Há um ano, o Energy Observer – o primeiro catamarã movido a hidrogénio do mundo – iniciou a sua viagem de Saint Malo, no norte da Bretanha, França, para atravessar os oceanos do planeta e provar que a descarbonização do setor marítimo é possível, com energia solar, eólica, energia das marés e hidrogénio.
O objetivo do Energy Observer é reduzir as emissões de carbono do transporte marítimo, promovendo a utilização de energias renováveis. Para este fim, Victorien Erussard, oficial da marinha mercante e participante em corridas náuticas de renome, transformou um velho barco de competição num barco “virtuoso”.
O Energy Observer está atualmente na Califórnia, na costa oeste dos Estados unidos. A escolha deste estado como destino não aconteceu por acaso: é o único estado americano a ter uma rede de mais de 40 estações de carregamento de hidrogénio, principalmente entre San Diego e São Francisco, e mesmo em zonas mais remotas, como o Lago Tahoe. O estado tem como objetivo alcançar 200 estações até 2022. Lorène Blottière, responsável pelas comunicações do barco, diz que este destino é importante para “encontrar os atores das mudanças que defendemos: a Califórnia tem uma política proativa de utilização de energias renováveis e existe também uma autoestrada de hidrogénio, com numerosas estações ao longo da costa”.
O barco pode gerar o seu próprio hidrogénio, devido aos seus mais de 200 metros quadrados de painéis solares, alguns dos quais são de dupla face para captar a radiação da luz que reflete da superfície do mar; o Energy Observer está também equipado com um sistema de osmose inversa desenvolvido pelo fabricante japonês de automóveis Toyota.
Embora o hidrogénio possa não ser a solução mais simples para veículos de passageiros, para aplicações como a aviação e o transporte marítimo, tem a vantagem da leveza. No caso do Energy Observer, o sistema de pilha de combustível reduz o peso total do barco em 14 toneladas, e, portanto, o seu consumo de energia. Na maioria das vezes, os painéis solares são utilizados para alimentar tudo a bordo do barco, mas quando está atracado, o excesso de energia é utilizado para produzir hidrogénio.
O barco absorve água do mar que purifica e depois eletrolisa, separando os elementos da água em oxigénio puro e hidrogénio. O hidrogénio é então armazenado em oito tanques de células de combustível, com capacidade suficiente para seis dias.
O Energy Observer pode também aproveitar as brisas do oceano para ativar as suas asas de propulsão vertical localizadas nas laterais do barco que atuam como velas, mas também podem gerar energia.
Marin Jarry, segundo no comando do barco, refere que apenas 20% da energia usada é hidrogénio, “no geral, utilizamos 40% solar e 40% eólica”.
Apesar das credenciais limpas do barco, a viagem planeada de quatro anos, iniciada em março de 2020, não tem sido isenta de desafios. No momento em que a equipa do barco se preparava para zarpar, a COVID-19 começou a espalhar-se pelo mundo. A pandemia alterou os planos de navegação do barco, mas não se tratava de abandonar a missão Energy Observer pelo caminho: “Partimos alguns dias antes do início da contenção. Como já não podíamos parar nos portos que iriam servir de escala, a nossa travessia transatlântica transformou-se numa odisseia de 47 dias no mar, e tudo isto sob vela”, disse Jarry.
A próxima paragem para o Energy Observer será no Havai, antes de rumar ao Japão para os Jogos Olímpicos. O barco completará a sua viagem à volta do mundo em três anos, após ter visitado cerca de cinquenta países e espera acelerar a transição energética no transporte.