos, a maioria dos produtos, sobretudo na área da tecnologia e indústria têm uma curta duração, fruto de um estilo de vida acelerado em que se tem pressa para vender, pressa para se ganhar dinheiro, pressa para se consumir, pressa para se adquirir o modelo mais avançado ou a aquela roupa que está agora na moda.

Não nos podemos esquecer que os recursos naturais são limitados e que o planeta não suporta a quantidade de resíduos que são produzidos a um ritmo frenético e inconsciente.

Mais do que proibir, é fundamental levar a sociedade a repensar nos seus hábitos diários, nas suas escolhas e incentivar as pessoas a fazer parte da solução de uma forma verdadeiramente responsável, logo na opção da compra, recusando produtos em embalagens de plástico.

Quando se proibe a utilização dos plásticos descartáveis, mas se incentiva a sua substituição por outro descartável (de papel ou de material biodegradável), poderemos estar a criar outros problemas: o papel e cartão, quando contaminados por gordura não são recicláveis no circuito do papel e não nos podemos esquecer que continuam a ter origem num recurso natural que poderá ter como destino um aterro. Por outro lado as soluções supostamente biodegradáveis, para além de não terem um circuito de reciclagem dedicado e como tal poderem dar azo a contaminação da reciclagem de outros resíduos, revelam-se insatisfatórias pelo tempo de degradação destes materiais, de muitos meses ou anos. As pessoas que adquirem estas supostas soluções alternativas, fazem-no convencidas que estão a contribuir para a solução, mas será que estão? Irão continuar a colocar os cotonetes de bambu na sanita? E onde deverão depositar o saco biodegradável transparente feito de amido de milho?

Os R’s

Na nossa opinião, os R’s que deverão ser enfatizados são “recusar”, “repensar”, “reutilizar”, “responsabilizar-se”, “recuperar” e então por fim, “reciclar” aquilo que não conseguimos evitar consumir e que não conseguimos reutilizar ou reparar.

Em relação à reciclagem, o nosso país ainda está muito aquém das metas estabelecidas. A União Europeia estabeleceu que em 2025 ​​​​​​​os Estados-membros devem chegar a uma taxa de 55% na reciclagem efetiva e em 2030, essa taxa passa para 65%.Seria importante perceber porque é que a taxa de reciclagem continua tão baixa. Apesar das várias campanhas que têm sido realizadas quer nos meios de comunicação social quer em projetos educativos, a taxa efetiva de reciclagem não chega aos 24%, com apenas 13% a corresponder ao que vem dos ecopontos (*1).

(*1) Fonte notícia da TSF, Agosto de 2020.

A Reciclagem na Suécia

Nos países do Norte da Europa, a reciclagem faz parte da vida de toda a população. Na Suécia, p.ex.. a taxa de reciclagem é superior a 90%, com parte dos resíduos utilizados na produção de energia elétrica. A Suécia é muito rígida na gestão dos seus resíduos, penalizando os cidadãos que não separam o lixo corretamente ou que produzem grandes quantidades de lixo, com o agravamento das taxas de recolha. Por outro lado, a Suécia compensa os cidadãos que têm melhor desempenho com a redução na taxa de eletricidade e nos custos dos transportes públicos.

A Pandemia Covid-19 e o plástico de uso único

A pandemia de covid-19 veio agravar ainda mais esta questão da contaminação de plástico no Oceano: as máscaras descartáveis que se encontram frequentemente abandonadas na rua e são arrastadas para o mar; o aumento da utilização de plástico descartável por questões de higiene e segurança alimentar e o aumento do uso de embalagens nos serviços take way e nas compras online.

Importa frisar que o plástico não é um inimigo, o plástico é um material indispensável nas nossas vidas que nos trouxe conforto e comodidade, que nos permite prevenir o desperdício alimentar, que é utilizado na medicina ou na prevenção de contaminações. O problema principal é o plástico de uso único, o qual muitas vezes podemos evitar,  e a forma como gerimos os nossos resíduos.

Impacto nos Ecossistemas Marinhos

Estima-se que cerca 15 milhões de toneladas métricas de plástico cheguem ao oceano todos os anos e que roubam a vida a milhares de organismos marinhos, por ingestão, por sufocamento ou por ficarem presos, inclusive em artes de pesca abandonadas. As grandes vítimas são sobretudo aves marinhas, tartarugas e mamíferos marinhos, mas todos os organismos são afetados.  

Oferta Educativa da ASPEA

A ASPEA, aborda esta questão do plástico marinho no programa educativo de oficinas pedagógicas Educoceano que é realizado nas escolas e que entre várias atividades, inclui uma limpeza de praia. É também um dos temas do projeto Blue Wave, projeto financiado pelos EEAGrants em que a ASPEA é parceira e o MARE da Universidade de Coimbra é a entidade promotora. O projeto inclui ações de formação para professores, oficinas pedagógicas para alunos, limpezas de praia e um concurso de empreendedorismo para jovens.

Às vezes é preciso dar um passo atrás para se darem dois passos em frente

Talvez esteja na altura de repensar como se vivia há 50 anos atrás e desafiarmo-nos a eliminar alguns objetos descartáveis do nosso dia-a-dia. O consumidor tem muito poder, e é quem dita as leis do mercado. Comprar a granel, utilizar sacos reutilizáveis, evitar alimentos embalados, utilizar um cantil de água, são alguns dos hábitos que poderá desafiar-se a adotar. Primeiro estranha-se, depois entranha-se.

Nós na ASPEA aceitámos o desafio “menos plástico no nosso dia-a-dia”, junte-se a nós! 

Sabia que…

  • Uma palhinha de plástico descartável é produzida em menos de 1 minuto, utilizada pouco mais de 5 minutos e que poderá demorar cerca de 300 anos a desagregar-se.
  • Um dos alimentos favoritos das tartarugas marinhas são as medusas. Dentro de água, ao sabor das ondas um saco de plástico assemelha-se a uma medusa e  é com frequência, erroneamente consumido pelas tartarugas.
  • No plástico à deriva incrustam-se pequenos organismos que irão conferir “sabor a mar” ao plástico, pelo que muitos animais o confundem com alimento.
  • Por ano são produzidas cerca de 300 milhões de toneladas de resíduos plásticos, o equivalente praticamente ao peso de toda a população humana?
  • Os têxteis são uma das principais fontes de poluição por microplásticos para ambientes aquáticos: um grama de roupa sintética liberta 400 fibras microplásticas a cada 20 minutos de utilização, podendo resultar na perda total de mil milhões de fibras por ano para um casaco que pesa cerca de um quilo?

