Nesta mais recente entrevista, o Green Future AutoMagazine foi conhecer a opinião e visão de Cecília Anacoreta Correia, Porta-Voz do CDS-PP e saber a estratégia do partido para as questões ambientais.
Enquanto porta-voz do CDS-PP, considera que tem um papel acrescido na hora de sensibilizar o Outro para as questões ambientais e matéria de sustentabilidade, enquanto uma das soluções para o futuro do planeta? Como é que tem usado a sua voz neste sentido?
Como porta-voz tenho um papel de representação do CDS-PP junto da comunicação social, para com isso procurar transmitir adequadamente os nossos valores e as nossas posições aos portugueses.
Entre os valores que o CDS-PP representa está, sem equívocos, a defesa dos valores ambientais. Da própria matriz humanista do CDS-PP decorre o empenho em torno da conservação da Natureza e a defesa de um paradigma de sustentabilidade da vida do Homem em harmonia com os ecossistemas e com a sua própria natureza. É preciso cuidar bem da nossa “casa comum” na perspetiva de que ela será a casa dos nossos filhos, netos e bisnetos. Tal como é preciso cuidar de nós mesmos, como partes integrantes de um todo.
A utilização de recursos naturais tem sido um desafio, na medida em que Portugal já esgotou os seus disponíveis para este ano. Para o CDS-PP, como é que Portugal pode gerir de forma mais sustentável e eficiente os seus recursos naturais?
A supremacia dos interesses individuais de cada um – numa lógica puramente liberal da sociedade – pode conduzir à “tragédia dos bens comuns”. A defesa dos interesses das comunidades implica condicionalismos à exploração e consumo dos recursos. Neste âmbito, o CDS-PP tem sido uma voz muito forte contra a exploração desenfreada do Lítio, que outros querem fazer no alto Minho contra a voz das populações locais, por exemplo.
Além disso, é preciso caminhar para uma sociedade que, mantendo o nível de conforto (e não voltando a viver sem transporte aéreo, como há dias vi sugerido, ou sem casas aquecidas), seja capaz de consumir menos e consumir de forma mais sustentável. Isso é possível com ganhos de eficiência e através de recursos renováveis. Um exemplo disso é a busca de eficiência energética e a produção de energia renovável. A defesa dos nossos recursos naturais é possível também através de uma política de transportes verde. Ou pela via da substituição do uso do plástico por fibra ou outros produtos naturais.
No dia Mundial do ambiente, que se comemorou no passado 5 de Junho, alertámos para o facto de os nossos pescadores e agricultores serem “os mais antigos cuidadores do ambiente”. Num país ainda muito estruturado em minifúndios, a agricultura e o mundo rural português são um trunfo que nos destaca ambientalmente a nível europeu. Para defesa dos nossos recursos naturais, o CDS defende também a promoção de políticas públicas que potenciem as valências de quem vive em contacto com a Natureza e tem um conhecimento secular acumulado. Os Agricultores devem ser incentivados a usar a floresta de forma sustentável, de modo a diminuir a probabilidade dos incêndios. Os Pastores e os Caçadores devem ter um papel ativo na preservação e cuidado das espécies autóctones. No CDS confiamos nas estruturas locais e entendemos que todos devem agir em rede, como parceiros, articulados pelos poderes públicos, que nunca deve ter a pretensão de os substituir, muito menos de os combater, como sucede quando se impõem exigências incumpríveis e se é muito lesto na aplicação de multas.
Para o CDS-PP em que é que a estratégia de descarbonização nacional se deve centrar, no sentido de conseguirmos atingir a neutralidade carbónica nos prazos estabelecidos, ou ainda antes de 2050?
O objetivo em torno de atingir a neutralidade carbónica, previsto no Acordo de Paris, ou ainda antes disso, como aponta o Green Deal, é amplamente consensual. A questão está, sobretudo, em como alcançá-lo. Ou melhor, a que custo. Nesse âmbito, o Estado tem de ser capaz de canalizar os fundos públicos para projetos que, envolvendo os privados, protejam o interesse público. Não se pode cometer os erros do passado, esbanjando recursos públicos. Se analisarmos o Plano de Recuperação e Resiliência, constatamos que Portugal pretende ainda assim destinar mais de 700 milhões de euros para a construção de estradas.