Joaquim Ramos Pinto. Licenciado em Educação do Ensino Básico pela Universidade de Aveiro; Diploma de Estudos Avançados obtido pela Universidade de Santiago de Compostela, onde iniciou doutoramento no âmbito do Programa Interuniversitário de Doutoramento em Educação Ambiental e a frequentar, atualmente, a etapa de tese do Programa de Doutoramento em Educação. Professor em mobilidade ao abrigo do protocolo entre o Ministério da Educação e Ministério do Ambiente, na coordenação de projetos de Educação Ambiental de âmbito nacional, Europeu e CPLP. Integrou a comissão organizadora e científica de várias jornadas, conferências e congressos de Educação Ambiental de âmbito nacional e internacional, e onde apresentou várias comunicações. Tem várias publicações em livros e revistas no âmbito de projetos e investigações que desenvolveu. Atualmente é presidente da Associação Portuguesa de Educação Ambiental

Rute Candeias. Licenciada em Biologia Marinha pela Universidade do Algarve, pós-graduada em Etologia e em Ciências e Tecnologias do Ambiente e formadora certificada. É responsável pela pasta dos assuntos do Oceano na Associação Portuguesa de Educação Ambiental – ASPEA e trabalha há cerca de 20 anos como Educadora Ambiental em projetos próprios ou para outras entidades, nomeadamente em assuntos ligados à Conservação dos Oceanos e à literacia científica. Tem desenvolvido vários projetos relacionados com as alterações climáticas, com os  resíduos e com o lixo marinho em particular. 

Indústria Automotiva comprometida com um futuro totalmente elétrico

A indústria automóvel compromete-se agora com um futuro totalmente elétrico

Opinião de Marc Amblard

Um número crescente de fabricantes automóveis comprometeu-se agora com a transição para uma linha de veículos totalmente elétrica, a nível global. Um bom exemplo é a Volvo, que aponta o ano de 2030 para atingir este marco importante, ao mesmo tempo que pretende que os veículos elétricos (EV) representem 50% das suas vendas globais até 2025. Já outros fabricantes definiram um prazo a nível regional para apresentarem uma frota totalmente elétrica ou projetarem novos EV até 2025 ou 2030. 

Este recente conjunto de compromissos é uma grande notícia, uma vez que a frota global de veículos deve afastar-se do CO2 a um ritmo acelerado. No seu mais recente relatório, a Agência Internacional de Energia concluiu que os grupos motopropulsores sem emissões devem representar 86% da frota global de veículos de passageiros até 2040 para que a mobilidade atinja a neutralidade carbónica até 2050 – cerca de duas vezes mais que a previsão da Bloomberg NEF.

A procura está rapidamente a ganhar impulso – mesmo que ainda fortemente subsidiada

É evidente que a transição dos automóveis com motores de combustão interna (ICE) para os de propulsão elétrica entrou agora na parte ‘vertical’ da sua curva de crescimento, pelo menos na Europa e na China. Num mercado em retração no ano passado, a Europa viu as suas vendas de veículos híbridos plug-in crescerem aproximadamente 140%, atingindo assim 11% de todas as vendas de veículos ligeiros – e aproximadamente 15% no primeiro trimestre de 2021. Por ser turno, os veículos totalmente livres de emissões representaram, respetivamente, quotas de 6% e 7%. 

Este ano, a China está a apresentar um elevado crescimento, após um período de estagnação do crescimento dos Veículos de Nova Energia em cerca de 6% no ano passado, dos quais 5% são veículos elétricos. Até maio, as vendas deste tipo de veículos (acumuladas) aumentaram 120%, representando 9% de todos os veículos de passageiros. O país ‘atrasado’, os EUA, está atualmente a assistir a um rápido crescimento da eletrificação, depois de ter atingido a marca dos 1,8% de híbridos plug-in, enquanto a quota de veículos 100% elétricos atingiu 1,4%, mas tendo crescido até 2,3% no primeiro trimestre de 2021.

Para referência, a Bloomberg NEF prevê que os veículos híbridos plug-in representem 16% das vendas globais de veículos de passageiros até 2025, 28% até 2030 (dos quais 25% serão veículos totalmente elétricos) e 70% até 2040. É interessante realçar que a projeção para 2040 da Bloomberg NEF era de 57% há apenas 2 anos e 58% no ano passado. É um grande salto até aos 70%!

Um relatório recente da EY indica que a percentagem de veículos híbridos plug-in irá atingir 50% do mix de grupos propulsores em 2028 na Europa, em 2033 na China e em 2036 nos EUA, cinco anos mais cedo do que a sua previsão anterior. Para a Bloomberg NEF, a marca dos 50% será atingida em 2035 para as vendas globais de veículos de passageiros.

Devemos recordar que a procura de EV ainda não é 100% natural. Existem elevados subsídios às vendas nas três regiões. Na Europa, os compradores de veículos elétricos podem receber até 11.000 euros de subsídio, no caso da França. Na Califórnia, estes podem atingir os 10.000 dólares (6.250 dólares de apoio federal + até 3.750 dólares de apoio estadual). Este apoio acabará por diminuir à medida que os veículos elétricos atinjam a paridade de preços com os seus equivalentes de combustão interna.

Indústria sob pressão crescente

A regulação exerce uma pressão significativa sobre os fabricantes para reduzirem as emissões de gases de efeito de estufa. Na Europa, as emissões médias de CO2 dos fabricantes têm de baixar dos atuais 95 g/km para 81 g/km em 2025, e 60 g/km em 2030 (era de 130 g/kg até 2019) – a Comissão Europeia propôs recentemente 43 g/km em 2030, ou seja, menos 55% do que os níveis atuais.

Nos Estados Unidos, a Administração Biden pretende restabelecer objetivos agressivos semelhantes aos definidos durante a era Obama (cerca de 105 gramas de CO2 até 2026). Simultaneamente, os fabricantes tornaram-se amplamente favoráveis ao objetivo mais ambicioso da Califórnia, uma referência provável para a reviaão dos objetivos federais.

Em paralelo, a Comissão Europeia anunciou uma proposta para proibir a venda de automóveis com emissões de CO2 após 2035, ao abrigo do seu ‘Green Deal’. Mais de 20 países – principalmente na Europa – tinham anunciado, anteriormente, proibições futuras da venda deste tipo de veículos entre 2025 e 2040. O país mais agressivo é a Noruega, que deixará de permitir a venda de veículos ligeiros com motor de combustão depois de 2025. Da mesma forma, algumas cidades como Paris e Londres decidiram proibir a circulação de veículos emissores de CO2 nos próximos anos.

Cada vez mais fabricantes planeiam adotar uma estratégia 100% elétrica 

Os fabricantes não têm outra escolha senão remover os veículos ICE da sua linha de produtos. Existem três razões para o fazerem: as vendas anunciadas e as proibições de circulação irão simplesmente fechar mercados; a penalização financeira pelo incumprimento dos objetivos de CO2 continuará a aumentar (95 euros por veículo por cada grama de CO2, cerca de 95 g/km na Europa atualmente); por último, os fabricantes devem comportar-se como bons ‘cidadãos corporativos’ e respeitar o seu compromisso com os objetivos ambientais, sociais e de governaçã, para bem do nosso planeta.

Alguns fabricantes têm sido suficientemente ousados para anunciar um corte total nos seus veículos ICE e híbridos plug-in, transitando assim para uma gama de produtos totalmente elétrica na sua linha global. Por exemplo, é o caso da Smart (gama elétrica desde 2020), Volvo (gama 100% elétrica em todo o showroom a partir de 2030), Cadillac (sem novos modelos a combustão interna a partir deste ano) ou Jaguar (sem qualquer modelo a combustão interna depois de 2025). Para estes fabricantes, faz sentido limitar o mix de propulsão, tendo em conta os seus volumes.

Outros comprometeram-se com a eletrificação em regiões específicas, sendo a Europa o local onde a transição é mais agressiva. Nesta categoria, temos, por exemplo, o caso da Opel (100% de EV até 2028), da Ford (100% de EV até 2030) ou de marcas como Volkswagen e Audi (100% de EV até 2033); todas estas quatro marcas nos seus showrooms europeus. Não foram comunicadas calendarizações específicas similares para os EUA ou a China, embora a Audi tenha divulgado que todos os seus produtos introduzidos no mercado após 2028 serão totalmente elétricos. 

Por seu turno, outros fabricantes, porventura menos empenhados ou menos ‘vocais’, apenas se comprometeram com quotas futuras para veículos plug-in ou elétricos. Por exemplo, a Stellantis prevê uma quota de 70% de híbridos plug-in na Europa e 35% nos EUA até 2030 (⅘ como veículos elétricos), com um roteiro robusto de eletrificação destinado a proporcionar flexibilidade no que diz respeito ao mix de propulsão. Já a Renault é mais ambiciosa, apresentando um objetivo de 30% de veículos totalmente elétricos na sua gama global, até 2025, e 90% até 2030. A Daimler anunciou há seis meses que os veículos híbridos plug-in representarão 50% das suas vendas globais em 2030, e que, em simultâneo, abandonará este tipo de automóveis nesse mesmo ano. A Skoda (Grupo VW) projeta 50-70% para o seu mix de veículos elétricos até 2030, ao passo que a BMW pretende atingir 50% desta tipologia de veículos até 2030.

Os fabricantes japoneses têm sido os menos interessados em retirar os motores de combustão interna das suas gamas de produtos. A Honda tem falado em veículos híbridos plug-in (incluindo EV com pilhas de combustível) que representam 40% das suas vendas em 2030 e 80% em 2035 (nos principais mercados), e na eliminação progressiva dos motores a combustão em todos os veículos novos após 2040. No entanto, a Toyota tem sido até agora a mais relutante de todos os grandes fabricantes, mantendo a sua posição de que os ICE têm futuro.

Fabricantes impulsionam o compromisso financeiro com a eletrificação

Os fabricantes canalizaram fundos massivos para I&D, de forma a alargarem a sua gama de veículos elétricos. Segundo a consultora AlixPartners, os investimentos em veículos totalmente elétricos ao longo do período 2021-2025 poderá totalizar 330 mil milhões de dólares, um aumento de 41% em relação à perspetiva a cinco anos do ano anterior. Por exemplo, a General Motors aumentou o seu orçamento em aproximadamente 30%, relativamente à projeção de novembro de 2020, e 75% em relação aos níveis pré-pandémicos. É compreensível que os fabricantes estejam agora a trabalhar com os reguladores para assegurar um aumento massivo da procura, de modo a gerar um ROI razoável sobre estes esforços.

Tais acordos são também cada vez mais acompanhados por compromissos correspondentes que visam eliminar duas grandes restrições: a produção de baterias e a rede de carregamento. Nos próximos anos, serão gastos milhares de milhões de dólares com o objetivo de se aumentar a capacidade em ambas as frentes. É interessante verificar que os fabricantes estão cada vez mais empenhados no fabrico de baterias e, em menor medida, na rede de carregamento. Os esforços na primeira destas duas áreas visam dominar uma tecnologia fundamental (e um centro de custos significativo), enquanto que, na segunda, pretendem assegurar que as pessoas vão realmente comprar os seus novos modelos.

Como vender automóveis com Ciência e não com 'achismo'! - José Carlos Pereira

Como vender automóveis com Ciência e não com ‘achismo’!

Opinião de José Carlos Pereira

Uma das bases do Marketing e das Vendas é entender que o que as pessoas dizem é diferente daquilo que pensam e da forma como agem num processo de decisão de compra de um carro. Já pensou a sério nisto?

É este o desafio que me proponho neste breve artigo de opinião – dar mais inteligência às vendas e menos força ao chamado freestyle na venda de automóveis, pois perceber o comportamento de quem compra é ciência e não ‘achismo’ ou dom.

Outros dados relevantes para kick-off são estes: sabemos, hoje, que “95% das tomadas de decisão diárias são de motivação inconsciente” e que “85% das tomadas de decisão de compra são emocionais e apenas 15% são racionais” (Gerald Zaltman).

Acredito que, no limite, até tomamos decisões puramente emocionais na compra de um carro e que, por mais irracionais que sejam, tentamos justificá-las racionalmente mais à frente, mesmo que se apresentem como desastrosas. A decisão é muito egocêntrica!

Para mais detalhe sobre o cérebro decisor, aconselho a explorar a Teoria do Cérebro Trino (divido em 3), de Paul MacLean. Esta teoria diz-nos que o nosso cérebro, embora funcione como único, é tripartido ao nível de estruturas e funções: (1) Neocórtex, (2) Sistema Límbico e (3) Cérebro Reptiliano, ou seja, respetivamente, a parte racional, emocional e instintiva. A principal questão é que, quase sempre, quem decide é o cérebro reptiliano ou primitivo. E é especialmente sobre esse que temos de atuar para sermos mais efetivos numa venda, não descuidando as emoções e a racionalidade, mas prestando particular atenção a este.

Em resumo, e de acordo com a Teoria do Cérebro Trino (divido em 3), de Paul MacLean, o cérebro racional (neocórtex) pensa – processa os dados racionais e partilha as suas deduções com os outros dois cérebros. O cérebro intuitivo sente – processa as emoções e os sentimentos profundos e partilha, igualmente, as suas descobertas com os outros dois cérebros. E o cérebro primitivo decide – considera a informação proveniente dos outros dois cérebros, mas controla o processo de tomada de decisão. Já tinha pensado nisto? 

Imagine, então, que o cliente e as suas decisões passam a estar no centro em vez do automóvel – nunca esteve tão presente o conceito de customer centric em todo o caminho de compra. E julgo que esta mudança de paradigma permite hoje trabalhar essencialmente na experiência de quem compra, com abordagens mais relacionais, em que a compra deixa de ser uma transação e passa a ser uma experiência.

De forma resumida, aqui na revista, deixo 6 estímulos para fazer uma abordagem bem feita ao ‘cérebro decisor’, para além de ajudar a fazer o que tem de ser feito:

#1 CONTRASTE: Algumas comparações ou contrastes são eficazes – lento/rápido, seguro/inseguro, com/sem… Basicamente, queremos tomar decisões sem risco. Note-se que, no limite, sem oposições podemos mesmo adiar ou não tomar uma decisão. Vejamos o ‘preço’ num automóvel, por exemplo: como o cérebro é preguiçoso, considera apenas uma variável – como atalho para ‘qualidade’ – e perceciona que quanto mais caro melhor; quando um segundo preço for apresentado, vai parecer mais diferente ainda após a comparação; logo, a ancoragem, numa estratificação de automóvel/preço, deve começar no preço mais elevado.