Ora, as emissões de carbono para a atmosfera provenientes do sector dos transportes aumentam em Portugal desde o início do século e o transporte rodoviário representa mais de 95% destas emissões. Somos muito dependentes da viatura automóvel e isso é fruto de décadas de desinvestimos no transporte ferroviário.
Apesar de os cidadãos já terem despertado para a necessidade de proteger o ambiente, ainda há muito a fazer para que a sociedade na sua totalidade esteja envolvida neste compromisso. Por exemplo, que medidas de sensibilização e educação o CDS-PP considera que devam ser aplicadas para que a reciclagem seja uma iniciativa tida por todos?
O envolvimento da Sociedade exige políticas públicas indutoras de boas práticas ao nível da reciclagem, da melhoria da gestão dos resíduos e da redução da deposição de aterros. A sensibilização e educação começa nas famílias e nas escolas dos nossos filhos. Mas passa também pela responsabilidade social das empresas, públicas e privadas. Porém, tudo isso não basta. É preciso que sejamos mais exigentes com a atividade de resíduos e que se ofereçam incentivos económicos para a qualificação das PME em torno do eco-design dos processos, dos produtos e, sobretudo das embalagens.
Como referido, é urgente apostar na substituição do uso do plástico por fibra ou outros produtos naturais.
Como é que o CDS-PP vê a transição dos portugueses para a mobilidade elétrica e suave? Considera que os incentivos são indispensáveis na ponderação? Se sim até quando? E até mesmo a nível de valores, considera que estão adequados à mudança que se pretende fazer?
Sabemos hoje que a mobilidade elétrica, em boa medida, vai impor-se. Tenho muitas dúvidas que se devam perpetuar incentivos fiscais à compra de carros elétricos, quando isso é hoje uma opção racional para os compradores e quando a atividade produtiva subjacente nem sequer tem grande expressão em Portugal. Acresce que Portugal é dos países da Europa que mais depende do automóvel individual e dos que menos utiliza os transportes coletivos e as bicicletas como modo de transporte. Por isso, mais do que incentivar a aquisição de viaturas individuais, o esforço público deverá estar concentrado nos transportes públicos e na criação de infraestruturas para que a utilização de bicicletas seja cómoda e eficiente nas cidades.
A aposta em sistemas de mobilidade partilhada, designadamente de bicicletas, e a sua integração nos passes das áreas metropolitanas deverá também ser uma prioridade. A mudança de viatura de combustão para viaturas elétricas nunca será suficiente para se atingir as metas europeias. As políticas públicas terão de assegurar as condições para que seja possível reduzir o número de automóveis particulares que circulam e tal só será possível com uma revolução nos transportes públicos. O que passa por uma aposta estrutural na ferrovia e pela criação de infraestruturas que permitam a compatibilizar o uso de bicicletas com a utilização de transportes públicos.
Os portugueses são dos europeus que mais usam os carros para deslocações. O que é que tem de ser feito para que Portugal integre a lista de países que mais utilizam os transportes coletivos ou meios de transporte suave como as bicicletas e trotinetes?
Num país que desinvestiu na ferrovia, que tem redes de Metro bastante exíguas e cuja qualidade dos transportes públicos rodoviários deixa muito a desejar, não se pode esperar resultados muito diferentes. Não nego que existam alguns elementos culturais que pesem, mas sabemos que os nossos jovens, sobretudo nas cidades dotadas de pistas adequadas, aderiram em força aos meios de transporte suave, como as bicicletas e as trotinetas. E para além da integração do uso das bicicletas nos passes das áreas metropolitanas, para que estas possam ter espaço nos comboios e demais transportes públicos, é preciso investir na ferrovia e no Metro, sempre que este se justifique.