#2 EGOCÊNTRICO: É uma espécie do ‘centro do eu’; só nutre interesse e simpatia por aquilo que tem diretamente a ver com o seu bem-estar e a sua sobrevivência, nada mais. Exemplo: numa situação de perda ou má decisão, fica satisfeito de não ser com ele – claro que há reações emocionais e racionais sobre este facto, mas não neste cérebro.

#3 TANGÍVEL: Gosta de informações tangíveis e busca permanentemente o familiar e o amistoso, o rapidamente reconhecível, o concreto e imutável. Tem muita dificuldade em reconhecer, por exemplo – e com grande utilização em alguns argumentos –, um ‘consumo flexível’, uma ‘integração de sistemas autónomos’ ou uma ‘performance evolutiva’. Deve, por isso, ser referida uma ideia bem definida, simples e fácil de apreender, como ‘maior velocidade’, ‘menos custos manutenção’, ‘fácil condução’ ou ‘entregue em poucas horas’.

#4 INÍCIO E FIM: Numa mensagem, não se lembra do meio, só do início e do fim; logo, a informação mais importante deve estar no início e ser repetida no fim, pois pelo meio é quase tudo esquecido. Isto serve para um email ou mesmo para uma reunião ou test-drive. Esta faculdade de atenção bastante reduzida tem um enorme impacto na forma como comunicamos ou apresentamos a oferta presencialmente num stand.

#5 VISUAL: O nervo ótico está ligado ao cérebro primitivo, transmitindo 25 vezes mais informação que o nervo auditivo; assim se dá corpo a “uma imagem vale mais que mil palavras”, pois o canal visual procura uma ligação rápida e eficaz ao verdadeiro decisor. Infográficos de performance e imagens com contrastes/comparações ajudam a precipitar uma decisão.

#6 EMOCIONAL: As neurociências demonstram claramente que uma emoção provoca uma reação química no cérebro, que influencia diretamente a maneira como processamos e memorizamos as informações; só se lembra de acontecimentos e informações de curto prazo, a não ser que experimente um forte cocktail emocional – isto pode ter utilidade na memorização quando comunicamos e vendemos experiências que apelam aos sentidos (o enquadramento e contexto num test-drive pode conseguir isso).

Agora imagine-se a utilizar estes estímulos em todo o seu storyselling a vender um automóvel – toda uma equipa orientada para abordagens mais eficazes; e também, em termos processuais, a ter um modelo de abordagem com esta estrutura: (1) diagnóstico das dores do seu cliente (problema que resolve de mobilidade); (2) identificação dos automóveis/gamas e benefícios que a marca entrega ao mercado (nicho ou segmento); (3) demonstração dos ganhos e uma proposta de valor robusta; terminando com (4) um bom impulso e ‘chamada para a ação’ na tomada de decisão de compra (condições comerciais e pós-venda). É possível, é fácil? Não é fácil e obriga a trabalho, mas é simples e possível quando a abordagem segue um modelo bem estruturado.

Em jeito de remate final, estou certo de que uma das soluções para algumas marcas passa mesmo pela (trans)formação das equipas de vendas para que estejam mais musculadas amanhã. Só me acredito em resultados com treino, com muito treino numa boa direção! “Treino duro, venda fácil”. Desafie-se a atingir melhores e maiores resultados!

A necessidade aguça o engenho

Opinião de Gil Nadais

Os ditados populares são reflexos de sabedoria, que se podem aplicar em quase tudo do nosso quotidiano, aparentemente cada vez mais distanciado desse mesmo saber popular.

No entanto, acho que o ditado “a necessidade aguça o engenho” serve como ‘uma luva’ ao mais recente evento que a ABIMOTA vai lançar, já no dia 20 de Julho. O Portugal Bike Value Digital Show é fruto dessa ‘necessidade’ e desse ‘engenho’.

Sendo o Portugal Bike Value um programa que promove a indústria das duas rodas e mobilidade suave portuguesa além-fronteiras, tem uma absoluta necessidade de levar os nosso produtos, as nossas indústrias, ao encontro dos compradores deste mercado globalizado.

A globalização atual não é meramente económica. ‘Pan’, um prefixo de origem grega, que significa algo abrangente, global. Pandemia é, portanto, a doença que a nível global nos impede de viajar, de levar pessoas, mercadorias, ideias, um pouco por todo o mundo.

Ora este impedimento gera uma ainda maior necessidade de mostrarmos ao mundo o que sabemos e estamos a fazer e como viajar, ou até mesmo planear algo a médio prazo é praticamente impossível, então aí tem de entrar em cena o ‘engenho”.

Criamos e coordenamos uma equipa multidisciplinar, para realizar um evento que projecte o nosso saber fazer além-fronteiras. O objectivo final é o de criar um evento on-line e, por isso, um evento global, que permita ser uma montra da nossa indústria, mas também um palco privilegiado onde alguns dos principais actores deste mercado global têm voz e capacidade de discutir os riscos e oportunidades do momento.

No fundo, o que foi, o que está a ser feito é partindo da necessidade, aplicar o engenho, para que “a montanha vá a Maomé”, como diz o povo na sua sabedoria.

Portugal Bike Value Digital Show vai ser um espaço de exposição da nossa indústria, vai ser um espaço de discussão e pretendemos que a experiência de usufruir desse espaço pudesse ser o mais realista possível, permitindo por exemplo que uma peça – seja um parafuso, seja uma bicicleta completa – possa ser avaliada por vários ângulos, possa ser analisada e que essa própria experiência seja realista.

Os webinários que vão ser realizados durante o evento, de 20 a 23 de Julho, pretendem ser as salas onde é possível apresentar ideias e gerar debates, com toda a segurança a que a actual situação pandémica obriga, Esta plataforma permite também, por exemplo, agendar e realizar reuniões.

Partimos, portanto, da necessidade e com engenho criamos o Portugal Bike Value Digital Show, que se vai realizar de 20 a 23 de Julho. Depois essa plataforma vai ficar disponível e assim o Portugal Bike Value Digital Market, vai continuar a ser a plataforma com que a indústria portuguesa das duas rodas e mobilidade suave se mostre ao mundo, nos restantes 361 dias do ano.

Relatório de mobilidade 2022

Relatório de Mobilidade 2022

Opinião de Stefan Carsten

A General Motors (GM) é um daqueles dinossauros da indústria automóvel, uma empresa que tende a chamar a atenção para si mesma, no passado, por meio de aquisições e colaborações fracassadas – e atraiu (e ainda atrai) muito descontentamento com produtos como o Hummer. Mas a General Motors é também a primeiro gigante automotivo a ser liderada por uma mulher – Mary Barra, desde 2014 – e que fez coisas realmente grandes, no início deste ano, com o anúncio do abandono completo dos motores a diesel e a gasolina até 2035, bem como a completa neutralidade de CO2 da empresa até 2040. A Jaguar seguiu o exemplo e até superou a GM ao anunciar a eletrificação completa da sua frota de automóveis novos até 2025. Finalmente, alguma competição na indústria automóvel que segue na direção certa.

“A General Motors está a juntar-se a governos e empresas de todo o globo para criar um mundo mais seguro, mais verde e melhor. Nós encorajamos outros a fazerem o mesmo e a impactarem o setor e toda a economia” (Mary Barra, CEO da General Motors).

Muitas outras empresas com estruturas técnicas comparáveis ​​e presença no mercado global teriam sido capazes de fazer o mesmo. Empresas que gostam de se declarar inovadoras e progressistas – como os fabricantes de automóveis alemães premium, por exemplo – Mercedes-Benz ou BMW. Um claro compromisso com negócios sustentáveis poderá ser um forte sinal para a própria indústria se posicionar radicalmente de forma inovadora – e por uma vez ser mencionada em pé de igualdade com a Tesla. Especialmente no contexto da pandemia, a orientação consistente para um paradigma saudável e sustentável de um mundo pós-fóssil também é um sinal para a sociedade global.

Prever o fim dos motores de combustão interna ou proclamar a eletrificação completa dos automóveis é uma coisa – implementar esses objetivos é outra. Muitos países já colocaram o fim dos combustíveis fósseis na agenda, alguns primeiro (Noruega, Dinamarca, Reino Unido), outros mais tarde (China, Canadá), muitos ainda não deram sinal disso (Alemanha, EUA). Ao mesmo tempo, os players – políticos, fabricantes, produtores de energia, operadores de infraestruturas – estão a assegurar-se de que, de alguma forma, dominarão o desenvolvimento e expansão das infraestruturas elétricas. E, de facto, muita coisa está a acontecer, tanto em relação às baterias como ao hidrogénio.

Isto marca o fim de uma era da mobilidade automóvel, de política industrial e também do modelo económico tradicional. Talvez o motor de combustão fosse o último símbolo da lógica económica industrial. E talvez o seu fim seja simultaneamente a confirmação final de uma sociedade do conhecimento que não se centra no regime de produção dos agentes industriais (via produtos e transportes) mas nas pessoas (via mobilidade).

Adeus, motor de combustão; olá eletromobilidade (E-Volução)! Isto também significa que os postos de gasolina tal como os conhecemos desaparecerão (Estações de Energia), as cidades ficarão mais limpas e mais silenciosas e o meio ambiente recuperar-se-á (Neofencing). Ao mesmo tempo, a expansão das formas e estruturas de mobilidade ativa será intensificada e vigorosamente expandida (Xycles). E a indissociável simbiose de mobilidade e imobilidade está a criar novos espaços integrados (mobilidade à porta) – não só em contextos urbanos, mas também no interior (ligação às zonas rurais). Bem-vindo a uma nova era de mobilidade!

Estações de Energia

O que será das dezenas de milhar de estações de abastecimento quando houver milhões de postos de carregamento? O fim dos veículos a diesel e dos carros a gasolina que foi anunciado em muitos países. Os operadores de postos de gasolina enfrentam estas mudanças para não se tornarem ‘diretores de museu’ do mundo fóssil.

Mobilidade à porta

As regiões urbanas estão a desenvolver-se em plataformas para mobilidade, tanto analógica quanto digital: mais de 80 por cento de todas as viagens começam e terminam à própria porta. Meios de transporte inovadores e ecológicos nos locais de residência é uma promessa de mobilidade sustentável, aumentando simultaneamente a atratividade das zonas residenciais.

Ligação às zonas rurais

A desigualdade entre a mobilidade urbana e rural está paulatinamente a desaparecer. Cada vez mais agentes assumem este dilema e oferecem conceitos de mobilidade flexíveis em áreas que não são adequadas para tal, no sentido convencional. As áreas rurais estão, finalmente, a mobilizar-se.

Xycles

Bicicleta ou carro? Pessoas ou encomendas? Elétrico ou desportivo? Duas rodas ou três – ou quatro? Os novos modelos da indústria de bicicletas respondem a todos os desejos. Relativamente à infraestrutura das cidades, tornou-se um símbolo da last-mile, apontando o caminho para um futuro sustentável.

Neofencing

As novas aplicações ecológicas irão melhorar significativamente a sustentabilidade e a segurança nas cidades e regiões. Os carros serão elétricos, os transportes públicos podem formar novas parcerias e a indústria da micro-mobilidade está, finalmente, a recompor-se. Neofencing – a próxima dimensão sustentável do geofencing – abre uma infinidade de opções de mobilidade para as cidades.

Redefinição automotiva

A indústria automóvel está a atravessar uma transformação radical, e o seu espectro de tópicos e desafios futuros é extremamente grande: a interligação de veículos, pessoas e infraestruturas, produtos autónomos e serviços de mobilidade, partilhando modelos desde scooters a camiões ​​e – por último, mas não menos importante – eletrificação irreversível baseada em baterias e motores a hidrogénio. Tudo isto num momento em que os políticos não estão incondicionalmente comprometidos com os valores da indústria automóvel. A indústria precisa de se reinventar – e os novos players necessários para tal já se estão a posicionar.

E-Volução

A política prevaleceu. O que a indústria automóvel temia, aconteceu: os carros a diesel e os motores a gasolina passarão, brevemente, a pertencer ao passado, assim como os motores híbridos. O futuro é elétrico e a mobilidade mais limpa e saudável. Os países escandinavos são pioneiros nesta transformação; Fabricantes de automóveis como General Motors, Volvo e Jaguar, mas também prestadores de serviços como a Uber, continuam a impulsionar a tendência. Quanto mais a indústria automóvel precisa de cada modelo elétrico para responder às regulamentações ambientais, mais claro fica que o futuro da mobilidade será neutro para o clima.

Mobilidade no feminino

A ‘lacuna de mobilidade de género’ que surgiu na década de 1950 ainda determina a mobilidade de homens e mulheres. Especialmente nas cidades, a mobilidade no século XXI ainda significa, muitas vezes, mobilidade por homens e para homens. Mas os tempos estão a mudar e cada vez mais mulheres se tornam designers de uma mobilidade holística que se concentra na integração, sustentabilidade e um espaço público genuíno. O foco nos padrões de mobilidade feminina deixa claro que essa mudança requer, acima de tudo, conceitos pragmáticos que facilitem o dia a dia das mulheres. As mulheres pioneiras da indústria da mobilidade apontam o caminho – em direção a uma mobilidade voltada para o futuro.

Opinião de Marc Amblard

A mobilidade aérea avançada prepara-se para descolar

Opinião de Marc Amblard

A mobilidade terrestre está a experimentar uma profunda transformação, impulsionada por tendências distintas mas convergentes, que incluem a eletrificação, o software/Inteligência Artificial, as plataformas de mobilidade partilhada e a condução autónoma. Uma transformação paralela está a impactar a mobilidade aérea, não apenas através do aproveitamento de tecnologias fundamentais similares, mas também pelo desenvolvimento de arquiteturas e sistemas de propulsão inovadores. Várias empresas, apoiadas por financiamento massivo, estão a desenvolver aviões com vários formatos, grupos propulsores, alcances operacionais e tipos de utilização, bem como as infraestruturas terrestres correspondentes. A mobilidade aérea avançada prepara-se para descolar.