Por exemplo, em Lisboa, o CDS-PP defendeu, há muito, o alargamento do Metro de Lisboa muito para lá dos limites do concelho, com 20 novas estações. Infelizmente a opção tem sido outra.
Entrando agora num dos temas que tem sido discutido ultimamente, qual é a posição do CDS-PP relativamente à utilização de hidrogénio enquanto fonte de energia alternativa?
O hidrogénio tem um papel a desempenhar na descarbonização na medida em que não é pensável uma eletrificação total da economia e aquele permite aproveitar os investimentos já realizados com os gasodutos existentes. Agora, dito isso, não se pode esbanjar recursos públicos alimentando tecnologias que ainda não estão maduras. Cujos custos e resultados reais são ainda, em grande medida, uma enorme incógnita. Não queremos que se repitam os erros que outros governos socialistas cometeram nas eólicas, por exemplo.
Somos um país pobre, que precisa de racionalidade económica para travar os devaneios socialistas de outros tempos, cuja fatura pesa todos os dias no bolso dos contribuintes e consumidores energéticos.
A crise climática é um tema que não deixa ninguém indiferente e está na ordem do dia pelas piores razões, isto é, o tempo está a esgotar-se nesta luta e não há planeta B. Quais são as estratégias de combate à crise climática do CDS-PP?
Queremos que se cuide bem da nossa “casa comum”. Tal implica a defesa dos nossos recursos naturais, o que envolve agricultores, pescadores, pastores, caçadores, indústrias e toda a sociedade em geral. Tal implica também a descarbonização da sociedade (mitigar e, sempre que possível, eliminar a produção de CO2), o que envolve os transportes, a indústria, a produção energética, os edifícios e também o uso da terra (a agricultura). Há muito por fazer e o segredo está na otimização dos recursos públicos e no adequado balanceamento dos valores em presença: a transição tem de ser justa, protegendo a requalificação dos profissionais, o emprego e a sustentabilidade das famílias.
Nesse aspeto os termos do próximo quadro da PAC que terá de ser aprovado no início de 2022 para entrar em vigor em 2023 será crucial. A manutenção de condições que permitam a valorização de ecossistemas mediterrâneos, como sejam o montado de sobro, são essenciais para o combate às alterações climáticas e a desertificação que foram já apontados como vetores essenciais da reforma da PAC.
O CDS tem uma grande tradição na defesa do mundo rural e está atento neste campo, sendo essencial que o Governo saiba defender formas de ocupação dos solos que sejam barreira a uma agricultura intensiva, porque esta assegura mais rendimentos a curto prazo mas prejudica a sustentabilidade quando analisada a longo prazo.
O consumo excessivo e desnecessário, quer seja de bens, de energia ou água, tem um impacto muito negativo no nosso planeta, pelo que a redução de consumo é um trabalho muito importante que deve ser feito por cada um de nós. O que é que o CDS propõe para que Portugal se distinga pela política de redução?
A palavra chave é eficiência, para não cairmos na “tragédia dos bens comuns”. Como disse, sem baixar o nível de conforto, temos de saber gastar melhor. O CDS-PP defende um compromisso mais efetivo com uma estratégia de promoção de uma economia circular assente na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia.
Como perspetiva o futuro de Portugal na conquista de um amanhã mais verde e sustentável?
Portugal, não sendo particularmente dotado de recursos naturais, tem no seu património ambiental um trunfo. As nossas praias virgens, a floresta, os parques e montanhas que podemos percorrer pelo país, do litoral ao interior e nas ilhas, assim como o mar, são ativos que o país tem de saber proteger. Adotando uma economia circular, esta geração pode deixar aos seus filhos um país preservado cuja atividade económica seja amiga do ambiente. Viver em sustentabilidade e também, com isso, atrair quem nos queira visitar faz parte da visão do CDS-PP para o futuro. O Turismo do ambiente é um produto forte que tem enorme potencial económico, do Continente às Ilhas dos açores e da Madeira.