Estes novos modos apontam principalmente à mobilidade urbana, em particular em áreas metropolitanas grandes e congestionadas, como nos percursos através de Los Angeles ou entre São Francisco e Palo Alto (onde habito), uma viagem de 10 minutos pelo céu face a 90 minutos ou mais para percorrer 50 quilómetros na estrada, quando o tráfego é denso. Outros mercados-alvo serão a mobilidade regional, o transporte médico urgente, o turismo e o transporte de carga.

Caminhos disruptivos para a mobilidade aérea face à mobilidade terrestre

Alguns dos problemas que a mobilidade terrestre e aérea do futuro estão a resolver são idênticos, como a congestão das estradas, o aquecimento global e a reduzida utilização dos ativos. No entanto, o acesso equitativo à mobilidade será exclusivamente abordado pelo primeiro dos dois tipos de mobilidade, num futuro previsível. Como referência, a Archer, uma das principais empresas de mobilidade aérea avançada, anunciou um objetivo de 3,30 dólares por passageiro-milha com o seu veículo de quatro lugares – apesar de não ter especificado um período de tempo ou modo de operação – que é comparável aos 2-3 dólares por veículo-milha para um serviço como o oferecido pela Uber.

Enquanto que a nova mobilidade terrestre está a utilizar essencialmente as mesmas arquiteturas do passado e continuará a operar na mesma infraestrutura, a mobilidade aérea avançada introduzirá arquiteturas muito mais transformadoras – por exemplo, a Lilium e a Vertical Aerospace – e aproveitará a maior parte do espaço aéreo urbano de baixa altitude, ainda não explorado.

Contudo, a mobilidade aérea e terrestre estão a experimentar outros fenómenos similiares. Em particular, a condução autónoma e a mobilidade aérea urbana enfrentam ainda importantes obstáculos de certificação e legislação antes de podermos esperar um arranque significativo. Ambos também enfrentam desafios técnicos para garantir níveis de segurança suficientes e permitir um escalamento acelerado.

eVTOL ou (e)STOL

O amplo desenvolvimento dos drones, nos últimos anos, provocou o aparecimento de aviões de descolagem e aterragem vertical (VTOL – Vertical Takeoff and Landing), capazes de transportar passageiros ou grandes cargas. São utilizados vários formatos, incluindo aviões com asas fixas, asas basculantes ou rotores basculantes, assim como carros voadores (não abrangidos por este artigo). Estas diferentes configurações terão um impacto significativo na segurança de voo, obstáculos junto dos organismos de certificação. Um denominador comum é o maior número de hélices de propulsão direta para proporcionar redundância e minimizar a contaminação acústica nas descolagens urbanas.

A capacidade dos produtos apresentados até à data varia entre 2 (por exemplo, o Volocopter) e 7 lugares para os mais pequenos. A Kelekona e a GKN Aerospace (conceito SkyBus) também apresentaram conceitos VTOL maiores, com uma capacidade de 30 a 50 passageiros; o primeiro também poderia ser adaptado para o transporte de 5 toneladas de carga. No outro extremo do espectro encontra-se a interessante FlyBoard de um só ‘passageiro’, a jato, da Zapata Industries.

Entre as empresas VTOL mais maduras, apenas uma, a Wisk, está focada exclusivamente nos voos autónomos, sem piloto a bordo. Contudo, as empresas acima referidas têm certamente este modo de voo nos seus planos, já que este terá um impacto significativo no custo (ausência do piloto) e nas receitas (mais um assento para vender). Por exemplo, a Archer planeia obter a aprovação da FAA [Administração Federal de Aviação dos EUA] por volta de 2028 para operar sem piloto a bordo.

Também está a ocorrer uma disrupção significativa nos aviões que descolam e aterram horizontalmente. Nalguns casos, os produtos vão requerer uma pista de descolagem e aterragem muito mais curta (STOL – Short Takeoff and Landing) do que os aviões convencionais. Por exemplo, o STOL da Electra apenas necessitará de uma pista de 30 metros. Adicionalmente, estão a ser introduzidas novas arquiteturas e soluções de propulsão mais limpas.

Mobilidade aérea avançada a bateria, híbrida ou a pilha de combustível

A eliminação de emissões está no centro da transformação da mobilidade e do transporte em todos os modos. A eletrificação é a solução sempre que a eletricidade seja produzida, em grande medida, a partir de fontes de energia renováveis. Caso contrário, maior acesso à mobilidade aérea traduzir-se-á numa maior quantidade de milhas por assento e uma intensidade de carbono potencialmente alta.

No entanto, a tecnologia das baterias é atualmente um fator limitativo para o alcance das aeronaves, já que oferecem uma densidade de energia (Wh/kg) muito menor do que os combustíveis fósseis ou o hidrogénio.

Consequentemente os aviões em desenvolvimento optam por uma solução elétrica a bateria, um sistema de propulsão híbrido (com um turbogerador e um motor de combustão interna) ou uma solução elétrica a pilha de combustível, de acordo com o alcance pretendido. A primeira opção é adequada para distâncias mais curtas e utiliza-se em VTOL elétricos – ou eVTOL – com uma autonomia anunciada de 250 a 300 quilómetros – ou até de 450 quilómetros, no caso do Alia da Beta.

Soluções híbridas e pilhas de combustível são usadas normalmente em STOL ou aeronaves com características de descolagem e aterragem regulares. Por exemplo, o STOL Electra de 8 lugares oferecerá 800 quilómetros de autonomia. A Ampaire está a trabalhar no sentido de construir aviões totalmente elétricos. Contudo, a startup está a começar por adaptar a veículos regionais a turbohélice já existentes um grupo propulsor híbrido que proporciona economias de combustível, emissões e manutenção. A startup estima que será necessária uma densidade de energia de 450-500 Wh/kg a nível do pack de baterias (contra ≈165 Wh/kg para o Tesla Model 3, o melhor da classe na atualidade) para que os aviões elétricos sejam viáveis. No campo das pilhas de combustível, a ZeroAvia anuncia 800 quilómetros para o seu futuro avião de 20 lugares movido a hidrogénio.

Abordagem ecossistémica e as necessárias parcerias público-privadas

Os eVTOL e STOL necessitarão de acesso personalizado às áreas urbanas. Os chamados verti-ports serão instalações dedicadas ou terraços adaptados. Vão ser necessárias parcerias com imobiliárias, empresas de carga e de mobilidade terrestre para que a mobilidade aérea urbana seja viável.

É provável que esta infraestrutura seja eventualmente partilhada entre os operadores, da mesma forma que os aeropertos são independentes dos operadores na atualidade, apesar de que uma rede patenteada de ‘vertiportos’ possa brindar o pioneiro com uma vantagem competitiva. Para este fim, a startup de eVTOL Volocopter criou a Skyports, uma entidade dedicada à infraestrutura terrestre na qual investiram a Aéroports de Paris e a Deutsche Bahn.

As parcerias público-privadas são fundamentais para tornar realidade a mobilidade aérea avançada, especialmente em ambientes urbanos. Os temas em questão incluem a construção de plataformas de aterragem, licenças de operação, atualização da rede (altas necessidades de kW) e regulamentação a respeito da contaminação acústica, uma característica chave para os fabricantes de equipamentos. Também será relevante para o setor público a contribuição deste novo modo para a mobilidade equitativa, que será um desafio, considerando a estrutura de custos inerente mais alta do que no caso da mobilidade terrestre.

Investimentos significativos e valorações massivas

As empresas emergentes nesta área angariaram mihares de milhões. As mais maduras abriram o seu capital recentemente (ou anunciaram planos nesse sentido), principalmente através da reversão de fusões com SPAC [Special-purpose Acquisition Company]. Este é o caso da Joby (SPAC com uma valoração de 6,6 mil milhões de dólares), da Archer (SPAC, 3,8 mil milhões), da Lilium (SPAC, 3,3 mil milhões), da Vertical Aerospace (SPAC, 2,2 mil milhões) ou da Eve Urban Air Mobility da Embraer (SPAC, 2 mil milhões de dólares). Algumas destas geraram mais de mil milhões de dólares no processo.

Outras mantiveram-se privadas, ao mesmo tempo que atingiram o estatuto de ‘unicórnio’ (valoração superior a mil milhões de dólares), como a Beta Technologies e, provavelmente, a Volocopter, uma vez que angariou 370 milhões até à data.

Este capital será muito importantes para finalizar designs, efetuar testes, obter as certificações necessárias e implementar e escalar progressivamente o negócio, o que não ocorrerá antes de 2024 para as empresas mais avançadas. Cumpre assinalar que algumas já receberam encomendas. A Archer reservou 200 unidades para a United Airlines, por um valor reportado de mil milhões de dólares. A Vertical Aerospace, com sede no Reino Unido, tem mil unidades pré-encomendadas e opções reservadas pela American Airlines, pela Virgin Atlantic e por uma companhia de leasing, para o seu avião de 5 lugares. E a Eve Urban Air da Embraer tem até 50 unidades reservadas por um operador brasileiro de helicópteros.

O que estão os fabricantes de aeronaves tradicionais a fazer?

A Airbus tem sido provavelmente o fabricante mais ativo neste campo, com o objetivo de se revolucionar a si própria. As iniciativas visíveis incluem o Vahana para um só passageiro e o CityAirbus de 4 lugares, que foi submetido ao primeiro voo de teste no ano passado. O concept Pop.Up, apresentado em 2017, promete uma transição fácil ente mobilidade terrestre e aérea.

A Boeing criou a NeXt, uma subsidiária dedicada à mobilidade aérea avançada, mas encerrou a unidade em 2020 devido a dificuldades financeiras. O gigante de Seattle também se associou à Wisk, uma das principais empresas emergentes de eVTOL, assim como à Kitty Hawk, uma empresa semiautónoma de eVTOL apoiada por Larry Page. A Bell apresentou o concept eVTOL Nexus no CES, em 2019 e 2020. Por último, a Eve Urban Air Mobility, propriedade da Embraer, está a trabalhar num eVTOL.

Os fabricantes de transportes terrestres também estão envolvidos

Alguns fabricantes de veículos ligeiros vêm a mobilidade aérea avançada como um conjunto de modos potenciais em que eventualmente poderão participar, como complemento aos seus modos terrestres.

A Hyundai foi provavelmente aquele que expressou mais planos para passar à terceira dimensão. O fabricante coreano revelou o seu concept eVTOL no CES 2020 e, recentemente, anunciou planos para investir perto de 1,5 mil milhões de dólares na mobilidade aérea urbana até 2025. No CES 2021, a GM apresentou o seu próprio conceito de eVTOL, um pequeno avião de 2 lugares.

A Daimler associou-se à empresa alemã de eVTOL Volocopter, na qual o fabricante investiu pela primeira vez em 2017. O acionista da Daimler e fabricante chinês Geely também investiu e associou-se à Volocopter com o objetivo de introduzir a mobilidade aérea urbana na China. De forma similar, a Toyota investiu 350 milhões de doláres na Joby, sediada em Silicon Valley, e a Stellantis participou na recente ronda de investimento da Archer, com quem ainda firmou um acordo de colaboração relacionado com a cadeia de fornecimento e montagem.

Quando poderemos experimentar a mobilidade aérea avançada?

Quando é que estes novos serviços estarão a operar? Isto dependerá não apenas da maturidade técnica, mas também da certificação, que será específica mediante a geografia. A Lilium tem como objetivo o lançameento das suas operações comerciais em 2024. A Archer pretende introduzir a mobilidade aérea urbana em Los Angeles no mesmo ano. A Hyundai refere 2025 para o seu lançamento. Para a Joby, 2024 será a data de certificação da sua aeronave. Em geral, as operações começarão com poucos ‘vertiportos’/terraços e rotas selecionadas, que proporcionarão conhecimentos que se poderão depois ser utilizados para melhorar tanto as aeronaves como as operações, antes do serviço ‘descolar’. São tempos emocionantes!

Menos carros: cidades mais saudáveis e com melhor qualidade de vida

Menos carros: cidades mais saudáveis e com melhor qualidade de vida

Rui Igreja
Presidente da Direcção da MUBi – Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta

A utilização da bicicleta como alternativa às deslocações em automóvel nas cidades vem a crescer há vários anos por todo o mundo, principalmente nos locais que têm investido em criar as condições para que esta seja uma opção segura, prática e conveniente. 

Com a pandemia de Covid-19, e as pessoas a procurarem um modo de transporte saudável, económico e ao mesmo tempo amigo do ambiente, a procura pela utilização da bicicleta disparou. Muitas cidades e países europeus, logo no primeiro confinamento, lançaram ou aceleraram arrojados programas de investimento de apoio e estímulo ao modos activos e com objectivos de conter o regresso ao uso massivo do automóvel. Em Portugal, à excepção de Lisboa, e mesmo assim com grandes compromissos ao nível da qualidade e segurança das novas infraestruturas, os restantes municípios e o Governo ficaram essencialmente a olhar. E continuamos a perder uma oportunidade de transformar significativamente a forma como as pessoas se deslocam nas cidades portuguesas.

Nos planos de recuperação e resiliência, Itália destinou 600 milhões de euros para a construção de infraestruturas para bicicleta e Espanha 3 mil milhões de euros para medidas de apoio à mobilidade activa. O Governo português, ao invés de apostar nos modos activos e numa agenda de desenvolvimento urbano sustentável, optou por destinar mais de 700 milhões de euros para a construção de mais estradas, quando temos a segunda melhor rede rodoviária de toda a União Europeia.

As emissões do sector dos transportes em Portugal vêm a aumentar continuamente desde 2013, e este passou em 2019 a ser o sector com maior peso nas emissões do país. O transporte rodoviário é responsável por 95.4% destas emissões e também a principal causa da poluição do ar nas nossas cidades. Portugal é o segundo país da União Europeia que mais depende do automóvel individual, o segundo que menos utiliza os transportes públicos e um dos países onde menos se usa a bicicleta como modo de transporte. É, também, o segundo país da Europa onde os custos externos do transporte rodoviário representam maior fatia do PIB, 7.2%, 16.8 mil milhões de euros por ano.

É hoje reconhecido que a mudança da motorização dos veículos automóveis é largamente insuficiente para dar resposta aos compromissos e metas de acção climática desta década. Os carros eléctricos também não resolvem o problema da geração de materiais particulados (PM2.5 e PM10) nas cidades, altamente nocivos para a saúde humana e maioritariamente provenientes do desgaste de travões, pneus e do asfalto. Também não ajudam a mitigar outros problemas da sociedade, como a ineficiência do uso do espaço urbano e os
congestionamentos de tráfego nas cidades, com enormes custos económicos e sociais, ou os elevados níveis de sedentarismo associados à utilização excessiva do automóvel.

A transição para fontes energéticas mais limpas nos veículos automóveis tem de fazer parte de uma solução que carece ser muito mais alargada, e que requer uma gama abrangente de políticas públicas que conduzam a uma significativa redução do número de automóveis em circulação e da sua utilização, principalmente nas zonas urbanas. 

As cidades portuguesas terão de levar a cabo nesta década uma profunda mudança nas políticas urbanísticas e de mobilidade, priorizando a qualidade de permanência e uso do espaço público, o urbanismo de proximidade e as deslocações a pé e em bicicleta, o transporte público e os sistemas de mobilidade partilhada, em detrimento da utilização do automóvel individual. Com o propósito de ajudar nessa transformação, a MUBi lançou no dia 3 de Junho, Dia Mundial da Bicicleta, o Manifesto “Cidades Vivas: 10 medidas para devolver as cidades às pessoas” (https://cidadesvivas.mubi.pt/). O Manifesto estabelece a visão de cidades mais saudáveis, seguras, resilientes e sustentáveis, que põem a mobilidade activa no topo da pirâmide da mobilidade, e propõe os passos prioritários para alcançar esse objectivo.

A integração das políticas de mobilidade com o planeamento do uso dos solos deve promover a redução das desigualdades sociais e territoriais, ampliando o acesso a actividades e oportunidades de modo seguro e sustentável. Em simultâneo com medidas de desincentivo ao uso do automóvel nas cidades, é essencial e prioritário reduzir as velocidades motorizadas, redesenhar o espaço público por forma a garantir a segurança e conforto de todos, redistribuir espaço do automóvel para os modos mais saudáveis e sustentáveis e que os investimentos em transportes públicos sejam acompanhados pela promoção da sua complementaridade com os modos activos. 

Rui Igreja é presidente da Direcção da MUBi – Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta, onde também coordena os trabalhos de âmbito nacional, nomeadamente ao nível de contactos, propostas e recomendações que a MUBi faz junto dos decisores políticos e organismos do Estado.

O autor não escreve segundo as normas do Acordo Ortográfico de 1990

Vamos falar de Mobilidade como um Serviço (MaaS)?

Vamos falar de Mobilidade como um Serviço (MaaS)?

Opinião de José Carlos Pereira

Já todos ouvimos dizer que o software vai engolir o mundo e as empresas. E não é de hoje! Julgo que ouvi esta frase pela primeira vez em 2012 (“software is eating the world” – Marc Andreessen, 2011). Depois evoluiu para “software is eating the world, but services are eating software”. Não está realmente fácil!

Daí que hoje o termo SaaS faça parte da nossa utilização diária. ‘SaaS’ é a sigla para ‘Software as a Service‘, e a maioria dos softwares estão neste modelo. Mais uns tempos e vamos ouvir que a Inteligência Artificial (IA) vai comer o software. Estejam atentos! E se neste breve artigo de opinião eu vos falar um pouco de MaaS Mobilitiy as a Service, conseguem dar-me dois minutos de atenção? Vamos a isto!

Mobilidade como um Serviço, que tema tão ‘cool‘ e ‘trendy‘ que trago aqui para o GreenFuture. O editor é exigente e coloca pressão nos autores para que estejam na vanguarda da mobilidade verde. E, como sabemos, é sobre forte pressão que nascem os diamantes…

A MaaS pode ser caracterizada como um transporte dependente da procura, como por exemplo de partilha de veículos, mas é muito mais do que isso. Será bem mais um sistema de procura, reserva e pagamento (quase um ecossistema vivo e inteligente de oferta de transportes) que combina, de forma otimizada, vários transportes públicos e outros serviços de viagem em resposta às necessidades de cada um (pessoa local ou em trânsito). 

Surge então como uma forma de interligar e interconectar (pessoas, municípios ou regiões) toda a oferta de mobilidade numa plataforma orientada para uma solução, aparentemente simples, mas operacionalmente complexa. O fenómeno será poupar tempo e dinheiro ao utilizador, aumentando a interoperabilidade num único serviço, além de promover a suavização do impacto ambiental da mobilidade urbana e regional, conjugando as operações de fornecedores de serviços de transporte de natureza pública e privada.

Quando me desloco, sendo utilizador/consumidor, só tenho um desejo: deslocar-me do ponto A para o ponto B, tirando partido da melhor solução para o meu caso específico (customer centric e personalização da resolução do meu problema). E este futuro não está assim tão longe – seja num formato de passe universal ou de serviços de transporte multimodal, dispensando, no limite, a utilização do veículo próprio.

Como exemplo, partilho o caso japonês que já está a ‘dar cartas’. Em 2019, o governo japonês começou a pensar a sério em políticas num formato MaaS. A necessidade estava na partilha de dados para construir regras e plataformas MaaS padronizadas. O objetivo seria implementar serviços de mobilidade eficientes (e eficazes), que conectassem uma variedade de modos de mobilidade e dados de infraestrutura, com modelos de pagamento sem dinheiro e assinaturas. Incluindo veículos equipados com IA para transporte adaptado às oscilações da procura, veículos elétricos de pequena mobilidade e serviços de mobilidade com condução autónoma. Muito à frente, mas em curso!

O maior desafio passa mesmo pela definição de um modelo tecnológico e de negócio que permita fazer parte de uma iniciativa maior de mobilidade e muito orientada para o utilizador, digitalizando a mobilidade, as cidades e as regiões com foco nos seus pontos de ligação e operação.

Será certamente uma plataforma tecnológica que suportará um futuro mais inteligente e justo para as cidades, como mais uma peça fulcral para o ecossistema da mobilidade. O futuro passa por um robusto roadmap que nos consiga aproximar do sonho da MaaS. Seja essa gestão pública, privada ou mista. Dois bons casos, que recomendo a seguir atentamente, são as portuguesas Ubirider e Ubiwhere (pick.ubirider.com e ubiwhere.com).